Sem base em dados e em prejuízo dos mais pobres, autoridades insistem no fechamento de atividades econômicas
Em março de 2020, para tentar conter o aumento de casos de coronavírus no Brasil, prefeitos e governadores decidiram fechar as escolas, proibir a abertura de bares e restaurantes, impedir o funcionamento de academias de ginástica e salões de beleza e restringir o máximo possível a circulação de pessoas.
Passados dez meses, para tentar conter o aumento de casos de coronavírus no Brasil, prefeitos e governadores decidiram fechar as escolas, proibir a abertura de bares e restaurantes, impedir o funcionamento de academias de ginástica e salões de beleza e restringir o máximo possível a circulação de pessoas.
Uma frase atribuída a Albert Einstein diz que “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Nada resume com mais precisão a atitude de governantes que insistem em decretar medidas drásticas de isolamento social — o chamado lockdown — para controlar a expansão da pandemia. A realidade informa que elas não foram bem-sucedidas antes. Também não o serão agora.
Quarentena escolar
No dia 13 de março do ano passado, as escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo receberam a notícia de que, na semana seguinte, teriam de fechar as portas por tempo indeterminado.
“Não sei se vai durar uma semana, duas semanas, 30 dias ou mais”, disse na época Rossieli Soares, secretário estadual de Educação, numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
“Vamos avaliar dia a dia, até que as autoridades de Saúde digam que as aulas poderão ser retomadas.” Assim teve início aquela que se tornaria a quarentena escolar mais longa do planeta.
Um levantamento realizado pela Unesco e divulgado em 24 de janeiro mostrou que, enquanto a maioria dos países fechou suas escolas por pouco mais de 20 semanas, no Brasil, as crianças e adolescentes ficaram longe das salas de aula pelo dobro do tempo: 40 semanas. Nesse recorde, o país só se equipara à Argentina, Chile, Moçambique e Etiópia.
De acordo com o estudo, aproximadamente 800 milhões de estudantes no mundo foram afetados e as instituições de ensino passaram, em média, dois terços do ano letivo fechadas.
No Brasil, quase 50 milhões de estudantes ficaram entregues à própria sorte — particularmente os 80% matriculados em escolas públicas.
Destes, cerca de 25% não têm acesso à internet. Uma pesquisa do Ibope realizada em agosto mostrou que, em domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo, um quarto dos estudantes não teve sequer acesso à educação remota. No mês de outubro, conforme a Pnad Covid19 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 6 milhões de alunos de 6 a 29 anos, da educação básica ao ensino superior, não tiveram acesso a atividades escolares.
Na educação básica, “inexistência de aulas” e “dificuldade com o acesso remoto” foram as principais causas da evasão escolar. No ano da pandemia, cerca de 4 milhões de jovens abandonaram os estudos, segundo uma pesquisa encomendada pelo banco digital C6 Bank.
Alfabetizar as crianças com aulas remotas é um dos maiores desafios. “Pessoalmente, consigo fazer com que elas sintam o som das letras; a distância, não dá”, lamentou a professora Rizomar Maria de Menezes, numa reportagem publicada na Folha de S.Paulo.
“Nenhuma criança do primeiro ano conseguiu se alfabetizar. Normalmente, no final dessa série, a maioria estaria lendo e escrevendo um pouco.”
Para Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, as crianças não estão apenas paradas. “Muitas vão andar para trás e, para recuperar, levarão dois, três anos”, constatou na mesma reportagem.
“É dramático do ponto de vista pedagógico.”
Um estudo coordenado pelo médico Fabio Jung, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e publicado em setembro de 2020, mostrou que o fechamento das escolas também ameaça a saúde psiquiátrica de crianças e adolescentes, compromete a segurança alimentar e os torna mais expostos a abusos e maus-tratos, a drogas e violência.
Cerca de 30% das crianças em confinamento podem passar a sofrer de transtorno do estresse pós-traumático.
“É importante entender que a escola vai muito além da aprendizagem”, lembrou Cláudia Costin, na reportagem “A educação pode ser a maior vítima da epidemia de medo”, publicada em Oeste.
