segunda-feira, 30 de abril de 2018

Trump prorroga isenção a tarifas sobre aço do Brasil e outros países

O presidente norte-americano, Donald Trump
O presidente norte-americano, Donald Trump - Kevin Lamarque/Reuters

Com Estelita Hazz Carazzai, Folha de São Paulo e NYT
WASHINGTON
A poucas horas do prazo final, o presidente dos Estados Unidos, Donald  Trump, decidiu prorrogar, na noite desta segunda (30), a suspensão do aumento das tarifas de importação sobre o aço e o alumínio, que afetariam significativamente a indústria siderúrgica brasileira.
 
As sobretaxas começariam a valer nesta terça (1º), mas o americano decidiu prolongar a isenção por mais um mês ao Brasil, à Argentina, à União Europeia e à Austrália, de acordo com o Wall Street Journal.
 
A suspensão, assim, valerá até o dia 1º de junho. A Casa Branca ainda não havia confirmado a informação até a conclusão desta edição. 
 
Os EUA são o maior comprador do aço brasileiro —e uma sobretaxa de 25%, como anunciara o americano, poderia comprometer as exportações do Brasil.
 
Depois de anunciar as tarifas em março, sob o argumento de proteger a segurança nacional e a indústria siderúrgica dos EUA, Trump decidiu suspender temporariamente a sobretaxa, abrindo negociações bilaterais com os principais exportadores dos produtos.
 
O Brasil enviou comitivas a Washington e contratou um dos principais escritórios de advocacia e lobby da cidade para ajudar nas tratativas.
 
Além dos quatro países que obtiveram a prorrogação, a Coreia do Sul conseguiu uma isenção definitiva das sobretaxas por meio da negociação de um novo acordo de comércio com os EUA, segundo o Wall Street Journal.
 
México e Canadá, por outro lado, devem continuar poupados enquanto durarem as negociações do Nafta, o acordo de livre-comércio da América do Norte.
 
Apesar da notícia, o tensionamento das negociações, que permanecem indefinidas, demonstrou a líderes estrangeiros que décadas de relações calorosas com os EUA pouco importam para um presidente que não dá importância às normas diplomáticas e é hostil às regras básicas do comércio internacional.
 
O que começou como uma forma de proteger empregos nos setores de aço e alumínio americanos, na prática, se tornou uma alavanca do governo Trump para extrair concessões em outras áreas –como as exportações de carros para a Europa, ou a revisão do Nafta.
 
A União Europeia, maior parceira comercial dos Estados Unidos, indicou no fim de semana que estava perdendo a esperança de chegar a um acordo, diante do que muitos dos líderes políticos da região encaram como demandas pouco razoáveis. 
 
Se as tarifas entrarem em vigor, de acordo com o governo alemão, “a União Europeia deve estar pronta para defender seus interesses de maneira decidida, nos termos das regras multilaterais de comércio internacional”.
 
A incerteza também gerou caos nas redes internacionais de suprimentos. A poucas horas do prazo final, montadoras de automóveis e outras companhias do setor industrial ainda não sabiam se navios carregados de aço estariam repentinamente proibidos de entrar nos portos dos Estados Unidos.
 
Alguns países permanecem confiantes de que evitarão as tarifas. O Brasil, que exporta primariamente placas de aço, argumenta que seu produto é subsídio para a indústria americana, e espera escapar chegando a um acordo sobre cotas limitadas para produtos mais sofisticados.
 
Já a Argentina conta com o bom relacionamento entre seu presidente, Mauricio Macri, e Trump.
“Nas conversações que temos sobre a questão, os relacionamentos positivos entre nossos governos - e nossos presidentes - certamente são assunto”, disse Miguel Braun, secretário do comércio exterior argentino.
 
Em termos de potenciais perturbações para a economia mundial, a disputa com a Europa pode ser a mais grave. EUA e União Europeia respondem por cerca de um terço do comércio mundial.
 
Poucos anos atrás, os dois discutiam a possibilidade de eliminar quase todas as barreiras ao comércio transatlântico. Agora, suas visões de mundo se tornaram fundamentalmente diferentes. 
 
Para os europeus, Trump está exigindo concessões que os tornariam cúmplices no desmantelamento da estrutura de comércio internacional criada no pós-guerra, que é vista por eles como sagrada. A Europa quer seguir as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), mas os americanos estão apresentando demandas que os forçariam a violá-las.
 
Os carros alemães, um dos principais alvos da ira de Trump, representam um dos maiores obstáculos.
O secretário do comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, vem pressionando os países do bloco a reduzirem suas tarifas sobre carros americanos, como forma de reduzir seu superávit no comércio com os EUA.
 
Mas, se a União Europeia aceitar a demanda, teria que aplicar termos semelhantes aos automóveis produzidos por todos os demais membros da OMC, segundo os tratados internacionais de que é signatária.
 
O maior beneficiário seria a China. A China é membro da OMC, deseja se tornar exportadora de automóveis e adoraria ter acesso facilitado à Europa sem conceder algo em troca.
 
Os europeus estão ofendidos por se verem compelidos a negociar. Cecilia Malmström, comissária de comércio exterior da União Europeia, disse na semana passada que só discutiria termos de comércio com os EUA depois de receber isenção permanente e incondicional quanto às tarifas sobre o aço e o alumínio.
“Quando isso for confirmado pelo presidente”, disse Malmström, “estaremos como sempre dispostos a discutir qualquer coisa. Mas não negociamos sob ameaça”.
 
A União Europeia já preparou uma lista de produtos que poderiam ser alvo de retaliações. A lista de alvos foi selecionada para causar a maior dor possível às regiões dos EUA que favorecem o partido republicano, e inclui lanchas recreativas fabricadas no Tennessee, gravadores digitais feitos no Arizona e baralhos fabricados no Kentucky.
 
Mas a estratégia pode não ser efetiva. Líderes empresariais que visitaram Washington recentemente disseram que Trump não estava se deixando afetar pelos protestos.
 
O impacto direto das tarifas sobre o comércio mundial, presumindo que entrem em vigor, seria mínimo, dizem economistas. Ainda que o aço desempenhe papel importante na imaginação do público, responde por apenas uma pequena fração do comércio internacional.
 
Os economistas estão mais preocupados com a possibilidade de uma escalada na guerra comercial entre EUA e China, cujos efeitos são difíceis de prever. 
 
“Quando dois elefantes brigam”, disse Miguel Ponce, presidente do Centro para o Estudo do Comércio Internacional no Século 21, na Argentina, “quem mais sofre é a grama”.