segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Países abrem as portas para profissionais que querem estudar, empreender e trabalhar

Sydney, na Austrália, atrai muitos profissionais que querem estudar Foto: Pixabay
Sydney, na Austrália, atrai muitos profissionais que querem estudar Foto: Pixabay


Áreas como TI e saúde são as mais demandadas; veja as melhores chances em EUA, Portugal, Canadá e Austrália


Cresce a procura de brasileiros por morar no exterior, seja para estudar, empreender ou trabalhar. Países da Europa, Oceania e América do Norte abrem as portas para receber profissionais que possam agregar valor às suas economias. Esta é a combinação perfeita para quem pensa em internacionalizar a sua trajetória.

Cada país tem sua área de destaque, sendo que Tecnologia da Informação (TI) tem, de longe, a maior demanda em todos os países.

Em geral, Canadá e Portugal têm sido boas opções para estudar, respectivamente, pela cotação da moeda e pelo idioma. Os Estados Unidos, contudo, continuam a ser um dos destinos mais procurados para mestrados e doutorados por causa do renome de suas universidades.
Para empreender, EUA e Portugal são os destinos mais procurados por brasileiros e, para trabalhar, o céu é o limite. Vale também dar uma olhada nas listas de “profissões em falta” que alguns países têm. Este é um caminho para migrar já com o visto de trabalho e mantendo-se em sua área profissional.
Professor da FGV EBAPE, Marco Tulio Zanini pondera que embora haja uma abertura de países aos profissionais estrangeiros, a peneira é muito seletiva. Em contrapartida à tal abertura, os países querem profissionais altamente qualificados, dando preferência a quem agregue conhecimento e não apenas ofereça um trabalho operacional.
— Temos observado vários países abrindo as portas a imigrantes, preferencialmente descendentes, para atrair força jovem de trabalho. Além da questão de quem vai assumir postos estratégicos no futuro, há o problema do encurtamento da base da pirâmide previdenciária.
Ele aponta algumas especifidades: Portugal e Austrália buscam quem trabalha com TI. Nos EUA, além de TI, destacam-se as áreas de pesquisa e consultoria. Já em alguns países da Europa, como Alemanha, a área de saúde é a bola da vez.
— O que está acontecendo é uma demanda por jovens que possam assumir novas posições. Pode ser uma boa saída para quem está buscando oportunidades em outro país — afirma Zanini.

Conheça a área antes e faça contatos

Em todas as opções, o planejamento é a chave. O primeiro passo é falar o idioma local. O segundo, ter economias para os primeiros tempos. No caso de empreendimento, pelo menos um ano de reservas. Se for para estudar, tem que poder se bancar sem contar com um trabalho extra (o visto de estudante concede horas limitadas de trabalho). Contatos também ajudam.
A especialista em LinkedIn que ajuda profissionais a internacionalizarem suas carreiras, Karla Martins tem acompanhado o processo de clientes na mudança para Portugal e corrobora Zanini sobre a grande demanda em TI no país europeu. Segundo ela, os profissionais portugueses desta área foram captados por outros países na Europa, que pagam melhor. Logo, há vagas para estrangeiros.
Ela orienta começar a planejar a mudança com a maior antecedência possível. O primeiro passo, diz, é ver se sua profissão tem espaço no mercado desejado:
— O ideal é se mudar já com um emprego certo, mas isso é muito difícil. Então, se houver demanda na sua área, passe uma temporada no país para reconhecer o terreno, fazer contatos, procurar imóvel e ver a documentação necessária. Caso te chamem para uma vaga, tudo isso deve estar encaminhado.
Diante da procura crescente de amigos pedindo ajuda para empreender nos EUA, Sílvia Pimenta Velloso se associou à irmã, Marta Meyerhans, radicada há 20 anos no país para juntas abrirem a Athena Strategy Consulting, uma agência que presta consultoria a pequenas e médias empresas interessadas em se expandir em solo americano. As duas irmãs são da área de mercado de luxo e consultoria de marcas.
Segundo Sílvia, o mercado americano tem hoje oportunidades principalmente nas áreas de saúde e bem-estar, sustentabilidade, tecnologia e soluções em serviços urbanos (mobilidade e conectividade). Ela alerta que é importante galgar espaço, pois a competição é grande.
— Os brasileiros conectam-se mais rapidamente entre si e são seguidos pelos demais latinos, mas é fundamental conquistar o cliente americano para usufruir da força e constância do mercado local. O Brasil é visto como uma fonte consistente de qualidade, saúde e beleza, e os produtos são bem recebidos.
Alguns países têm abertura para empreendedorismo; outras, para emprego e trabalho Foto: Pixabay
Alguns países têm abertura para empreendedorismo; outras, para emprego e trabalho Foto: Pixabay