“A escola é o espaço de socialização, de vivências, além de oferecer uma rede de proteção social à infância.”
Provas irrefutáveis
Pelo menos desde julho de 2020, o mundo sabe que a volta às aulas não compromete a saúde dos alunos nem acelera a transmissão do vírus. Muito menos suscetíveis à covid-19, crianças representam apenas 2% dos casos confirmados da doença e menos de 1% dos óbitos. Além disso, abaixo dos 11 anos, elas transmitem muito pouco e, quando contaminadas, são assintomáticas ou apresentam sintomas leves.
O coronavírus é 4,5 vezes menos agressivo que a gripe (influenza) na faixa etária até 14 anos, por exemplo.
Um estudo realizado pela fundação suíça Insights for Education com dados de 191 países e publicado em outubro concluiu que quase todas as nações que estavam sem aulas presenciais na primeira onda da pandemia eram países pobres e que teriam um prejuízo incalculável pelo déficit educacional.
A maioria dos que enfrentavam a segunda onda, entretanto, permanecia com as escolas abertas.
“Esse é o caso, por exemplo, do Japão, que durante o período do estudo passou por duas ondas de infecção, com o pico da segunda sendo notavelmente mais alto que o primeiro”, mostrou uma reportagem da Gazeta do Povo.
“O ápice das contaminações até então havia ocorrido em agosto, durante as férias de verão. Mas o sistema de ensino retornou normalmente às aulas mesmo com os casos ainda bastante altos.”
O economista Luís Artur Nogueira classificou a quarentena escolar como “um crime contra as crianças”.
“Neste um ano de pandemia, o número de mortos e contaminados pelo coronavírus aumentou, diminuiu e voltou a crescer mesmo com as escolas fechadas”, observou.
“Ou seja, elas não tiveram absolutamente nenhuma influência.”
Rossieli Soares, ao lembrar que algumas escolas reabriram para atividades extracurriculares em outubro de 2020, garantiu:
“Não registramos uma única contaminação dentro das escolas, nem entre alunos nem entre alunos e professores”.
Irrefutáveis, os argumentos a favor das aulas presenciais englobam constatações científicas que mostram que o afastamento do ambiente escolar prejudica, além do rendimento acadêmico, o desenvolvimento das capacidades sociais, o vínculo aluno-professor e a saúde mental.
“Não deveríamos de forma alguma estar discutindo se devemos ou não voltar”, disse Rossieli.
“Mas como fazemos para voltar o mais rápido possível.”
Apesar disso, o risco de as escolas permanecerem fechadas ainda ronda os estudantes. Até agora, nem todos os governadores e prefeitos se comprometeram com a retomada das aulas presenciais em fevereiro. E dezenas de sindicatos de professores espalhados pelo Brasil ameaçaram entrar em greve e paralisar aulas que ainda nem começaram.
Motivo: querem estar entre os primeiros na fila de vacinação contra a covid-19.
Na quarta-feira 27, o governo de São Paulo confirmou a reabertura em 1º de fevereiro. No dia seguinte, a decisão foi suspensa pelo Tribunal de Justiça do Estado sob o argumento de que “a situação atual da crise sanitária não justifica a retomada das aulas presenciais nas escolas localizadas nas áreas classificadas nas fases laranja e vermelha, em nome da proteção ao direito à vida”.
A ação foi protocolada por quatro sindicatos de professores. Rossieli Soares prometeu recorrer da decisão.
Quarentena gastronômica
Não foram apenas as escolas. Bares e restaurantes também se transformaram em bodes expiatórios, responsáveis pelo aumento das contaminações. Solução? Fechá-los. Assim, em quase todo o país, suporta-se uma “quarentena gastronômica” ainda sem prazo para acabar.
“O que está acontecendo com o setor é uma tragédia”, resumiu Percival Maricato, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em São Paulo (Abrasel-SP). “Cerca de 30% dos bares e restaurantes já fecharam as portas. Se houver um segundo lockdown, nem 20% conseguirão permanecer abertos.”
