sexta-feira, 29 de abril de 2022

'A democracia do bilhão', por Guilherme Fiuza

 

Conta de twitter do Bill Gates | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Reprodução


A batalha por alguns dos direitos elementares nas sociedades civilizadas está saindo do império das leis para o império da grana


Oricaço que quer comandar uma missão espacial resolveu iniciar os trabalhos na Terra mesmo. 

\Nem precisou de foguete para fazer o Planeta tremer — de nervosismo, excitação, despeito, emoção e outras coisas mais. 

\Há quem diga que o mundo começou a mudar de rota.

Elon Musk comprou o Twitter. \

O CEO da montadora Tesla e homem mais rico do mundo não fez um movimento discreto — tipo virar majoritário e agir gradualmente nos bastidores sem solavancos para a gestão da empresa. Musk saiu dizendo com todas as letras — no próprio Twitter — que estava ali para decretar a liberdade de expressão.

Bill Gates acompanha os movimentos de Elon Musk com uma postura dúbia. 

\O fundador da Microsoft e atual investidor onipresente na área de saúde faz as ressalvas politicamente corretas de respeito ao megaempreendedor dos carros elétricos. 

\Mas sempre que pode dá um jeito de depreciá-lo. Cada vez mais vai ficando claro que o mundo é muito pequeno para os dois.

Gates transformou o capitalismo em outra coisa. Com os confrades do Fórum Econômico de Davos, leva adiante a ideia de juntar seus intermináveis bilhões de dólares para dar as cartas sobre tudo — com uma bela embalagem de altruísmo, benemerência e todo um cardápio de virtudes comportamentais modernas. 

Para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde — onde Bill colocou muito dinheiro — irá propor um tratado com vigência especial para períodos de pandemia. 

Nessas situações, segundo o tratado em preparação, as diretrizes da OMS seriam sobrepostas às leis nacionais.

Bill Gates é agente decisivo nessa conjunção de forças “contra a desinformação”

Entendeu a ideia? Todo esse enredo de lockdown e imunizantes emergenciais passaria de recomendação a determinação mundial, do jeito que a OMS ditar, acima da Constituição de cada país.

Como você também sabe, Bill Gates investe alto na indústria farmacêutica. 

E como vimos nos e-mails vazados do Dr. Anthony Fauci, assessor de saúde da Casa Branca e coordenador do enfrentamento à pandemia, houve uma articulação para controlar os conteúdos relativos à covid em circulação nas redes sociais. 

Bill Gates estava muito presente na correspondência eletrônica do Dr. Fauci.

Vá vendo qual é a rota de colisão entre Gates e Musk. 

O primeiro é agente decisivo nessa conjunção de forças “contra a desinformação” que tornou praticamente impossível, por exemplo, a discussão pública sobre tratamentos imediatos contra covid — sendo que no Brasil, para se ter uma ideia, o Conselho Federal de Medicina afastou a alegação de que seriam tratamentos conclusivamente inócuos ou perigosos e garantiu a autonomia dos médicos na matéria.

Ainda assim as autoconsagradas “agências de checagem” saíram carimbando como fake news qualquer referência a esse tipo de tratamento — e esta Revista Oeste inclusive derrotou na Justiça uma dessas entidades franco-atiradoras, que tentou desclassificar uma reportagem sobre esse assunto (entre outras).

Aí aparece Elon Musk comprando uma das grandes redes sociais e declarando que, dali em diante, aquele gigantesco universo de comunicação passa a ser livre dos controles de conteúdo. 

É uma boa notícia? 

Parece ser. 

E ao mesmo tempo assustadora.

O que há de assustador nisso? 

Simples: a batalha por alguns dos direitos elementares nas sociedades civilizadas está saindo do império das leis para o império da grana.

Falamos acima sobre a conduta, digamos, exótica da OMS e sobre as possíveis origens da sua inspiração. 

A mesmíssima constatação pode ser feita quanto a entidades reguladoras, judiciárias e governos inteiros. 

Onde está a fundamentação técnica sobre toques de recolher noturnos como medida eficaz para contenção epidemiológica? 

Em lugar nenhum. 

No entanto, esse tipo de medida brutal foi visto no mundo inteiro, sem qualquer revisão das instituições que guarnecem a democracia.

Infelizmente a legalidade virou uma abstração em diversas condutas institucionais da atualidade, não só no Brasil. 

E quem são os novos fiéis da balança? 

Onde está o lastro nas sociedades para aquilo que se chamava de Direito e hoje virou Vontade? 

Não sabemos ao certo. 

O que está evidente é que a nova institucionalidade tem estado sempre em consonância com a propaganda avassaladora da turma do Bill.

Quem sabe o companheiro Elon não empresta uns parafusos do foguete dele para dar uma recauchutada na democracia mundial?

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Revista Oeste