Sílvia lembra ainda que empreender nos EUA, pode ser relativamente barato, porém, isso não dá automaticamente direito à permanência legal no pais. Segundo ela, atualmente, a legislação americana sugere investimento mínimo de US$ 1 milhão para a concessão de visto de investidor/empreendedor (EB-5) a cidadãos brasileiros. Este valor deve ainda ter origem comprovada e ser diretamente relacionado ao principal investidor sob a forma de capital de giro.
— Outra exigência é a apresentação de um plano de negócios de cinco anos. Sugiro a contratação de uma assessoria legal especializada. As custas de uma assessoria legal variam bastante.
Adriana Santos, gerente do departamento de vistos consulares da Schultz explica que os vistos de trabalho são específicos, assim como os seus processos.
O Canadá, segundo ela, não tem entrevista pessoal e o governo avalia os documentos enviados. Nos EUA, existe uma entrevista pessoal em que o oficial pode ou não pedir os documentos. Já na Austrália, a imigração faz a avaliação na chegada ao país.
— Este ano aumentaram as recusas, porque há muitos brasileiros indo para ficar de vez lá.
Ela alerta que o visto de trabalho não é tão fácil, pois, geralmente, são para profissionais com cargos de gerente para cima. Diz ainda que engana-se quem acha que é mais fácil ir para Canadá do que EUA.
— Os dois países querem executivos, com posses e mestrados. Se quiser ir legalmente, tem que ir com contrato assinado e visto específico. Nos EUA, por exemplo, há o visto “L” e o “H”, que significam que a empresa se responsabiliza pela sua entrada no país. No Canadá e Austrália também é assim.
Há ainda informações sobre como empreender em outros países no Portal Consular, do Ministério das Relações Exteriores: portalconsular.itamaraty.gov.br.

Estados Unidos

Apesar de muitas vezes ter os cursos mais caros, ainda é um dos principais destinos para profissionais que querem se especializar, devido ao renome das universidades. O mesmo vale na busca por emprego, pois muitas matrizes de multinacionais estão instaladas lá, tornando-se o sonho de alguns profissionais. Os Estados Unidos (a Flórida, em especial) também estão no foco de empreendedores.
As áreas com mercado para brasileiros, segundo a Athena Strategy Consulting, são as de saúde, bem-estar e as que são ligadas a soluções em serviços e urbanos (mobilidade e conectividade). Antes de se mudar, conheça bem o mercado da sua área por lá

Austrália

Assim como em outros países, as oportunidades na área de Tecnologia da Informação estão em alta. A Austrália também tem uma lista de “profissões em falta” para quem quiser tentar a migração qualificada (quando muda-se com o visto para trabalhar em sua área). Mais informações: www.homeaffairs.gov.au. É um país que não atrai tantos investidores e empreendedores, sendo destino principalmente para estudos, pois alguns cursos podem ser mais baratos que nos Estados Unidos.

Portugal

A procura por cursos em Portugal  cresceu bastante pela facilidade da língua, pelo custo de vida mais baixo e pelos cursos e acordos entre as universidades lusas e brasileiras. lém disso, algumas universidade aceitam notas do Enem. Portugal também tem sido reduto de empreendedores, não apenas pelo idioma, mas por ser uma porta de acesso a todo mercado europeu. Se a ideia é conseguir emprego, uma sugestão é viajar como turista (90 dias), conhecer a cidade onde quer se estabelecer, fazer contatos, pesquisar moradias e preparar-se para quando for chamado.

Canadá

É o primeiro país na lista dos brasileiros que procuraram destinos para estudar fora nos últimos quatro anos. O país tem atraído muitos brasileiros que vão estudar por ter o dólar mais baixo que o dos EUA e libra da Inglaterra, por exemplo. Outra razão é que muitos vão ao Canadá com a intenção de pedir um visto de residência após o curso de mestrado (que dura cerca de dois anos).
Passar esses dois anos de adaptação no país facilita a futura permanência: há formação de netwoking e adaptação ao novo país, além de garantir pontuação na solicitação do visto definitivo. Dependendo do tipo de visto, o cônjuge do estudante pode trabalhar período integral.



Raphaela Ribas, O Globo