sábado, 24 de novembro de 2018

Secretário de Guedes diz que disrupção vai 'levar país para outro patamar'


Escolhido para comandar a secretaria de privatizações que será criada no futuro governo de Jair Bolsonaro, o empresário Salim Mattar, dono da locadora de carros Localiza, disse nesta sexta-feira (23) que pretende participar de uma "disrupção" no Brasil e "levar o país para outro patamar".
O convite para o cargo foi feito pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem Mattar diz que nutre uma relação de amizade há quase 30 anos, tem uma "profunda identificação" e "comunga as mesmas ideias".
O empresário é membro do Millenium, um instituto fundado por Guedes para promover o liberalismo econômico.
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Salim Mattar, é formado em administração pela Fumec (BH). 
Ele fundou a Localiza aos 24 anos e foi um dos maiores doadores, 
como pessoa física, na eleição - Segio Zacchi/Valor
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"Aceitei o convite para participar do governo com o intuito de fazer uma disrupção no país, levar para outro patamar. Tem um projeto interessante de reconstrução do país. Gostei do projeto e me dispus a participar do governo", disse Mattar à Folha nesta sexta (23). 
Evitando entrar em detalhes sobre os planos para a secretaria, Mattar disse que terá uma reunião na próxima semana em Brasília. 
"Vou para a vida pública fazer uma doação. Faço isso com muito prazer e acho que outros deveriam seguir o mesmo caminho, porque é hora de a sociedade mudar." 
O empresário vai se afastar dos negócios para assumir o cargo. 
A criação da secretaria de privatizações do governo Bolsonaro foi confirmada por Paulo Guedes, futuro ministro da economia, nesta terça-feira (20), com a missão de coordenar a venda de ativos estatais.
Na quarta-feira (21), dias antes de selecionar Salim Mattar, a equipe de Bolsonaro chegou a sondar para o cargo Wilson Poit, que foi secretário de Desestatização na Prefeitura de São Paulo até esta semana.
A nova Secretaria-Geral de Desestatização e Desimobilização ficará responsável pela agenda de gestão de estatais, o enxugamento de quadros de funcionários e a política de desinvestimento de empresas públicas, como a venda de participações.
O órgão assumirá funções que eram do Ministério do Planejamento, que será fundido à Fazenda para dar origem ao superministério de Paulo Guedes.
O PPI (Programa de Parceria de Investimentos) ficará sob a administração da Presidência da República.

REAÇÕES

Mattar é visto pelo empresariado como um profundo defensor do liberalismo econômico, mas um neófito que precisará ter a habilidade de se cercar de quem entende da máquina pública com humildade.
Dentre seus atributos mais citados, o mais lembrado é a inegável competência representada pelo feito de transformar a Localiza em uma das maiores empresas de aluguel de carros e gestão de frotas na América do Sul.
São mais de 520 agências no Brasil e de mais 60 em outros cinco países.
Preocupa o fato de que, apesar do próspero histórico no setor privado, Mattar tenha pouca conexão com a administração pública, assim como outros nomes da futura equipe, como Pedro Guimarães, escolhido para a presidência da Caixa Econômica Federal, e o próprio futuro ministro da Economia.
Quem entende de fusões e aquisições de empresas e conhece Mattar receia que seus planos para o programa de privatizações ainda estejam muito restritos à venda de imóveis e terrenos públicos.
Embora a inexperiência na administração pública seja vista como um empecilho, pesa a favor do futuro secretário o forte alinhamento ao bolsonarismo que ele revelou na reta final da campanha —o que pode reduzir o risco de eventuais desentendimentos.
O empresário foi um dos maiores doadores da campanha deste ano. Ele ofereceu recursos para diferentes candidaturas e partidos, mas iniciou a campanha como um forte entusiasta do Partido Novo, de João Amoêdo, derrotada na eleição presidencial.
Pragmático diante da baixa intenção de votos de Amoêdo nas pesquisas, passou a defender voto útil no PSL de Bolsonaro antes do primeiro turno, aborrecendo uma ala do Novo.

Joana Cunha, Folha de São Paulo