- Reprodução/USA TodayEm 34 anos de história, o "USA Today" nunca havia se posicionado nas eleições presidenciais dos EUA
Pela primeira vez em 34 anos de existência, o "USA Today", um dos jornais de maior circulação nos Estados Unidos, se posicionou na eleição presidencial americana, pedindo a seus eleitores que não votem em Donald Trump. "O corpo editorial do jornal considera, de forma unânime e consensual, que Trump não é apto para ser presidente", diz o texto.
A decisão do "USA Today" é similar ao de jornais mais conservadores do que o diário de circulação nacional, e que também quebraram uma tradição na eleição de 2016. Mas ao contrário do jornal da Virgínia, de postura historicamente neutra, essas publicações tradicionalmente apoiavam os candidatos republicanos.
É o caso do "Detroit News", do "Arizona Republic", do "Cincinnati Enquirer" e do "Dallas Morning News", que ficavam do lado das candidaturas do Partido Republicano há mais de 70 anos.
Jornais vistos como mais liberais, como o "New York Times", o "Los Angeles Times" e o "San Francisco Chronicle" também já declararam apoio à candidata democrata.
"Errático", "racista" e "xenófobo"
"Desde o dia em que declarou sua candidatura, há 15 meses, até o primeiro debate presidencial, Trump demonstrou reiteradas vezes que carece do temperamento, do conhecimento, da seriedade e da honestidade de que os Estados Unidos necessitam de seus presidentes", diz o "USA Today".
O jornal adiciona que o republicano é "errático", "sem preparação para ser comandante em chefe", "mentiroso em série", "trafica preconceitos", "fala com imprudência" e "não cumpre com sua obrigação de apresentar seu imposto de renda aos eleitores".
O jornal, no entanto, se abstém de apoiar Hillary, "que tem suas próprias falhas - apesar de elas provavelmente não ameaçarem a segurança nacional ou levarem a uma crise constitucional".
O "Detroit News", por sua vez, escolheu o libertário Gary Johnson e deixou de declarar apoio a um republicano pela primeira vez em sua história de 143 anos. "Abandonamos essa tradição nesse ano por um motivo: Donald J. Trump", escreveu o jornal.
Já o "Arizona Republic" foi mais longe, apoiando Hillary que, "mesmo com suas falhas, é uma escolha superior", diz a publicação. "Ela não diz coisas que animam nossos adversários e assustam nossos aliados." O apoio do jornal do Arizona, Estado que tradicionalmente vota nos republicanos, à democrata também é inédito em 126 anos de história.
Muitos leitores republicanos ficaram indignados com a decisão e, segundo o jornal, ameaças de morte e cancelamentos de assinatura chegaram à redação após o editorial, publicado na última terça (27).
Caminho semelhante tomou o "Cincinnati Enquirer", o "Dallas Morning News" e o "Houston Chronicle".
"O Enquirer apoiou republicanos por quase um século - uma tradição que esse corpo editorial não subestima. Mas essa não é uma disputa tradicional, e esses não são tempos tradicionais. Nosso país precisa de calma, liderança profunda para lidar com os desafios que enfrentamos em casa e fora. Precisamos de um líder que possa trazer o melhor para todos os americanos, e não o pior", escreveu o jornal, justificando sua escolha por Hillary.
Já o "Dallas Morning News" lembrou que não apoiava um democrata desde antes da Segunda Guerra Mundial e se disse crítico das políticas do partido e das posturas de Hillary.
"Mas ao contrário de Donald Trump, Hillary Clinton tem experiência real em governança", ressalta o jornal. A publicação diz que os valores de Trump são hostis ao conservadorismo. "Ele joga com o medo, explorando instintos básicos de xenofobia, racismo e misoginia - para trazer o pior em nós, e não o melhor."
O "Houston Chronicle" também aponta Trump como "racista" e "errático" e diz que o empresário é um "perigo" para a República. Tanto o "Dallas Morning News" quanto o "Houston Chronicle" são do Texas, Estado tradicionalmente republicano.