segunda-feira, 31 de outubro de 2022

'O que virá pela frente?', por Luiz Carlos Nemetz

 

Encerrado o processo de escolha do novo presidente, embora ainda sob o calor dos acontecimentos, já podemos fazer algumas avaliações e mesmo autocríticas.

A eleição acabou. O processo político, não acabou!

Lula teve uma apertadíssima vitória eleitoral.

Conseguiu isso, com a ajuda luxuosa de uma mídia comprometida, parcial, indecentemente ideológica e que massacrou Bolsonaro como nunca antes vimos na história do nosso país.

Lula também teve ao seu lado o ativismo escancarado do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral que patrocinaram o maior conjunto de decisões parciais da nossa jurisprudência, impondo censura prévia, invertendo interpretações legais, legislando em matéria eleitoral e constitucional, criando teses absurdas, negando liberdade de imprensa num ativismo judiciário ideológico e partidário vergonhoso, sob o silêncio das instituições.

Para ficarmos em um só exemplo, o caso do "radiolão" apesar dos fortes indícios - que pode sim ter influenciado fortemente o resultado em favor de Lula - sequer foi investigado como deveria ter sido.

Em seu primeiro pronunciamento Lula se apresentou ao lado da sua camarilha. Uma rampeiragem que conhece o cheiro da creolina.

E ao invés de tentar pacificar a Nação, foi provocativo, aumentando a cizânia.

Da análise dialética do seu texto lido, se extrai rancor, ânimo de perseguição, de imposição das suas ideias ideológicas na marra e ofensas aos adversários, chamados na lata de fascistas.

Trata mais de 57 milhões de brasileiros como meras minorias.

Lula não mudou nada. Promete a ilusão da picanha fácil sobretudo para sua base de apoio popular com promessas de um paraíso  como se o maná caísse dos céus.

Não nos iludamos: Lula vai governar com sangue nos olhos e com a força de quem quer vingança. Vai encontrar um parlamento com forte formação ideológica de centro-direita, mas tem a seu lado o ativismo escancarado dos seus companheiros militantes ideológicos e partidários do STF.

Teremos dias difíceis pela frente, com o ressurgimento de ideais separatistas que são perigosas e expõe o Brasil a riscos reais de desobediências, greves, convulsões desnecessárias e indesejadas.

Sem habilidade, e nitidamente dirigido, Lula também jogou o Brasil contra o Nordeste, como se lá - e somente lá - estivessem os frutos do seu reino. Logo ele que nunca tratou aquela região com o mínimo de dignidade e investimentos do Estado.

Percebam, que o PT e Lula não criaram ao longo de décadas, nenhuma nova liderança. Ao lado do ex-presidiário não se sobressai ninguém.

Já Bolsonaro teve uma imensa vitória política.

Contra tudo e contra todos, fez uma expressiva votação com milhões de eleitores que constituem uma base sólida, atenta e participativa que não vai deixar as coisas baratas.

Criou e elegeu novas lideranças nos parlamentos estaduais, na Câmara Federal e no Senado da República.

Elegeu Governadores e venceu nos Estados mais importantes sob o ponto de vista econômico do Brasil. 

Esse é um diferencial importante entre essas duas lideranças, sendo que Bolsonaro tem um time com consistência ideológica clara, com firmeza e lealdade à raiz do liberalismo econômico e no conservadorismo de costumes.

Não vai ser fácil Lula governar. É um homem com seus 77 anos que na prática é um joguete de um grupo de malandros.

Porém, não podemos deixar de fazer uma autocritica às estratégias e táticas de Bolsonaro e sua equipe.

Uma delas foi a escolha do candidato a Vice. Um general, homem honrado e de bem. Mas que não agregou um voto à candidatura.

Não se erra numa escolha dessas...

Não se pode ir para baile de meretrizes vestido de freira.

A tática era de acordos com a administração de contrários e à agregação de votos.

A ausência de campanha estruturada e maciça no Nordeste foi outro erro tático.

As posturas do Presidente levavam sempre a crer que ele teria uma base de consistência institucional capaz de enfrentar o ativismo judiciário e a quebra do equilíbrio republicano entre os poderes.

Ou seja, Bolsonaro latiu, mas não mordeu!

Mourão e Braga Neto são provas disso.

As convocações de mobilizações também.

Mas na verdade, isso nunca existiu.

Bolsonaro deveria ter endurecido o jogo, dentro da Constituição e talvez usando uma jogada de peso, negando-se a participar do pleito nitidamente contaminado pela parcialidade de quem deveria dirigir e ante o ativismo vergonhoso do STF e da negativa do presidente do Senado de investigar as denúncias e os processos de impedimento dos ministros - sobretudo de Alexandre de Moraes - que é na verdade o verdadeiro imperador do Brasil contando com uma corte de lealdade composta de outros ministros que rasgaram a Constituição diversas e reiteradas vezes.

O cenário agora é de divisão.

E não existem no horizonte próximo, lideranças capazes de fazer o que é o mais necessário nesta hora em que todos pensam ter razão: a conciliação mínima para coexistência pacífica com a recolocação da ordem republicana nas instituições de Estado.

O Brasil é maior que qualquer abismo, é verdade.

Mas as nuvens que pairam sobre nosso país, neste momento, são de trovoadas.

Foto de Luiz Carlos Nemetz

Luiz Carlos Nemetz

Editorialista do Jornal da Cidade Online. Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz


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