quarta-feira, 21 de novembro de 2018

'Tendência é que DEM seja parceiro integral do governo', diz Caiado

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), governador eleito por Goiás, durante entrevista à Folha em seu gabinete no Senado

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), governador eleito por Goiás, durante entrevista à Folha em seu gabinete no Senado 
Pedro Ladeira/Folhapress

O governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou em entrevista à Folha que a tendência de seu partido é integrar a base do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
"Hoje a posição será assumir 100% a base de apoio do presidente eleito", disse Caiado.
O senador negou qualquer mal estar na sigla devido às indicações de Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para a nova Esplanada e elogiou a articulação política do futuro ministro da Casa Civil.
Para ele, Onyx está implementando um "novo modelo" de negociação com os parlamentares, que não vão se adaptar "do dia para a noite".
Nesta quarta (21), o presidente do DEM, ACM Neto, desembarca em Brasília para uma reunião com Onyx —ACM tem dito que as nomeações de Tereza Cristina (Agricultura), Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e do próprio Onyx (Casa Civil) não são partidárias, mas de Bolsonaro.

Seu partido vai assumir os ministérios da Casa Civil, Agricultura e Saúde. O DEM vai dar apoio formal ao governo? Faço parte da executiva do partido e vou encaminhar para que a votação seja de apoio completo ao governo Bolsonaro.
O presidente do DEM, ACM Neto, tem dito que as indicações não são partidárias, mas do presidente eleito, e isso tem criado ruído na sigla. Como o sr. avalia esse mal estar? Conversei com ACM Neto no fim de semana e ele disse que querem colocar como se houvesse uma indisposição [na sigla], mas não procede. O partido apoia 100% os nomes que hoje fazem parte do governo [eleito] e, com o reconhecimento dos quadros, o partido tem tudo neste momento —eu não antecipo por uma questão de [votação na] executiva—, mas hoje a posição será assumir 100% a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Com três ministro no governo, o DEM já é sócio do governo? Não diria sócio porque não é uma empresa. Vou lutar para que seja sempre o parceiro em tempo integral, e hoje a tendência é essa. Tudo o que o DEM puder fazer para ajudar, vai fazer, vou defender essa tese dentro da executiva do partido e acredito que esse é o sentimento da totalidade dos membros da executiva.​
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acredita que essas nomeações atrapalham sua articulação para ser reeleito ao comando da Casa. O sr. concorda? Não, são coisas distintas, não vamos misturar ministérios com a presidência da Câmara.
A avaliação é que o DEM já está com muito poder no governo e teria ainda a presidência da Câmara. Esse método não foi implantado pelo DEM, essa maneira de escolher ministros foi implantada por Bolsonaro. A distorção é querer se vincular que as pessoas que têm apoio nas suas classes, com respaldo das entidades, sejam do DEM. Se fizerem a leitura de que é um partido, é a prática que sempre foi feita. Bolsonaro está redimensionando e dando aos ministérios um perfil de quem tem credibilidade para poder falar da matéria. A distorção está sendo corrigida. Tínhamos ministros que não eram conhecidos, eles representavam partidos, sem vinculação com o setor que representam.
O sr. acha então que Maia é o favorito? Uma eleição de presidente da Câmara não se decide com dois meses de antecedência, se decide na reta final, em fevereiro. Não se pode tirar do Rodrigo a habilidade e essa construção não tem nenhuma incompatibilidade com os ministros que são do DEM. Essa capacidade de ser favorito ou não é indiscutível de uma pessoa que já foi presidente da Casa por dois mandatos.
Bolsonaro disse que há "outros bons nomes" além de Maia para a presidência da Câmara. O governo vai apoiar formalmente um nome para o posto? Não. Bolsonaro é um parlamentar, não vai entrar num processo de disputa dentro da Câmara e do Senado. O Executivo tem que ter a cautela para não se indispor e nem criar uma posição que amanhã possa criar constrangimento em ações de interesse do governo. É preciso ter sintonia do presidente com a Câmara e com o Senado para melhores resultados, e não enfrentamento. O presidente não vai entrar no varejo, ele está nomeando ministro que tem apoio popular e das entidades.
