Cristiane Barbieri, O Estado de São Paulo
A Embrapa lançou na semana passada um documento, como parte das comemorações de seus de 45 anos, no qual apontou sete eixos principais para a agricultura nacional até 2030. Estão lá, entre outras coisas, mudanças climáticas, protagonismo dos consumidores e convergência tecnológica e de conhecimentos. Segundo a empresa, o documento resume um trabalho feito ao longo de 18 meses, com a participação de 370 funcionários e parceiros.
A instituição, que se recusou a conceder entrevista para esta reportagem, enviou ao Estado alguns comunicados nos quais fala de suas contribuições ao setor. Num dos exemplos, um bioinsumo que fixa nitrogênio no solo, hoje usado em 34 milhões de hectares de soja, permitiu que os agricultores economizassem R$ 42,3 bilhões na última safra. Em seu balanço social, a Embrapa diz que, para cada real aplicado na empresa, foram devolvidos R$ 11,06 para a sociedade. A instituição também vive um processo de mudança interna, que inclui cortes de gastos e ampliação de receitas. Em 2017, o número de áreas administrativas na sede caiu de 17 para seis e os centros de pesquisa de 46 para 42.
“A Embrapa nunca teve uma atuação muito efetiva no nosso setor, mas temos alguns projetos juntos, nos quais estamos sendo muito bem-sucedidos”, diz Jacyr Costa Filho, diretor da região Brasil do grupo Tereos, terceiro maior produtor de açúcar do Brasil e do mundo. Entre eles está o RenovaCalc, ferramenta de cálculo de intensidade de carbono dos biocombustíveis do RenovaBio. “Será uma referência mundial na área.” Segundo ele, a Embrapa deveria voltar sua pesquisa à áreas em que não há concorrência de multinacionais, como a própria cana.
As críticas que a Embrapa vem sofrendo, porém, não dizem respeito à qualidade de sua atuação pontual. Afinal, uma instituição com orçamento de R$ 3,4 bilhões, quase 10 mil funcionários e 2,4 mil pesquisadores – que recebem de duas a três vezes o salário de um pesquisador de universidade federal – produz necessariamente conhecimento de qualidade. O problema, dizem os especialistas, é a falta de uma política clara que norteie essas pesquisas, hoje feitas sem prioridade.
“Nossos concorrentes estão no exterior e vemos os avanços lá fora na evolução da biotecnologia, da nanotecnologia, do big data”, disse Pedro Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, num evento sobre inovação no agronegócio realizado dia 23, na Fundação FHC. “Não adianta falar só na melhoria de técnicas de manejo. Ou conseguimos acompanhar esse outro tipo de evolução, ou vamos para a decadência.” Segundo ele, as grandes empresas multinacionais da área estão atrás dessas mudanças. “Só que elas decidem seus rumos por variáveis atreladas ao lucro, e não ao interesse do Brasil”, afirma. “É exatamente o papel que deveria ter uma empresa pública de pesquisa como a Embrapa.”