sábado, 28 de abril de 2018

Brasil tem onda de médicos formados no Paraguai

Fernanda Simas, Enviada Especial a Assunção, O Estado de S.Paulo

ASSUNÇÃO - Caminhar pela calçada em frente à Universidade María Auxiliadora (Umax), na capital do Paraguai, nos horários de almoço ou saída das aulas, é como percorrer uma rua brasileira e o português é mais ouvido do que o espanhol. Isso explica em parte porque a validação dos diplomas de medicina paraguaios já cresce num ritmo maior do que os bolivianos e argentinos, países em que este fluxo é mais conhecido.
Turma de alunos de medicina durante uma aula na Universidade María Auxiliadora, em Assunção
Turma de alunos de medicina durante uma aula na Universidade María Auxiliadora,
em Assunção Foto: Paulo Vilela Resende Neto
“Se eu tivesse condições, faria uma federal no Brasil, mas o custo de vida aqui (Paraguai) e da faculdade é bem mais barato. Eu gasto entre R$ 550 e R$ 600 (com faculdade)”, diz Alinne Bezerra de Brito Guerra Freitas, de 28 anos.
O número de brasileiros que cursam medicina em Assunção começou a aumentar a partir de 2014, segundo diretores das faculdades particulares. Mas a ideia do brasileiro não é exercer a profissão no país vizinho. “Eu poderia ficar aqui, mas minha intenção é voltar. Aqui a profissão não é tão bem remunerada”, diz Paulo Vilela Resende Neto, de 34 anos, estudante do 4.º semestre da Umax. 
“Estamos aqui realizando nosso sonho, que no Brasil não foi possível, tanto pela parte financeira quanto pela concorrência”, afirma Jansen Wellington Guedes Moscardini, de 26 anos.

Diplomas

Voltando ao Brasil, dois caminhos são possíveis para os recém-formados: participar do Revalida, programa para obter o CRM e ingressar no mercado de trabalho, ou iniciar a carreira por meio do Mais Médicos. E os dois nichos apresentaram um salto na participação de brasileiros formados no Paraguai.
Entre 2015 e 2016, o número de brasileiros que participaram do Revalida com diplomas paraguaio saltou de 209 para 530. A validação de diplomas paraguaios é a que mais cresce, em ritmo superior à dos diplomas bolivianos, argentinos e cubanos. Em números absolutos, os diplomas bolivianos ainda lideram o ranking (foram 2.851, em 2016). A participação de médicos brasileiros formados em países como Argentina e Peru diminuiu ou permaneceu no mesmo patamar.
“Aqui, com R$ 1.600 a R$ 1.800 você vive tranquilo, pagando moradia e faculdade. Além disso, eles (paraguaios) são receptivos e educados, me acolheram de braços abertos”, justifica Carvalho sobre a escolha de Assunção para estudar. “Vou me formar e voltar para o Brasil. Para trabalhar, preciso prestar o Revalida, minha primeira opção. A segunda opção é fazer uma complementação no Brasil de mais um ano, mas não sei se terei condição de pagar. E a terceira opção é trabalhar pelo Mais Médicos, é a pior em remuneração”, explica Resende Neto sobre os caminhos que pensa seguir.
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, os profissionais do Mais Médicos recebem bolsa-formação no valor de R$ 11,8 mil, uma ajuda de custo entre R$ 10 mil e R$ 30 mil para deslocamento para o município de atuação e moradia e alimentação custeadas pela prefeitura onde vão exercer a função. 
A atuação dos brasileiros formados no exterior no programa teve crescimento a partir de 2017, quando começou a substituição dos médicos estrangeiros por brasileiros formados fora. Em 2016, por exemplo, 31.661 brasileiros com diploma estrangeiro se inscreveram no programa e 579 foram aprovados. Em 2017, de 24.316 inscritos, 1.763 foram aprovados. Em 2013, quando o programa começou, 180 profissionais dessa categoria foram aprovados, em um universo de 25.812 pessoas.
O ministério explica que esses profissionais passam por um período de avaliação e treinamento e só podem exercer a medicina no País no âmbito do programa, por um período que dura três anos, prorrogáveis por mais três. “Temos dois caminhos: o Revalida e o Mais Médicos. Pretendo fazer o Revalida, porque quero fazer residência e trabalhar na área, mas são duas provas, uma prática e teórica. Para o Mais Médicos, a gente faz a inscrição, faz um curso que o programa patrocina. Isso é bom”, avalia Carvalho.
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Alinne não pretende recorrer ao Mais Médicos, mas diz que tem uma amiga formada na mesma universidade em que estuda que voltou ao Brasil, participa do programa e está satisfeita. “Ela diz que o conhecimento passado aqui (Paraguai) é mais forte do que no Brasil. Sua dificuldade maior foi entender o SUS porque em cada país o sistema de saúde é um.”
Segundo Rubens Caballero, diretor da área de Medicina da Universidade María Serrana, também em Assunção, onde 1.000 dos 1.200 alunos são brasileiros, 18 formados em 2017 estão hoje trabalhando no Mais Médicos. 
“Quando eu cheguei aqui eram apenas 4 turmas com brasileiros, hoje tem entre 11 e 15 turmas”, lembra Carvalho, que assim como Resende Neto e Moscardini, trabalha na parte da divulgação das universidades para outros brasileiros que desejam estudar no Paraguai.