Tory Newmyer, The Whashington Post
WASHINGTON - Um turbilhão de charme francês não conseguiu forjar um armistício comercial entre o governo de Donald Trump e a Europa. Agora, um toque do pragmatismo germânico vai tentar fazê-lo.
A chanceler alemã Angela Merkel chega nesta sexta-feira a Washington para uma visita de um dia ao presidente norte-americano Donald Trump, em meio a muito menos alarde do que o que saudou a visita de Estado do presidente francês Emmanuel Macron, concluída na última quarta-feira.
Mas as apostas estão indiscutivelmente maiores. A isenção das tarifas de ferro e alumínio que o governo Trump concedeu à União Europeia no mês passado expira na próxima terça-feira, e a Casa Branca ainda precisa indicar se vai estendê-la.
Não é necessariamente um bom presságio o fato de ter ido para o segundo tempo do jogo a missão de convencer Trump a fechar o acordo nesta semana. O mandatário dos EUA tem uma relação incomumente calorosa com Macron, como foi evidenciado pelas interações pegajosas entre eles. Em contraste, na última vez em que Merkel se encontrou com Trump no Salão Oval, o presidente causou um desconforto por parecer ter ignorado uma sugestão para apertar a mão da chanceler da terceira maior economia do mundo.
Mais ao ponto, os EUA administram um déficit comercial de US$ 65 bilhões em bens com a Alemanha, seu maior déficit na Europa e terceiro maior no mundo — um ponto chave para Trump em suas relações com líderes estrangeiros. E o presidente chamou a atenção para o que ele vê como uma relação desequilibrada com a potência industrial da Europa.
Pode não importar muito para Trump, mas esse desequilíbrio comercial se deve mais às escolhas macroeconômicas do que ao protecionismo alemão. "O balanço de pagamentos de um país é a diferença entre seus gastos e suas economias. Os alemães escolheram em conjunto economizar mais do que gastam e exportar capital excedente para ser investido no exterior", comentou Simon Nixon, jornalista do "Wall Street Journal".
"Um número de fatores estruturais ajuda a explicar essa preferência por economizar. O mais importante são as agudas pressões demográficas que levaram a geração dos baby boomers (pessoas nascidas entre 1946 e 1964) a priorizar a poupança para a aposentadoria e encorajou firmas alemães a investir em mercados mais promissores no exterior. Além disso, o superavit da Alemanha também reflete as escolhas políticas de outros países. A nova lei tributária de Trump, por exemplo, vai impulsionar gastos e, portanto, vai aumentar o deficit comercial dos EUA com a Alemanha e a UE", continuou ele.
Macron and Merkel — que se encontraram na semana passada, em Berlim, para coordenar o discurso comercial de ambos para Trump — pretendem obter uma isenção europeia permanente do imposto de 10% sobre as importações de alumínio e 25% sobre as importações de aço.
— Nós esperamos uma incondicional e permanente exceção — disse, na segunda, a comissária de Comércio da União Europeia, Cecilia Malmstrom. (Até o momento, apenas a Coreia do Sul conseguiu termos permanentes, como parte de um acordo bilateral: o país concordou em aceitar a tarifa de alumínio e limitar as exportações de ferro para 70% de sua média nos últimos três anos.)
Macron tentou um acordo final — um que envolva a UE inteira — em suas conversas com Trump. O repórter do site Politico Nicholas Vinocur afirmou que "durante as discussões entre Trump e Macron, um assessor disse que o líder francês insistiu que eles 'não poderiam ter uma guerra comercial entre aliados', e que a França só falaria 'em conjunto com a Europa' sobre o comércio. 'Nós insistimos em que as isenções devam ser estendidas', acrescentou o assessor, que participou de discussões com altos funcionários dos EUA após as negociações bilaterais de Macron com Trump".
O presidente da França também falou em um comércio mais livre, garantido por instituições internacionais, em seu discurso de quarta-feira no Congresso.
— Acredito que nós possamos construir as respostas certas... negociando na Organização Mundial do Comércio (OMC) e criando soluções conjuntas — afirmou Macron. — Nós escrevemos essas regras. Devemos segui-las.
A abordagem de Macron teve a virtude da novidade.
— Essa combinação de elogio e fala direta ainda não havia sido testada com Trump — escreveu a colunista do "Washington Post" Anne Applebaum. — Os gestos amigáveis vão agradar seu narcisismo; há uma pequena chance (muito, muito pequena) que até vá fazê-lo mudar de ideia. Há um risco maior de que a clara oposição, mesmo encoberta por elaboradas citações de (Abraham) Lincoln e de (Franklin) Roosevelt, possa irritá-lo.
Mas pelo mesmo no momento, no que concerne à agenda comercial da Europa, não houve nenhum aparente benefício. Merkel e seu time entendem que têm uma tarefa difícil nas mãos. Até 1º de março, Trump e Merkel ficaram cinco meses sem se falar.
— A visita definitivamente não será fácil — afirmou à Reuters o coordenador transatlântico de Merkel, Peter Beyer, na semana passada.
Além disso, ele disse que a visita se encaixa no contexto da de Macron:
— Acho que as pessoas têm de ver as visitas de Macron e Merkel como uma só. Macron vai cuidar das belas fotos e fazer seu papel. Merkel vai mostrar trabalho duro e fazer o dela.