Poucos meses atrás, o governo paulista permitiu que os estabelecimentos voltassem a receber clientes de forma presencial até as 23 horas, com 60% da capacidade. Há uma semana, João Doria e seu “comitê de especialistas” mudaram de ideia.
Desde 25 de janeiro, os bares e restaurantes devem encerrar as atividades às 20 horas, de segunda a sexta-feira, e permanecer fechados nos fins de semana.
Esse mesmo comitê de notáveis não enxerga muito contágio nas festas clandestinas e pancadões que proliferam pela cidade, com centenas de pessoas aglomeradas. E nenhum de seus integrantes viu nada de mais durante os eventos de campanha ou nas comemorações de vitória das eleições de 2020.
O problema, para eles, são os restaurantes — onde o distanciamento social é cumprido à risca, a temperatura é medida na entrada, o álcool em gel está ao alcance dos clientes, os garçons usam uma proteção de acrílico sobre a máscara e mesas e cadeiras são desinfetadas incontáveis vezes por dia.
“Não são as 15, 20 pessoas sentadas distantes umas das outras nos restaurantes que estão causando essa pandemia”, observou Maricato. “Estão sacrificando um dos setores que mais geram empregos, atraem turistas e podem contribuir muito para a retomada econômica.”
Só no Estado de São Paulo, cerca de 300 estabelecimentos entram em falência diariamente, deixando quase 2 mil desempregados. “É como se uma fábrica da Ford fechasse por semana no país”, compara.
Uma pandemia de desemprego
O economista Luís Artur Nogueira estuda justamente as consequências do lockdown no mercado formal de empregos.
“No período de março a junho de 2020, quando prefeitos e governadores adotaram severas restrições ao funcionamento das empresas, o saldo entre vagas formais abertas e fechadas foi negativo em 1,6 milhão”, escreveu.
“No período seguinte, de julho a dezembro, quando houve um processo de reabertura da economia, o saldo de vagas formais foi positivo em 1,4 milhão.” Ou seja, ainda há um déficit de 200 mil empregos.
“É importante ressaltar que o quadro só não foi pior graças ao Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, criado pelo governo federal, que permitiu a suspensão de contratos de trabalho ou a redução de jornada e salário, evitando ainda mais demissões”, afirmou Nogueira.
“Além disso, a sociedade, de forma solidária, tentou, quanto possível, manter o pagamento a prestadores de serviços próximos, como a manicure, a diarista, o pipoqueiro que trabalhava na porta da escola. Dificilmente haverá esse suporte num segundo fechamento.”
Para Nogueira, a ideia de lockdown até pôde ser considerada aceitável no início, durante os primeiros 30 a 40 dias, quando a pandemia era uma novidade e ninguém conhecia o vírus. “Os cidadãos ficam em casa nesse período, os cientistas estudam, descobrem as formas de lidar com essa doença, quais são os grupos de risco e as medidas preventivas”, afirmou.
“Mas repetir isso agora é um absurdo, porque tivemos a prova de que não funciona. Trata-se de um assassinato de empregos, principalmente contra os brasileiros mais carentes.”
É justamente essa parte da população a maior vítima do lockdown: o estudante de escola pública sem acesso à internet, o frentista do posto de gasolina, o entregador de comida, a diarista, o caixa do supermercado.
Esses não deixaram em nenhum momento de se deslocar por duas horas em ônibus, trens e metrôs superlotados para atender uma elite que pode permanecer confinada em casas com quintal, apartamentos com varanda gourmet ou casas na praia.
Todos desfrutando de seu confinamento vip — como define o jornalista Guilherme Fiuza —, munidos de supercomputadores movidos a internet 4G. Estima-se que, passada a pandemia, o mundo terá mais 150 milhões de indivíduos vivendo abaixo da linha de pobreza.
Surtos de sanidade
“Pelo menos 50% da população não conseguiu parar em nenhum momento”, afirmou o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), um dos maiores críticos do lockdown desde que a ideia do trancamento coletivo da sociedade surgiu no debate.
