segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Sete ministérios e órgãos escapam de tesourada em Orçamento de 2020

Apenas sete ministérios e órgãos do governo escaparam de uma tesourada nos recursos na proposta de Orçamento para 2020. Até mesmo áreas consideradas essenciais, como saúde, educação e infraestrutura, tiveram cortes em relação à dotação original de 2019, antes dos sucessivos bloqueios feitos para compensar a frustração nas receitas federais.
Em casos mais dramáticos, como no Ministério do Meio Ambiente – que está na berlinda por causa do aumento das queimadas na Amazônia –, a verba estimada para o ano que vem ficou abaixo até mesmo do orçamento contingenciado deste ano.
A abrangência dos cortes para o Orçamento de 2020 é resultado da situação de estrangulamento das despesas discricionárias, que incluem os gastos com luz, água, telefone, materiais e outras despesas para o custeio da máquina. Elas também englobam os investimentos, que devem desabar 29,3% e voltar ao patamar que estavam em 2003 como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).

Apagão
Vista da Esplanada dos Ministérios com luzes apagadas,
medida adotada para cortar gastos. 
Foto: Dida Sampaio/Estadão

As despesas discricionárias foram previstas em R$ 89,1 bilhões no ano que vem, pouco acima dos R$ 84,6 bilhões que estão efetivamente liberados para gastos em 2019 e que são insuficientes para garantir o funcionamento da máquina. Apenas com essa verba e sem desbloqueios no Orçamento deste ano, órgãos correm o risco de parar a partir deste mês.
Na situação atual, qualquer frustração de receita em 2020 que obrigue o governo a fazer novos bloqueios poderá impor um apagão ainda maior à administração pública.
teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação do ano anterior, foi ampliado em R$ 48,7 bilhões para o Poder Executivo em 2020. Mas só os gastos com Previdência aumentaram R$ 51,8 bilhões, já contabilizando a economia esperada com a aprovação da reforma. Com o rápido avanço de outras despesas obrigatórias, não restou alternativa ao governo se não cortar a verba discricionária dos ministérios.
Os órgãos poupados estão entre os que têm os menores orçamentos da Esplanada. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, que neste ano tem alardeado a falta de dinheiro para o pagamento de bolsas de pesquisa, foi um dos poucos a conseguir ampliação em relação à proposta orçamentária de 2019, de 7%. Foram reservados R$ 3,784 bilhões para a pasta.
Os mais atingidos pelas reduções são os ministérios do Turismo (-58,3%), Mulher, Família e Direitos Humanos (-41,5%), Minas e Energia (-30,4%) e Infraestrutura (-30,4%). O Ministério do Meio Ambiente, pressionado pelo aumento das queimadas na Amazônia, também teve um corte de 30,4% em relação ao Orçamento de 2019.
Às vésperas do envio do Orçamento, ministros encaminharam uma enxurrada de ofícios à equipe econômica reclamando da quantidade de recursos prevista e pedindo mais dinheiro. O maior contemplado foi o Ministério da Educação, que tinha um limite inicial de R$ 16 bilhões previsto para 2020, mas conseguiu ampliar sua dotação para R$ 21,2 bilhões. Mesmo assim, o ministro Abraham Weintraub terá um orçamento 9% menor que o destinado à pasta originalmente em 2019, antes dos bloqueios por falta de receitas.
Para tentar desafogar alguns gastos em 2020, a equipe econômica trabalha em medidas que possam frear o avanço das despesas obrigatórias e abrir espaço para bancar o custeio da administração. Como antecipou o Estadão/Broadcast, o governo pretende acabar com a multa adicional de 10% sobre o FGTS em demissões sem justa causa. Esse recurso ingressa nos cofres públicos, mas é repassado à administração do fundo, o que consome espaço dentro do teto de gastos. No ano passado, R$ 5,4 bilhões foram pagos pelas empresas por conta da multa adicional.
Outra medida em estudo é o adiamento das progressões dos servidores civis nas carreiras do Executivo federal, que poderia poupar R$ 2 bilhões dos R$ 12 bilhões de aumento previsto nos gastos com pessoal. A despesa com a folha também vai subir porque a equipe econômica incluiu um gasto adicional de R$ 4,7 bilhões para bancar aumentos aos militares – única carreira contemplada com reajustes salariais no Orçamento de 2020. O Congresso, no entanto, ainda pode barrar a medida e, assim, abrir mais espaço para desafogar os ministérios.
O governo ainda avalia a suspensão de novas contratações do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Na sexta-feira, 30, durante a apresentação do Orçamento, o secretário especial adjunto de Fazenda, Esteves Colnago, disse apenas que o governo honrará o compromisso com contratos em andamento, sem fazer menção a novas contratações.

Outra frente de ação é o remanejamento de algumas despesas, como as relacionadas à qualificação, para que sejam bancadas com os recursos do Sistema S. Essa medida, também antecipada pelo Estadão/Broadcast, já foi confirmada na última sexta-feira.

Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes, O Estado de S.Paulo