
Desde quando o senhor tem contato com Vélez Rodríguez?
Eu conheço o Ricardo Vélez há uns 30 anos. Tive muito contato com ele na época do Fórum da Liberdade do Rio Grande (evento que reúne liberais), e no encontro que tivemos no Instituto Liberal. Faz tempo que não converso com ele, mas conheço bem o trabalho dele, conheço as ideias dele. Os jornalistas brasileiros não sabem nada a respeito dele, avaliam tudo de uma maneira pueril e fantasiosa. No Brasil, um liberal clássico se tornou extrema-direita. Se o liberalismo é extrema-direita, não sei o que vem depois. Estão dizendo que ele é extremista de direita.
Qual exatamente é a linha dos senhores, então? Conservadorismo, com liberalismo na economia?
Conservadorismo, no sentido americano, chamamos de liberalismo no Brasil. O que os americanos chamam de "liberalism" é o que chamamos de esquerdismo, progressismo. Primeiro, é preciso diferenciar esses dois conceitos. No sentido brasileiro, Ricardo Vélez é um liberal. No sentido americano, poderia ser um "moderate conservative" (conservador moderado). Essa é a classificação científica, correta. Não é uma rotulagem.
O senhor chegou a conversar diretamente com Bolsonaro sobre Vélez, ou indicou apenas pela postagem no Facebook?
Eu conversei com o Bolsonaro três vezes na vida. Uma vez, quando ele sofreu o atentado, fiz uma comunicação para mostrar minha solidariedade, e quando ele foi eleito, telefonou para cá para agradecer. Isso foi todo o contato que eu tive com o Bolsonaro. O filho dele, Eduardo, tive um pouquinho mais, devo ter conversado umas cinco vezes. Eles leem as coisas que eu escrevo e levam a sério.
Os contatos devem ter sido muito bons, porque Bolsonaro já aceitou duas indicações suas para ministros.
Eu sou irresistível. Daqui a pouco você vai estar apaixonada por mim.
O senhor publicou recentemente um vídeo com críticas ao Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez?
Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois. Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda estamos na esfera do argumento retórico.
Por que o nome de Vélez é o melhor para o ministério?
Porque ele é o que mais conhece pensamento brasileiro, no Brasil e no mundo. Ele conhece o Brasil mais do que qualquer brasileiro.
O que é exatamente "pensamento brasileiro"?
Todos os autores políticos, desde o Brasil colônia até hoje, ele leu tudo. Eu não conheço outra pessoa que tenha esse conhecimento. Se você falar de integralismo brasileiro, ele sabe tudo. O mais importante, para o ambiente universitário, é criar um panorama (desse conhecimento histórico).
Vélez disse, por exemplo, que o golpe de 1964 deve ser comemorado. O senhor concorda?
O que aconteceu há 50 ou 60 anos atrás ainda é objeto de tomada de posição política. Como se nós conseguíssemos interferir na vida dos mortos, o que pra mim já é absolutamente alucinatório. "Você é contra ou a favor da revolução de 1964?" Como assim? Já acabou, não posso interferir. Então deveríamos ter uma abordagem histórica, mas nossa mídia praticamente inteira adotou a linguagem da propaganda e carimbagem ideológica.
O senhor foi convidado para participar do governo?
O Bolsonaro falou, várias vezes, que queria que eu ocupasse o ministério da Educação e da Cultura, e eu já falei que não. Eu nunca serei funcionário público. No governo Bolsonaro posso ser consultor pessoal do presidente, e cobrarei 100 reais por mês.
Mas esses convites foram feitos diretamente, em contatos com o senhor? Os filhos dele chegaram a pedir?
Não, ele falou isso em comícios, em discursos. Falou várias vezes. Eu ouvi aquilo e falei "não vou aceitar, não nasci para isso".
Natália Portinari, O Globo