Secretário estadual da Saúde do Rio Grande do Sul durante o surto de H1N1, ele repete há meses: “Os padrões de contágio de qualquer vírus são universais”.
Sendo assim, as contaminações só vão cessar quando chegar a tão esperada imunidade de rebanho. Ou seja, quando mais de 80% da população entrar em contato com o vírus e estiver imunizada.
O que teria causado esse segundo aumento de casos? “Novas cepas”, afirmou Terra, didaticamente, ao explicar que, quando os vírus vão perdendo força, é normal que variações mais resistentes surjam para tentar sobreviver.
“Depois de algumas semanas de crescimento, a curva naturalmente volta a diminuir”, concluiu.
O deputado salientou que o sistema hospitalar do Amazonas entrou em colapso não apenas por causa do alto poder de contágio do vírus, mas porque já estava em frangalhos. “Com população de 2,2 milhões de pessoas, Manaus tem 300 leitos de UTI”, afirmou.
“Porto Alegre, com 700 mil habitantes a menos, tem quase 600 só no SUS.”
De acordo com Terra, a prova da ineficiência do lockdown é que, nos países onde ele foi mais rígido, o número de mortes não diminuiu. A Bélgica, por exemplo, que protagonizou um dos fechamentos mais radicais do planeta, inclusive usando drones para fiscalizar se seus cidadãos estavam saindo de casa, é o campeão de mortes por milhão de habitantes (1.802).
“O que vimos no mundo foi não apenas uma epidemia viral”, disse. “Houve uma epidemia de desinformação, de medo e de completa ignorância científica.”
O psicólogo Bruno Campello, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, é outro crítico do lockdown. Segundo seus estudos, o número de mortes por covid-19 sempre aumenta de quatro a seis semanas depois de instauradas medidas de isolamento social.
“A princípio parece um contrassenso, mas não é”, disse.
“Esse é um vírus extremamente contagioso. Mesmo se você ficar em casa a maior parte do tempo, terá contato com ele mais cedo ou mais tarde, seja numa compra de comida, na entrega de água, seja ao precisar de um serviço hidráulico ou elétrico. Portanto, não faz sentido pedir que as pessoas fiquem trancadas 24 horas e, com isso, além de aumentar os casos de depressão e ansiedade, destruir a economia.”
Para Campello, assim como em qualquer outra doença, com o coronavírus o tratamento precoce também é a melhor forma de salvar uma vida.
“Negar isso é um absurdo terraplanista negacionista”, ironizou. Infelizmente, o tema extrapolou os limites da ciência e descambou para a política. Embora não haja comprovação científica, existe uma série de evidências clínicas que mostram a eficácia de medicamentos, alguns deles com mais de 50 anos no mercado, vendidos sem prescrição médica e com baixo risco.
“Existem cerca de 200 estudos publicados nas mais respeitadas revistas científicas do mundo relatando o sucesso de alguns remédios no tratamento da covid-19”, observou Campello.
Um fracasso cada vez mais anunciado
Professor do Departamento de Pediatria, Divisão de Medicina Intensiva, da Universidade de Alberta e especialista em infectologia do Hospital Infantil Stollery, em Edmonton, no Canadá, Ari Joffe era um defensor do confinamento rigoroso.
Depois de avaliar os resultados práticos da medida, entretanto, o médico publicou um artigo descrevendo por que mudou de ideia. Entre os motivos, Joffe destaca que “as previsões iniciais de modelagem” induziram ao “medo” e ao “efeito manada” — ou seja, o pensamento de grupo. Além disso, o professor analisou os “danos colaterais significativos” em razão da pandemia.
“No estudo de Joffe foi utilizada a metodologia de análise custo-benefício e se demonstrou que o custo — em vidas, não financeiro — do lockdown horizontal é 5 a 50 vezes maior que o da própria covid-19″, explica o neurocirurgião Paulo Porto de Melo.
O estudo canadense evidencia as perdas, em termos de assistência à saúde, que as restrições acarretaram para toda a população. “Por exemplo, uma pessoa com dor no peito que não foi ao hospital por causa da pandemia e sofreu um infarto”, observou Porto de Melo.