A articulação política do governo de transição não tem funcionado. Foi um erro escalar Onyx Lorenzoni (Casa Civil), que não tem muito trânsito no Congresso, para conversar com os parlamentares? Temos que entender que Onyx teve posições corajosas e que merecem o respeito e aplauso de todos nós. Ele enfrentou todo um processo à época, porque ninguém acreditava na candidatura de Bolsonaro. Neste primeiro momento, está se implantando um novo método. As pessoas que viveram durante 40 ou 50 anos dentro de um critério não vão se adaptar a esse modelo de um dia para o outro. A hora que Onyx mostrar que saberá compartilhar as obras com todos os deputados [vai funcionar]. Ele pode chamar as bancadas pra decidir [sobre uma pauta] e não só o líder.
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, falou em dar uma 'prensa' nos parlamentares para aprovar a reforma da Previdência. A estratégia do novo governo é de ofensiva sobre o Legislativo? Foi uma falha da utilização do termo. Não é ofensiva, pelo contrário. Você viveu por 30 anos um processo de total asfixia do Congresso. Que dia que o Congresso teve voz? Você está implantando outro conceito, no qual os 513 deputados se sintam pelo menos em condições de sentar e opinar sobre as matérias. É mais trabalhoso? Sim, mas por que não experimentar se o outro modelo não deu certo?
Pelo menos 14 estados excederam o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal nos gastos com pessoal e não conseguem administrar a crise. Bolsonaro vai ceder para ajudar os governadores? Há a possibilidade, já que teve um sinal positivo do Banco Mundial, de poder renegociar essas dívidas dos estados, para que haja um espaço fiscal para os estados terem acesso a algum crédito e sair desse colapso financeiro. O ministro Paulo Guedes (Economia) disse aos governadores da possibilidade, mas que tem uma apreensão porque o reajuste desses empréstimos é por taxa cambial e amanhã poderá trazer também um desequilíbrio nas contas dos estados. Dentro dessa operação de cessão onerosa, temos que ver o que pode ser repassado. O governo eleito assumiu o compromisso de público que uma parcela repassará aos estados e municípios.
O atual ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, sinalizou que não há espaço para a União salvar os estados. Disse que já aprovou lei para alongar a dívida, deu carência para o pagamento e criou o regime de recuperação fiscal. Por que Bolsonaro conseguiria fazer diferente? A diferença é enorme entre um governo [Temer] que não tem as credenciais que tem Bolsonaro: legitimidade, credibilidade e apoio popular. Não é o Guardia quem vai falar sobre as diretrizes que vão ser tomadas, quem vai falar é o Paulo Guedes.
O sr. acha que haverá apoio popular para flexibilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal para que os estados gastem mais? Estamos sem condição nenhuma de atender às necessidades básicas dos estados, porque não temos empréstimo, não temos aval da União, arrecadação capaz de arcar com as despesas. Então, sinto muito, vou ter que fechar escola, hospital...
Isso é ameaçar a população com o fechamento dos serviços públicos em troca de apoio... Não é questão 'de', é questão de que você vai perceber isso como cidadão. Por que não podemos ceder mais aqui [Lei de Responsabilidade Fiscal] se estamos entrando no governo agora?
Bolsonaro falou objetivamente que vai flexibilizar a lei? Qual seria a mudança? Objetivamente, não. Por isso eu trabalharei fortemente esses 50 dias que temos antes do recesso. Se é possível mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal, por que não? Mesmo que ela tenha um prazo determinado. Entre elas [mudanças], a questão do teto, quais os cortes que deverão ter, as exigências para o governador ter o aval da União...
O presidente eleito sinalizou que está estudando essa proposta? Ele disse que a situação do governo federal também é difícil, mas que aquela demanda feita por nós tinha que ser estudada pela área econômica.
Bolsonaro disse que estava se encontrando com os governadores eleitos 'por consideração' e que aquilo que os estados querem, 'dinheiro', ele também quer. Não é frustrante começar uma reunião assim? É o estilo dele. Ele vai mudar por que foi eleito presidente da República? A liturgia do cargo ele vai saber cumprir, a forma de se comunicar, aí cada um tem a sua.
Marina Dias, Folha de São Paulo