quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Emílio e Marcelo Odebrecht assinam acordo de delação na Lava-Jato




Marcelo Odebrecht, delator da Lava-Jato - Geraldo Bubniak / Agência O Globo


 
Cleide Carvalho - O Globo


O empresário Emílio Odebrecht e seu filho, Marcelo Odebrecht, assinaram acordo de delação premiada e o acordo de leniência da empresa. Emílio assinou o acordo na Procuradoria Geral da República em Brasília. Marcelo, em Curitiba, onde está preso desde junho de 2015. Maior empreiteira do país, a empresa se comprometeu a pagar US$ 2,5 bilhões - R$ 8,6 bilhões na cotação do dólar de hoje - a título de indenização por ter se envolvido em atos de corrupção. No fim da tarde desta quinta-feira, o grupo divulgou nota na qual admite o erro, pede desculpas e diz que está comprometido a "virar a página".

Marcelo Odebrecht, terceira geração da família a conduzir o grupo Odebrecht, fundado por seu avô, Norberto Odebrecht, deverá permanecer preso até o fim de 2017, totalizando dois anos e meio de prisão. A partir de então, cumprirá prisão domiciliar, regime semiaberto e aberto. No total, serão 10 anos de pena acordada.

Um dos alvos principais da Lava-Jato, por sua proximidade com o governo durante a gestão do PT, a empresa informou que a partir de agora vai combater e não vai tolerar qualquer forma de corrupção, incluindo extorsão e suborno.

O envolvimento no maior escândalo de corrupção do país, iniciado com as investigações em torno da Petrobras, criou dificuldades para o caixa da empresa. Em comunicado divulgado nesta quinta, a empresa informou que vai vender mais R$ 7 bilhões em ativos até meados de 2017 para reestruturar suas dívidas. Até agora já foram vendidos R$ 5 bilhões em ativos do grupo. Ao final do período, a empresa terá cumprido seu plano de reestruturação, que é o de se desfazer de R$ 12 bilhões em ativos para garantir liquidez financeira. O aporte financeiro na empresa alcança R$ 4 bilhões e a capitalização inclui ainda integralização de ativos de energia renovável (R$ 2 bilhões).

Ao se desfazer dos negócios, o grupo reduz sua dívida inicial de R$ 76 bilhões, pois as empresas vendidas levam junto suas próprias dívidas.

A reestruturação inclui também negócios no exterior. Em junho passado, a Odebrecht Latinvest vendeu o controle acionário da concessão rodoviária Rutas de Lima, no Peru, trasnsferindo 57% do negócio para a Brookfield. A Odebrecht Latinvest passou a ter 25% das ações do consórcio e a Sigma permaneceu com 18%. Vendeu também 100% da Concessionaria Trasvase Olmos (CTO) e H2Olmos S.A., concessões vinculadas ao Projeto Olmos de irrigação no Peru.

O Grupo Odebrecht ainda busca compradores para uma usina hidrelétrica e um gasoduto no Peru, e negocia a venda de participação em um bloco de petróleo em Angola, por exemplo.

Apesar das dificuldades da conjuntura, a receita bruta da Odebrecht S.A atingiu R$ 126,6 bilhões e o Ebitda chegou a R$ 23,1 bilhões em Junho/16 (últimos doze meses). A receita das operações fora do Brasil representou 58% dos ingressos totais demonstrando a importante presença do Grupo no exterior, reflexo dos resultados obtidos fora do Brasil.

Em abril de 2016 a Braskem colocou em operação o complexo petroquímico Etileno XXI, no México. Trata-se do maior complexo petroquímico da América Latina, que utiliza gás natural como matéria prima, cujo fornecimento é assegurado por contrato de 20 anos com a Pemex (estatal mexicana de petróleo e gás).

Desde 2015 a Odebrecht Engenharia & Construção conquistou importantes contratos para execução de obras como a Rodovia 836, na Flórida (EUA), a Linha 2 do Metrô da Cidade do Panamá, a primeira linha metroviária de Quito (Equador), a reurbanização da cidade de Colón (também no Panamá), a Linha de Transmissão de Energia Laúca e a Base Naval, ambas em Angola.

“Estamos passando por um processo de revisão da forma de nos organizar, de conceitos, de políticas e diretrizes. Já vivemos outras crises no passado, que resultaram na revisão das nossas áreas de atuação. Certamente, após concluída esta etapa atual, virada esta página, estaremos preparados para enfrentar os desafios do futuro”, diz Newton de Souza, diretor-presidente da Odebrecht S.A.

Em junho passado, 58% da receita do grupo vieram de negócios fora do Brasil.