O festival de canetadas de Biden, entre várias medidas ‘progressistas’, estabelece que homens biológicos que se declarem mulheres poderão competir em times femininos
No artigo da edição passada para a Revista Oeste, relatei como o novo presidente dos Estados Unidos é uma antiga peça da velha política de Washington no novo cenário da esquerda norte-americana.
Joe Biden transita pelos corredores do Capitólio e da Casa Branca há 47 anos.
É o que era chamado por Donald Trump de mais uma “criatura do pântano” — uma referência aos bancos de rios e ao solo úmido da planície inundada sobre a qual foi construída a capital.
A expressão “drenar o pântano” foi usada incansavelmente por Trump em sua administração com a intenção de passar a mensagem de que a velha política de compadrio de Washington seria combatida e as “criaturas do pântano”, expostas.
Mas, depois de quatro anos de malcriações digitais e políticas reais, o bufão laranja perdeu.
O pântano venceu.
Pelo menos por agora.
E junto com essa vitória, com ou sem fraude, suas criaturas estão de volta, ouriçadas com a possibilidade do poder absoluto — aquele que disseram que Trump usaria — por pelo menos dois anos.
Além da Presidência, os democratas agora detêm o controle das duas casas legislativas.
Oligopólios e tecnocratas financiaram a campanha que elegeu políticos para proteger oligopólios e tecnocratas.
Lobistas endinheirados pendurados em cargos na Casa Branca operam para que a vontade de cidadãos comuns não interfira na ordem do dia ou na vida de oligopólios e tecnocratas que financiam campanhas…
É o pântano em seu maior esplendor.
Ainda há quem insista em dizer que não existe esquerda nos Estados Unidos e que o Partido Democrata seguiria apenas uma linha social-democrata.
Bem, se estivéssemos falando de algumas décadas atrás, até concordaria com essa afirmação.
No entanto, hoje, infelizmente, essa não é a realidade do antigo partido de John F. Kennedy — se estivesse vivo, ele provavelmente seria um republicano.
Com a desculpa da pandemia, os debates presidenciais antes das eleições norte-americanas de novembro foram cancelados.
Com um candidato escondido no porão, o país não pôde ver, entender ou ter certeza das plataformas da dupla Biden/Harris.
Coletivas com jornalistas eram sempre evitadas pelo então candidato democrata.
As entrevistas, quando aconteciam, eram ensaiadas com os mesmos militantes da imprensa.
E mesmo com todas as evidências do caminho que a dupla seguiria existia uma pontinha de esperança de que, se Donald Trump não conseguisse a reeleição, Biden, uma vez no topo do poder, não seguiria a agenda da esquerda radical de sua vice, Kamala Harris.
Como Biden sempre foi ligado à ala moderada do partido (e talvez por isso tenha saído vitorioso das primárias democratas), havia uma pequena expectativa de que ele não se ajoelharia diante da agenda globalista raivosa.
Mas a tal pontinha de esperança e a tal pequena expectativa viraram pó logo na largada do mandato.
Nas primeiras 72 horas como presidente dos Estados Unidos, Biden já havia assinado trinta ações executivas, sendo 19 ordens executivas diretas, todas seguindo os perturbadores caminhos da nova esquerda.
Dez das canetadas de Biden reverteram direta e imediatamente as políticas de Trump.
Apenas para efeito de comparação, nos mesmos primeiros três dias na Casa Branca, Donald Trump assinou uma única ordem executiva; Barack Obama, cinco; George W. Bush, nenhuma; Bill Clinton assinou apenas uma.
A razão para tantas ordens executivas poderia ser a pandemia?
Poderia.
Mas boa parte delas nada tem a ver com o vírus, e sim com a agenda radical democrata.
O pacote de ordens é uma clara demonstração do que mais arrepia os conservadores e os verdadeiros liberais: a sanha intervencionista do Estado sobre os cidadãos por meio de um governo onipresente e onipotente, sem a menor participação da sociedade.
As pautas ideológicas da nova esquerda norte-americana andam a todo o vapor. Seguem uma tendência histérica no mundo.
A mesma turma que grita “ciência” para quase tudo defende a ideia de que não há diferença entre um homem biológico e uma mulher biológica — embora celebre Kamala Harris como a primeira mulher a ser vice-presidente dos EUA.
Dentre as ordens executivas que Joe Biden assinou, uma é muito preocupante: ela coloca meninas competindo com meninos nos esportes.
