sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Ana Paula Henkel: "Por que os democratas querem os imigrantes ilegais"

É tenebroso o futuro da política de fronteiras abertas. E o Partido Democrata repete chavões fofos para garantir um grande contingente de novos eleitores









Um dos slogans da campanha de Donald Trump em 2016, desde as primárias republicanas, foi o famoso Build the wall (“Construa o muro”), uma marca registrada que ele também carregou durante os quatro anos na Casa Branca. 

A frase, que foi usada incansavelmente por seus opositores para tentar implicar Trump numa política xenófoba de imigração, refletiu durante sua passagem pelo Salão Oval como um dos pontos importantes para seus eleitores e para aqueles que têm a intenção de discutir o sensível tema da imigração ilegal com um mínimo de honestidade intelectual.

Entre as mais de 40 ordens executivas já assinadas por Joe Biden está aquela que determina a paralisação imediata dos trabalhos para a construção do longo muro que protege as fronteiras norte-americanas com o México. 

A obra foi iniciada ainda na administração de Bill Clinton, mas nunca teve apoio político dos democratas para avançar, mesmo durante os anos do governo de Barack Obama. 

Donald Trump, com sua agenda America First (“América Primeiro”), de não apenas empregar e dar atenção prioritária a norte-americanos, mas também de tentar reduzir a criminalidade no país, retomou a construção do muro sem medo de a medida ser usada negativamente por democratas defensores da agenda politicamente correta.

Dentro do novo espectro de medidas da ala radical de Biden e Harris está a concessão de cidadania a milhões de imigrantes ilegais. Normalmente, o caminho para a legalização da permanência desses imigrantes seria o green card

Entretanto, portadores de green card — o documento que assegura o direito a residir legalmente no país — não podem votar em eleições para cargos públicos nacionais, tais como deputados, senadores e presidente. Há poucas exceções, apenas para algumas eleições locais. 

A manobra dos democratas é clara: conceder cidadania norte-americana ao maior número possível de imigrantes ilegais para ganhar o voto desse contingente e assegurar a permanência no poder. 

O número oficial de estrangeiros ilegais é de 11 milhões, mas a Universidade de Yale e o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) calculam que exista uma quantidade relevante de “invisíveis”. 

O total estaria entre 16 milhões e 29 milhões, uma vez que muitas dessas pessoas se recusam a responder ao Censo com receio de deportação.

O radicalismo das fronteiras abertas de Joe Biden é um convite a um tsunâmi humano de migração ilegal. Isso já é demonstrado pelas mais recentes estatísticas da US Border Patrol (Patrulha de Fronteira dos EUA): as apreensões de adultos na fronteira sul em janeiro de 2021 aumentaram 182% em relação a janeiro de 2020, de 86.449 para 244.053 no total. 

Os movimentos de Biden parecem enfraquecer a fronteira. Além disso, sinalizam um pesadelo econômico, humanitário e de segurança nacional.

A América do ex-vice de Barack Obama já suspendeu todas as deportações e está desmantelando a política altamente eficaz que a administração Trump estabeleceu de “permanecer no México” para os requerentes de asilo. Biden pediu ao Congresso, de maioria democrata, que conceda anistia em massa àqueles que já estão aqui. 

Ele também anuncia promessas de benefícios públicos generosos para novos estrangeiros ilegais, como assistência médica financiada pelo pagador de impostos. Interesses poderosos se alinham para ajudar Biden a recompensar as grandes corporações com mão de obra barata e o Partido Democrata com novos constituintes.

Dr. Peter Navarro, importante conselheiro econômico da administração Trump na Casa Branca, acaba de publicar um novo relatório detalhando estatísticas que retratam o tamanho do risco, especialmente para a classe trabalhadora. 

O valor do trabalho de baixa qualificação tende a despencar, dada a concorrência desleal que adviria. Navarro também detalha os impressionantes custos da migração ilegal em massa. 

Em Estados progressistas, comandados pela ala radical democrata, como a Califórnia, o sistema de saúde Medicare já está aberto a todos os residentes, incluindo os ilegais. Somando-se as despesas com escolas públicas para crianças que vivem ilegalmente no país aos custos de moradia e julgamento para falsos pedidos de asilo, o gasto total do governo em todo o país para a imigração ilegal ultrapassa US$ 100 bilhões anualmente.

Além dos custos financeiros colossais, o tributo humano de fronteiras abertas acaba por infligir uma miséria totalmente desnecessária aos cidadãos norte-americanos das classes mais baixas. A maioria dos imigrantes ilegais chega sem intenção criminosa, mas uma minoria muito perigosa nesses grupos aterroriza as ruas praticando crimes 100% evitáveis. 

A violenta gangue mexicana MS-13 agora opera amplamente em todo o país e propaga o “script do asilo” para importar da América Central novos criminosos. As vítimas de seus crimes, notavelmente, quase sempre são cidadãos de ascendência hispânica.

Um em cada três homens mexicano-americanos com idade entre 18 e 24 anos na Califórnia relatou ter sido preso

Essa realidade contradiz a falácia democrata de que controlar a imigração é, de alguma forma, intrinsecamente uma medida preconceituosa. Na verdade, as minorias sofrem desproporcionalmente com a concorrência ilegal de salários e também com o crime perpetrado por ilegais perigosos.

