sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

'Com 9 taças em 2 anos, Fla desperta inveja e novo patamar na avaliação do campeão', escreve Mauro Cezar Pereira


Jogadores do Flamengo carregam o técnico Rogerio Ceni após o título Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

Jogadores comemoram com Rogério Ceni



Que a atuação do Flamengo na última e decisiva partida do campeonato brasileiro foi tenebrosa, todos que assistiram à partida notaram. Um time se arrastando em campo, sem imaginação diante de um São Paulo que apenas se defendia e venceu com imensa colaboração do jovem, e inconstante, goleiro Hugo "Neneca" Souza.

Mas quando se analisa uma conquista em pontos corridos, é preciso olhar para o todo, para as 38 rodadas, pois o campeão é aquele que mais pontua, ou seja, é impossível ganhar esse tipo de competição sem superar todos os adversários. E não importa quando o time assumiu a liderança, mas sim nela estar ao final.

Contudo, depois da forma avassaladora como faturou o título em 2019, o Flamengo criou uma exagerada expectativa. Como se repetir aquela temporada fantástica fosse algo quase automático. Mas a pandemia mudou o cenário e a saída de Jorge Jesus comprometeu o desenvolvimento do trabalho, que foi interrompido.

Quando saiu do clube, o português levou sua equipe inteira, as sete pessoas. Por quase duas semanas o elenco campeão brasileiro e da Libertadores ficou sem treinador, com profissionais das divisões de base tocando o dia a dia, até a chegada de Domènec Torrent, que tentou, apressadamente, mudar o estilo do time.

Por isso quando Rogério Ceni o substituiu, o objetivo era colocar a equipe numa rota de futebol mais competitivo e vencedor. Foram altos e baixos, uma partida lamentável na rodada final, mas a defesa melhorou bem e depois de tentativas mal sucedidas, o Flamengo conseguiu voltar a triunfar e, importante, com proposta de jogo compatível.

Podemos apontar defeitos na equipe, identificar que não desenvolveu o seu potencial, bem abaixo de 2019, ano do auge. Mas mesmo sem jogar bem algumas vezes, era um Flamengo ousado, que reunia em campo seus jogadores mais técnicos e tentou, sempre, jogar no ataque, sem recusar a bola.

Nem Jesus escalou Willian Arão, Diego, Gérson, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol juntos. Um time sem volante e com um meia que o português transformou em primeiro homem de meio-campo recuado para a zaga com o intuito de melhorar a saída de bola, dar mais qualidade ao passe inicial.

Só por aí era perceptível que o time de Ceni queria jogar, não se defender para arriscar contra-ataques e bolas paradas, como tantos outros. Mesmo sem conseguir executar essa tarefa da forma que gostaria e as pessoas esperavam ver, a proposta, a tentativa, a insistência em um estilo que privilegia a habilidade, a técnica, era louvável.

Ao ganhar o campeonato, mesmo jogando mal e perdendo pela quarta vez para o São Paulo na temporada, o Flamengo tentou praticar futebol ofensivo e de controle da pelota. Nesse país onde por anos imperaram os técnicos do jogo reativo, do "não quero a posse", ou "o problema é quando você tem a bola", isso é louvável.

Mas quando alguns avaliam com viés de baixa um título conquistado na pandemia, saindo atrás, liderando apenas a partir da penúltima rodada, nota-se um rigor que jamais existiu com as equipes do jogo pobre de ideais, pragmático. Uma contradição? Preferência por futebol feio e deliberadamente mal jogado? Ou incômodo ao ver o time deixar o "cheirinho" para trás e colecionar taças?


Em duas temporadas, o Flamengo ergueu nove troféus:

1) Taça Rio 2019

2) Campeonato Carioca 2019

3) Copa Libertadores 2019

4) Campeonato Brasileiro 2019

5) Supercopa do Brasil 2020

6) Recopa Sul-americana 2020

7) Taça Guanabara 2020

8) Campeonato Carioca 2020

9) Campeonato Brasileiro 2020


Gazeta do Povo