É isso mesmo.
Trump havia ordenado exatamente o oposto, obrigando o governo federal a respeitar a obviedade — veja você — científica do sexo biológico.
A canetada de Biden proíbe o governo federal de “discriminar com base na orientação sexual ou identidade de gênero”.
A medida autoriza que atletas transgênero, meninos e homens biológicos, possam competir com meninas e mulheres em escolas e universidades apenas identificando-se como mulheres. Isso é gravíssimo.
Ryan T. Anderson, pesquisador sênior do Departamento de Princípios Americanos e Políticas Públicas da Heritage Foundation, em uma entrevista nesta semana foi além.
Ele tocou em um ponto que sempre menciono em minhas palestras e artigos sobre transexuais no campo esportivo feminino: a judicialização no esporte — agora com o agravante de que as mulheres que não são atletas também terão de buscar a defesa de seus direitos naturais nas cortes. Insanidade!
Anderson disse: “Pelos próximos quatro anos, veremos litígios intermináveis sobre a privacidade feminina quando se trata de espaços exclusivos para mulheres, como banheiros, vestiários e abrigos para sem-teto, onde os homens que se identificam como mulheres dirão que têm o direito civil de entrar e usar aqueles espaços.
Haverá litígios em nome de atletas do ensino médio e universidades que perderão corridas e competições para meninos do ensino médio que se identificam como meninas. Veremos litígios de médicos e enfermeiras.
É a guerra cultural que atingiu o enésimo grau com o presidente que estava falando sobre união e a cura da nação”, finaliza o pesquisador.
10 mil criminosos estrangeiros soltos. Praticamente um STF ianque
Curiosamente, a consequência dessa ordem absurda do democrata pode trazer união.
Não a união que Joe Biden finge que prega, tampouco a que ele desejaria que acontecesse.
Um dia depois de assinar a ordem executiva determinando que toda e qualquer instituição educacional que receba financiamento federal deve obedecer ao critério de “como as pessoas se identificam”, e não seu sexo biológico, a hashtag “#BidenErasedWomen” (Biden apagou as mulheres) disparou no Twitter.
O movimento nas redes sociais reuniu mulheres democratas, republicanas e pessoas de ambos os lados do espectro político.
Todos apontavam os vários perigos da medida que elimina o significado do sexo e traz vários efeitos devastadores para as mulheres.
Com a permissão para que homens biológicos possam competir com mulheres em esportes femininos, além do perigo de lesões graves nas modalidades de contato físico para as mulheres, meninos receberiam bolsas universitárias designadas especificamente para as mulheres sob a Lei Título IX (Title IX) — lei federal que garante às atletas o direito a oportunidades iguais nos esportes em instituições educacionais beneficiadas por recursos federais, desde escolas primárias até faculdades e universidades.
E seguimos.
A lista das canetadas de Biden em menos de 72 horas incluiu apagar várias determinações da administração Trump em relação a imigração e segurança doméstica.
O novo presidente e queridinho da velha mídia desfez as diretrizes relativas à adição de imigrantes ilegais ao Censo.
A nova ordem agora permitirá que eles sejam adicionados ao Censo norte-americano e, obviamente, ao número que determina a representação no Congresso, inflando a representação dos Estados com porcentuais mais elevados de imigrantes presentes ilegalmente.
Biden também cessou imediatamente a construção do muro da fronteira sul e até sugeriu substituir a palavra “imigrante ou estrangeiro” por “não cidadão” nas leis de imigração dos EUA.
O democrata também propôs a Lei de Cidadania dos Estados Unidos de 2021.
Trata-se de um projeto de lei que oferece anistia e cidadania norte-americana imediata a aproximadamente 11 milhões de imigrantes ilegais.
Ele também suspendeu as deportações e ordenou que o Immigration and Customs Enforcement (ICE) liberte todos os imigrantes ilegais detidos.
Um memorando interno do ICE divulgado por Tucker Carson, âncora do canal Fox News, diz aos agentes para “liberar todos imediatamente”.
Se isso se aplica a todos os 14.195 detidos sob custódia do ICE, convém destacar que 71% desse contingente é comporto de criminosos condenados ou acusados de crimes — além de ingresso e permanência ilegais no país.
Ou seja, na prática, Biden terá ordenado a libertação de mais de 10 mil criminosos. Praticamente um STF ianque.
