Em seu primeiro ato no comando
das ações penais da operação,
Gabriela Hardt, juíza substituta
da 13.ª Vara Criminal Federal de
Curitiba, tomou os depoimentos
dos executivos Carlos Armando
Paschoal e Emyr Diniz Costa Júnior
no processo sobre o sítio de
Atibaia (SP) no qual o ex-presidente
é réu por lavagem de dinheiro
e corrupção
A juíza Gabriela Hardt, sucessora de Sérgio Moro nos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, interrogou nesta segunda-feira, 5, dois delatores da Odebrecht. Os engenheiros Emyr Diniz Costa Júnior e Carlos Armando Guedes Paschoal foram ouvidos no processo contra o ex-presidente Lula e outros investigados e confirmaram as obras no sítio de Atibaia. O petista é réu neste processo por supostamente ter recebido propinas da empreiteira na forma de melhorias do sítio.
Moro deixou a Lava Jato após aceitar o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o comando do Ministério da Justiça, que terá status de superministério. Nesta segunda, 5, o juiz enviou um ofício ao corregedor do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região informando que entrou em férias e que vai se exonerar ‘logo antes da posse’ como ministro.
Emyr Diniz Costa Júnior foi o primeiro investigado a ser ouvido por Gabriela Hardt após a saída de Moro. O engenheiro relatou que, em 2010, era responsável pelas obras de uma estação de tratamento de esgoto que ficava na divisa entre São Caetano e São Paulo. O delator contou que, na época, o diretor superintendente da região São Paulo e Sul, Carlos Armando Paschoal, seu superior, o chamou no escritório central da empresa.
“Me disse que precisava que eu destacasse um engenheiro de confiança para que a gente fizesse uma reforma num sítio em Atibaia, que seria usado pelo presidente Lula na época e que eu procurasse, na época, uma pessoa designada Aurélio, Rogério Aurélio, e que me passou um papelzinho com seu telefone para que eu pudesse mandar na época, então, o engenheiro Frederico”, narrou.
Gabriela Hardt o questionou. “Quando o sr Carlos chamou já foi dito que era uma obra num sítio para o presidente?”
“Isso, exatamente”, respondeu.
A juíza quis saber. “Já no primeiro contato o sr já sabia que a obra era para o sr presidente à época e dentre as atribuições que o sr tinha até então com 25 anos de casa, o sr já tinha feito alguma tarefa semelhante?”
“Não, não”, afirmou. “Nunca tinha trabalhado em obra de edificação, tampouco tinha feito reformas por favor, nem a favor de ninguém.”
Emyr Diniz da Costa Júnior disse à juíza que sua ‘maior preocupação’ na obra do sítio era que houvesse um acidente de trabalho. “Eu sabia que a gente estava fazendo uma coisa que já não era certa. Se tivesse um acidente de trabalho lá, então, a coisa complicava. Dei graças a Deus que a gente terminou a obra”, afirmou.
De acordo com o delator, durante uma reunião com ‘Aurélio’, ele lhe pediu que fossem feitas algumas obras. Emyr Diniz Costa Júnior afirmou que nunca esteve com Lula e que o ex-presidente nunca lhe pediu para fazer obra no sítio.
“O sr Aurélio pediu que as seguintes obras fossem feitas: logo na entrada do sítio, do lado esquerdo, construir uma casinha de quarto e sala e uma quitinete, uma cozinha para hospedagem da segurança do sr presidente quando ele fosse lá, pediu que construíssem 4 suítes, que era uma obra que já tinha sido iniciada, já estava com a fundação e a estrutura metálica pronta, eram 4 suítes, pediu quer a gente terminasse dois depósitos que um depois eu fiquei sabendo que a adega do sr presidente e o outro era um quarto de empregada e, além disso, a reforma da piscina que estava em vazamento, queria que fosse maior, fazer uma parte mais rasinha, pediu que a gente fizesse o alambrado e o gramado de um campo de futebol que tinha lá e pediu várias outras coisas que a gente não pode fazer”, disse.
“Eram obras que envolviam terraplanagem e, na época de dezembro, chove muito lá em São Paulo, e a gente falou que não dava tempo, que era aumentar o tamanho de uns lagos que tinha lá no sítio, queria que fizesse uma quadra de tênis, que a gente não podia fazer porque quadra de saibro não dá para fazer no inverno.”
Ricardo Brandt e Julia Affonso, O Estado de São Paulo