Aumentar a produtividade foi a principal razão da volta ao escritório
Parece que o fantasma da pandemia está finalmente deixando o mercado de escritórios de São Paulo. Pela primeira vez em dois anos, a taxa de vacância — que mostra a quantidade de edifícios corporativos desocupados — diminuiu na maior capital do país, segundo dados da Buildings, consultoria especializada em pesquisa imobiliária corporativa.
No primeiro semestre de 2020, a taxa de vacância era de 13,3%. No último trimestre de 2021, atingiu o pico de 21,3%. Já no primeiro trimestre de 2022, baixou para 21%. Pode parecer pouco, mas para Fernando Didziakas, sócio-diretor da Buildings, essa redução demonstra que as coisas estão voltando ao normal de forma natural. “A gente sempre entendeu que o movimento de escritórios fechados e todos os funcionários em casa era algo temporário. Não existe um mundo em que as pessoas não voltem para o trabalho presencial.”
De fato muitas empresas devolveram seus escritórios durante a pandemia, mas outro fator contribuiu muito mais para aumentar a quantidade de escritórios desocupados: a entrega de novos empreendimentos, em um volume grande. “Só para ilustrar, entre 2016 e 2017, passamos por uma crise econômica e nessa mesma época tivemos muitas entregas de novos empreendimentos, que tinham começado a ser construídos em 2013. Por causa desse boom de entregas, a taxa de vacância foi maior do que o visto na pandemia”, conta Fernando.
Volta ao presencial
Para Fernando, uma das motivações por trás do movimento foi a mudança de pensamento das empresas. Quando as companhias que apostaram muito no home office como algo definitivo perceberam o desgaste que o modelo de trabalho gerava na equipe, resolveram voltar ao presencial. “A gente ouvia de amigos, que eles estavam trabalhando mais de casa do que o normal e nem todos tinham uma boa estrutura para fazer escritório.”
Segundo Amaury Cunha Carvalho, diretor da OM30, empresa de tecnologia da informação, a principal razão da volta total ao escritório foi a necessidade de aumentar a produtividade. Sem contar os profissionais de TI (tecnologia da informação) — que moram em outros Estados — todos os trabalhadores da empresa sempre atuaram presencialmente. Por isso, em março de 2020, quando começou a pandemia e houve a necessidade de afastamento social, os funcionários tiveram de se acostumar a trabalhar em casa.
Amaury conta que houve dificuldade para achar um ritmo de entrega, e a comunicação entre os trabalhadores ficou mais lenta, o que acabou atrapalhando um pouco a produtividade. “No dia a dia, por exemplo, existem demandas urgentes, e quando estava em home office, o controle ficava mais aberto, porque demorava para chamar todos, colocá-los em uma sala virtual para tratar do assunto.”
Quando o impacto da pandemia começou a refrear, automaticamente os responsáveis pela empresa pensaram no retorno presencial. “Entre março a abril do ano passado alugamos a sala do lado, aumentando o espaço do escritório, e começamos a intercalar a vinda dos funcionários. A volta de uma forma mais maciça deles ocorreu em junho de 2021”, conta o diretor da OM30. “Hoje, se acontece algo urgente, chamo todos os gestores de áreas para uma sala de reunião, tratamos do assunto e todos saem com demanda.”
Para ter todos os trabalhadores no escritório foram feitas adaptações: mais espaçamentos entre áreas, mudança na climatização — instalação de ar-condicionado e janelas grandes nas salas — e implementação de vidros entre os funcionários.
Futuro do trabalho
De acordo com a Buildings, o modo de trabalho híbrido (presencial e home office) está mais próximo de uma perpetuidade definitiva, em razão da diminuição de empreendimentos que serão entregues nos próximos três anos. Atualmente há 450 mil metros em construção na cidade; entre 2012 e 2013, esse número chegou a 1,5 milhão de metros quadrados.
Para Amaury, porém, o presencial deve permanecer como principal modalidade de trabalho, e não o modelo híbrido. Inclusive, futuramente, sua ideia é comprar um local próprio ou alugar um espaço maior, para acomodar a quantidade de funcionários que deve aumentar com o crescimento das demandas pós-pandemia.
Rebecca Vettore,Revista Oeste