Maior representação do centro e da direita nas votações ajudou os ativos de risco e o real, que também contaram com auxílio dos índices americanos
O Ibovespa fechou em alta de 5,54% nesta segunda-feira (3), a maior desde abril de 2020. O principal índice da Bolsa brasileira é impulsionado, em parte, pelos resultados das eleições locais deste domingo, mas também contou com um forte auxílio vindo do exterior.
No cenário interno, a votação do primeiro turno trouxe surpresas vistas como positivas pelo mercado. A menor diferença entre os candidatos à presidência, o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), a formação do Congresso e os resultados das disputas pelos cargos de governadores ajudaram a melhorar o sentimento dos investidores.
A visão dos especialistas é que, com o resultado, mesmo no caso de uma vitória do petista, o próximo governo terá de fazer diversas concessões ao centro na busca pela governabilidade.
“O resultado de ontem, no caso de uma vitória de Lula, irá empurrá-lo mais ao centro. Isso é positivo para a situação fiscal, que vai ser super importante a partir de 2023, e também mostra que não houve a ‘onda vermelha’. A configuração atual do congresso deve se manter e ficar ainda mais forte”, explica Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital.
As ações das estatais, por conta do possível governo mais ao centro, foram destaque entre as maiores altas por peso no Ibovespa – os papéis ordinários e preferencias da Petrobras (PETR3;PETR4) subiram, respectivamente, 8,86% e 7,99%, os ordinários do Banco do Brasil (BBAS3), 7,63%.
Entre as altas percentuais, ficaram as companhias ligadas ao mercado interno, por conta da melhor perspectiva para a economia brasileira, e de utilities (energia elétrica e saneamento) – com investidores acreditando que alguns processos de privatizações, por conta das eleições, também podem acelerar.
Aéreas e setor de utilidades são destaques
As ações preferenciais da Gol (GOLL4) e da Azul (AZUL4) ignoraram a alta de 4,12% do barril de petróleo Brent – que se deu após a Opep sinalizar uma queda da produção diária- , e que pesa nos seus custos do setor – e subiram 12,54% e11,35%, na sequência.
As ações ordinárias da Sabesp (SBSP3), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, subiram 16,94% e as preferenciais da Cemig (CMIG4), Companhia Energética de Minas Gerais, 10,69% – nos dois estados “donos” das autarquias, representantes mais à direita ficaram na frente nas eleições.
” Os juros caíram forte, na minha opinião, por conta da composição da Câmara e do Senado. Ficou claro que vamos ter uma oposição muito forte travando qualquer atitude mais drástica em relação a parte fiscal e contas do país. Por isso, acho que o mercado tirou esse risco aí da parte longa da curva”, explica Vitorio Glaindo, head de análise fundamentalista da Quantzed. “As empresas correlacionadas a juros do setor interno como varejo, construção civil e estatais estão com desempenho muito forte, influenciadas pela queda nas taxas”.
A curva de juros fechou toda no vermelho. Os DIs para 2023 foram a 13,68%, com queda de 1,8 ponto-base, e os para 2024 foram a 12,72%, baixa de cinco pontos. Os DIs para 2027 e 2029 perderam, respectivamente, 12 e 23 pontos, a 11,46% e 11,30%. A taxa do contrato para 2031 recuou 25 pontos, a 11,55%.
O real também foi beneficiado pela perspectiva de melhor situação fiscal – o dólar comercial caiu 4,09% frente à moeda brasileira, a R$ 5,173 na compra e a R$ 5,174 na venda.
Além de cenário local, exterior também impulsionou Ibovespa
Apesar de o resultado das eleições terem ajudado o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira também contou com um empurrão do exterior.
Em Nova York, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 2,66%, 2,59% e 2,27%.
“Com as bolsas americanas em recuperação no dia de hoje, isso abriu espaço para que o Ibovespa apresentasse um movimento expressivo após o resultado das eleições trazer um viés positivos para os ativos de risco, principalmente para as empresas mistas e estatais”, comenta a economista especialista em mercados Ariane Benedito.
Sidney Lima, analista da Top Gain, vai no mesmo sentido. “Além do mercado local, discursos de integrantes do Federal Reserve, como de John Williams, de Nova York, também beneficiaram o sentimento positivo lá fora, o que acabou refletindo por aqui nesse final de tarde”, expõe.
Em discurso, Williams falou que a economia americana vem mostrando sinais de arrefecimento, apesar de não descartar que há ainda “trabalho a ser feito”.
Nos Estados Unidos, a curva de juros também recuou bem – os treasuries yields para dez anos foram a 3,643%, recuando 16,1 pontos-base, e os para dois anos foram a 4,12%, com menos 8,9 pontos.
Com informações de Vitor Azevedo, InfoMoney