O livro sobre o tema do historiador norte-americano Victor Davis Hanson, Mexifornia: A State of Becoming, é duramente criticado pela esquerda nos EUA, que acusa o professor do Hoover Institute, em Stanford, de ser racista e isolacionista. Hanson já abordava o tema em 2003, quando a obra foi lançada. 

Ele expôs graves preocupações que se provaram prescientes, como a de que muitas cidades californianas se tornariam “meio México, meio América”, rumo a um declínio cultural e econômico.

Em 2005, dois relatórios do Government Accountability Office, atualizados em 2011, já mostravam como Victor Davis Hanson estava correto: o primeiro levantamento descobriu que os estrangeiros criminosos (legais e ilegais) constituíam 27% de todos os prisioneiros federais. 

No entanto, de acordo com o Center for Immigration Studies, os não cidadãos representavam apenas cerca de 9% da população adulta do país. Assim, a julgar apenas pelos números nas prisões federais, os não cidadãos cometem crimes federais três vezes mais que os cidadãos.

No segundo relatório, as informações são ainda mais perturbadoras. Aos números: durante o ano de 2003, 55.322 estrangeiros encarcerados no país haviam entrado ilegalmente nos EUA e continuavam ilegais no momento da prisão; eles já haviam sido presos 459.614 vezes — uma média de 8,3 detenções por estrangeiro ilegal — e cometeram quase 700 mil crimes — média de 12,7 crimes per capita.

De todas as prisões, 12% foram por crimes violentos, como assassinato, roubo, agressão e crimes relacionados a sexo; 15% se deveram a roubo, furto e danos materiais; 24% eram por delitos de drogas; e as demais infrações foram por dirigir alcoolizado, fraude, falsificação, porte e posse de armas ilegais e obstrução da justiça.

Hans von Spakovsky, advogado, membro da Heritage Foundation e autoridade respeitada em assuntos atinentes a direitos civis e imigração, acrescenta que esses relatórios não fornecem um número preciso de crimes cometidos por estrangeiros ilegais: 

“Se houvesse uma maneira de incluir todos os crimes, os números provavelmente seriam mais altos, porque os promotores muitas vezes concordam em retirar as acusações contra um estrangeiro ilegal se tiverem a garantia de que as autoridades de imigração entrarão com processo de deportação”. 

Independentemente de como analisar essas estatísticas, as evidências suportam a tese original do professor Hanson e suas recomendações: necessidade de fiscalização nas fronteiras, documentos de identidade, sanções ao empreendedor que emprega imigrantes ilegais e, não menos importante, um programa de assimilação do estrangeiro ao país.

Um dos tópicos de destaque do livro de Hanson é a diferenciação da imigração mexicana de fluxos migratórios anteriores. Os defensores do status quo costumam dizer que há algumas estatísticas negativas relacionadas à primeira geração de imigrantes mexicanos, mas o mesmo ocorreu com italianos. 

O problema dessa afirmação, para Hanson, são os dados sobre a segunda geração de mexicanos. 

É grande a pobreza, a dependência da previdência estadual ou federal, a evasão do ensino médio e, finalmente, a ocorrência de atividades criminosas. Um em cada três homens mexicano-americanos com idade entre 18 e 24 anos na Califórnia relatou ter sido preso. 

O cenário na educação é dramático. 

O Distrito Escolar de Los Angeles, que é 73% hispânico, registra uma taxa de graduação de 60%. E, entre aqueles que se formam, apenas um em cada cinco se qualifica para o ingresso numa faculdade.

Em Mexifornia, Victor Davis Hanson defende também a tese de que um dos principais fatores para a não assimilação de muitos mexicanos é a proximidade geográfica de seu país de origem. Um agricultor indígena que veio da zona rural do México pode deixar Los Angeles e estar no país vizinho em três horas — menos que o tempo para vencer a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. 

Em contrapartida, imigrantes de nações como Japão, Filipinas, China e até Espanha estão completamente isolados da nação-mãe e são forçados a aprender inglês, assimilar a cultura local e juntar-se ao famoso melting pot, em vez de viver num enclave étnico.

Nascido e criado na Califórnia, Victor Davis Hanson se viu parte de uma minúscula minoria branca em meio a uma maioria mexicana e mexicano-americana durante boa parte de vida escolar. 

Por causa do casamento misto em sua família, os hispânicos estão bem representados em sua árvore genealógica e Hanson defende a ideia de que uma reforma migratória é necessária até para proteger aqueles que já estão nos Estados Unidos e contribuem de forma importante e honesta para a sociedade.

Para isso, o respeitado professor de Stanford diz que há uma razão pela qual as pessoas vêm construindo muros há 5 mil anos e alerta para a seriedade do debate, que deve ser estabelecido longe do campo do preconceito. 

O momento de discussões rasas sobre o assunto é perigoso e expõe a falácia dos justiceiros sociais. “Construa pontes, não muros”, repetem aqueles que, escolhendo o aplauso rápido e fácil, propagam frases de efeito em suas redes sociais a partir de seus smartphones, enquanto desfrutam de pleno conforto em condomínios fechados cercados de muros e proteção.

Revista Oeste