Quando Trump implementou a proibição de viagens à China nos primeiros dias da pandemia de coronavírus em janeiro de 2020, o então candidato Biden criticou a ação executiva como “xenófoba”, alegando que tais restrições não funcionariam.
Um ano depois, Biden, por meio de mais uma ordem executiva, implementou suas proibições de viagens ao Brasil, à África do Sul, à Grã-Bretanha e a outros 26 países europeus.
Desde que assumiu o cargo, na última quarta-feira, a caneta de Joe Biden parece ter vida própria.
Entre as decisões executivas, algumas afetarão profundamente os assuntos internos, como o cancelamento da licença para a construção do oleoduto Keystone XL — assunto sobre o qual tratei no artigo da semana passada.
A medida é terrível para canadenses e norte-americanos.
O oleoduto de quase 2 mil quilômetros do Canadá até Nebraska se juntaria a redes já existentes para que 830 mil barris diários de petróleo canadense chegassem facilmente a refinarias e portos na Costa do Golfo.
De lá, poderiam ser exportados para o resto do mercado mundial.
Infelizmente, o projeto Keystone se tornou uma vítima da política ideológica de esquerda.
Embora o Departamento de Estado do presidente Barack Obama tenha descoberto por meio de cinco estudos separados que o projeto não teria impacto nas emissões de gases do efeito estufa, grupos ambientalistas lutaram contra o oleoduto desde o primeiro dia.
Uma análise adicional mostra que o transporte de petróleo por trem ou navio-tanque geraria mais emissões de gases de efeito estufa e mais riscos de vazamento.
Mais de 60 mil empregos foram apagados com essa assinatura de Joe Biden.
Entre as ordens impostas por Biden em menos de uma semana está a volta imediata ao Acordo Climático de Paris e à Organização Mundial da Saúde, instituição que errou em praticamente tudo acerca da pandemia histórica e hoje não passa de uma extensão do comando ditatorial chinês.
Desde o fim da década de 1980, presumimos que a abertura do comércio à China comunista transformaria o Estado repressivo daquele país.
Os EUA apostaram nisso mesmo depois da cena histórica na Praça da Paz Celestial.
Não funcionou.
Agora temos uma China ainda mais comprometida em reprimir seu povo e os trabalhadores norte-americanos acabaram perdendo ao longo das últimas décadas postos valiosos em razão da usurpação chinesa.
Trump iniciou uma guerra comercial e, apesar de muitos hoje estarem cientes das várias facetas do jogo desonesto chinês, figuras do pântano continuam fingindo cegueira, uma vez que estão de mãos dadas com negócios da China. Literalmente.
Também contra todas as probabilidades, e arrumando brigas no Pentágono que podem ter custado sua reeleição, Trump reduziu os níveis de tropas norte-americanas no exterior, especialmente no Iraque, no Afeganistão e na Síria.
Ele provou algo que parecia quase impossível ou inimaginável: a ideia de que um presidente norte-americano não iniciaria novas guerras.
Em menos de uma semana, Biden já aumentou o contingente de tropas no exterior e sinalizou aos senhores das armas do pântano que a torneira não vai secar.
A velocidade com que a lista de desejos da esquerda foi concedida por meio das ordens executivas de Joe Biden mostra exatamente onde estamos.
Os democratas e a sanha da agenda globalista não desejam união, eles querem dominação.
Sobre as famílias e seus filhos, sobre as comunidades e suas decisões.
Podemos até debater se Donald Trump é um verdadeiro conservador, no sentido original da palavra, ou se ele é apenas um narcisista de carteirinha.
No entanto, durante quatro anos, sua agenda foi implementada de acordo com uma plataforma conservadora baseada em liberdade e responsabilidade.
E, para isso, acredito não haver retorno.
O norte-americano voltou a sentir o tato das rédeas em suas mãos.
Ser conduzido por burocratas e tecnocratas em uma união global com um governo distante é o maior dos pesadelos — é a última coisa que um cidadão comum por aqui desejaria, democrata ou republicano.
Pela velocidade com que a caneta de Biden anda atuando, não me surpreenderia se o mau uso da nova tinta azul trouxesse de volta aquele velho e surrado boné vermelho.
Pode ser que “Make America Great Again” volte não apenas por ser moda ou um movimento político de oposição, mas por acabar tornando-se uma realidade.
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Revista Oeste