As eleições municipais deste domingo devem confirmar o declínio dos candidatos de esquerda, em especial os do PT, nas cidades mais importantes do país. Os motivos são óbvios e estão capitulados nas (até aqui) 35 fases da operação Lava Jato.
Isso, porém, não atenuará – muito pelo contrário - a ação predatória dos grupos organizados, que se abrigam sob o guarda-chuva protetor dessas legendas, contra o governo Temer.
Despojado dos meios institucionais, resta a batalha campal, em que são especialistas. O PT perde nas urnas, mas mantém seus feudos estratégicos na máquina pública, estruturados em quase 14 anos de reinado, nas três esferas federativas, fornidos com a grana grossa (e põe grossa nisso) da corrupção.
O partido, além de aparelhar o Estado, patrocinou a construção de uma gigantesca máquina sindical e estabeleceu sua hegemonia nas universidades, na mídia e nos meios artístico e intelectual. Em síntese, aparelhou a sociedade civil.
Do ponto de vista da ação estratégica, isso vale muito mais que um punhado de vereadores e prefeitos, ainda que de cidades importantes. O poder destrutivo de uma militância treinada e remunerada é incomparavelmente maior que o das multidões desorganizadas que ocuparam, aos milhões, do ano passado para cá, as ruas das principais cidades brasileiras.
O processo de despetização da máquina pública é lento e penoso. Não basta extinguir alguns cargos comissionados. A militância está no Ministério Público, no Judiciário (inclusive no STF), nas embaixadas, nos meios de comunicação, dispondo de uma ativa falange de formadores de opinião, engajados no “fora, Temer”.
A reação de Lula às denúncias da Lava Jato tem sido a de mobilizar essa militância contra as instituições, incentivando o discurso vitimista do golpe – o que, não sendo, como não é, verdade, constitui ele sim um golpe.
Ciro Gomes, ex-ministro de Lula e pré-candidato à Presidência da República, chegou a afirmar, em entrevista, que se dispõe a “sequestrar” o ex-presidente e levá-lo a uma embaixada para que saia do país e escape de prestar contas à Justiça.
O que fez é um crime, semelhante, só que a céu aberto, ao que Delcídio do Amaral propôs fazer com Nestor Cerveró. Mas, diante do que o próprio Lula faz, propondo a guerra civil, já não impressiona ninguém. O que se tem, na impossibilidade de uma solução legal e institucional aos crimes já revelados, é o apelo à baderna e a tentativa de construção de uma “narrativa” fictícia que transforme criminosos (in)comuns em perseguidos políticos.
A dificuldade está em que os fatos insistem em acontecer. Esta semana foi preso o segundo ex-ministro da Fazenda da Era PT, Antonio Palocci, sob a mesma acusação – roubo - do anterior, Guido Mantega. Já estão na cadeia, também por esse delito, três ex-tesoureiros do PT, um ex-presidente (José Dirceu) e são réus os dois petistas que ocuparam a Presidência da República, Lula e Dilma.
Há ainda uma extensa lista de delações premiadas, de empresários e outros cúmplices, por vir à tona e outra já revelada, exposta no Youtube. Não há chance de todos estarem contando uma história falsa. Tudo se articula num desenho nítido, que faz jus ao que os procuradores da Lava Jato intitularam de Propinocracia.
Não obstante tudo isso, a mobilização obsessiva de jovens nas universidades, entoando o discurso do golpe, mostra que aquela que, em tese, deveria ser a elite pensante do país, faz questão de virar as costas à realidade e desafiá-la. A tanto chegou o ensino universitário.
E é exatamente esse confronto, entre o país real, que herdou uma economia arruinada e instituições desacreditadas, e o país da militância – minoritário, mas organizado -, que mantém o ambiente de tensão, que dificulta a tarefa de superar a crise.
A política, em sua origem, foi concebida como o meio pacífico de contornar conflitos. Sem ela, volta-se à barbárie.
E é nela, na barbárie, que PT e aliados, que desmoralizaram ainda mais a política brasileira (que nunca foi grande coisa, mas que agora é coisa nenhuma) jogam suas fichas, na tentativa de fugir à responsabilidade pelos crimes perpetrados.
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