Até aqui, sempre que confrontado com indícios de favorecimento ilegal, Lula exibiu sua pose favorita. À medida que avança rumo a um conjunto de denúncias formais, a Lava Jato informa ao ex-presidente que ele já não pode ser apenas uma pose de vítima. É preciso que, por trás da pose, existam explicações capazes de refutar o cheiro de crime que exala dos autos.
Nesta quinta-feira, veio à luz um laudo da Polícia Federal sobre a reforma do sítio de Atibaia. No papel, pertence a sócios de Fábio Luís, o Lulinha. Na prática, é usado por Lula como se fosse dono. O novo documento sustenta que Lula e Marisa, sua mulher, orientaram a reforma da propriedade que dizem não possuir. Coisa fina, orçada em R$ 1,2 milhão. Só a cozinha gourmet, inspecionada por Marisa, ficou em R$ 252 mil.
Em mensagem capturada pelos investigadores, Paulo Gordilho, arquiteto da OAS, refere-se ao sítio como “fazenda do Lula”. Noutra mensagem, o presidente da empreiteira, Léo Pinheiro, anota que vai abrir dois centros de custo: “1º Zeca Pagodinho (sítio)” e “2º Zeca Pagodinho (praia)”, alusão ao triplex do Guarujá, que Lula desistiu de comprar depois que virou escândalo.
O petrolão, reincidência hipertrofiada do mensalão, ofereceu ao aparato de controle do Estado a oportunidade de subir um degrau na hierarquia do descalabro nacional. Dessa vez, os investigadores resolveram homenagear a inteligência de Lula, afastando a tese do “eu não sabia”. Onde Lula vê perseguição política, há apenas avanço institucional. Contra esse pano de fundo, Lula só precisa de um lote de boas explicações, não de uma pose.