“Caso ela houvesse procurado um médico nos primeiros sintomas, poderia ter recebido tratamento rápido, evitando comprometimentos cardíacos mais graves ou até mesmo a morte.”
O terrorismo instalado por “gestores” amparados pelo suposto “rigor científico” impediu que doenças fossem diagnosticadas precocemente e tratadas de forma correta. Isso mostra que vidas também se perdem em razão da demora ou privação de assistência de saúde impostas pelo fechamento e pelo medo gerado entre os pacientes.
Publicado pela revista britânica The Lancet em julho de 2020, outro estudo revelou que, em uma comparação entre 50 países, a covid-19 foi mais mortal em lugares com população mais velha e com maior taxa de obesidade, mas não se observou redução de mortalidade em países que fecharam suas fronteiras ou aplicaram o “bloqueio completo”.
Na Universidade de Edimburgo, na Escócia, um pesquisador concluiu que as infecções na Grã-Bretanha já estavam diminuindo antes que o lockdown começasse no fim de março. Uma análise realizada pelo Instituto de Tecnologia de Karlsruhe descobriu que as infecções na Alemanha estavam se reduzindo na maior parte do país antes do início das medidas de confinamento.
Também foi provado que o toque de recolher imposto na Baviera e em outros Estados não surtiu efeito. Nos Estados Unidos, menos de 1% da população vive em lares de idosos, mas, em janeiro de 2021, essa pequena fração foi responsável por 36% das mortes por covid-19 no país.
Até mesmo quem estava “protegido” entre muros não escapou do contágio.
Errar e persistir
No Estado de São Paulo, novas medidas restritivas à circulação de pessoas foram impostas à população na última sexta-feira, 22. Segundo levantamento realizado por Oeste, caso o Estado paulista fosse um país independente, o número de mortos com a covid-19 por milhão de habitantes seria maior que o do Brasil.
Outro gráfico, que compara o índice de confinamento com o número de óbitos, é mais uma prova de que o confinamento não diminui a quantidade de vítimas pela doença. Mesmo assim, o governador insiste em revisitar o erro.
Prefeitos de algumas cidades do interior paulista, contudo, passaram a se recusar a obedecer às determinações do Plano São Paulo. Doria prometeu encaminhar os casos de rebeldia ao Ministério Público Estadual. No limite, a população já não aguenta mais episódios de tirania, autoritarismo e regras sem lógica alguma.
Não é só no Brasil que a paciência se esgotou. Na Itália, donos de bares e restaurantes criaram o movimento “Eu abro”.
Nas redes sociais, já são mais de 50 mil apoiadores.
A associação que representa o setor informou que os empreendedores estão “esgotados” e que a situação é “grave”. Na Holanda, mais de cem manifestantes foram presos ao ir às ruas protestar contra o toque de recolher baixado pelas autoridades.
Em Portugal, o governo socialista impôs restrições severas e empresários também foram às ruas protestar pelo retorno das atividades. O país viu explodir os registros de mortes por covid-19 neste primeiro mês do ano.
A situação, entretanto, já era esperada, contou a médica gaúcha Nair Amaral, que trabalha há quase três anos em Lisboa e atua na linha de frente de atendimento a pacientes com covid-19 no país europeu.
“No inverno, os ambientes são menos arejados, as pessoas estão confinadas em casa, com portas e janelas fechadas; o ar dos lugares fica mais saturado e o vírus está com maior capacidade de contágio por causa da variante”, afirmou numa entrevista à Rádio França Internacional (RFI).
“Este é meu terceiro inverno em Portugal, e os outros também foram caóticos.”
Embora as medidas restritivas não tenham conseguido conter a pandemia em nenhum país, os fanáticos pelo lockdown desdenham das evidências. Fingem ignorar, por exemplo, que a Suécia, onde não se adotou nenhuma medida de confinamento, não está sequer entre os dez países com mais mortes por milhão de habitantes.
A mudança no discurso
No início da pandemia, ainda sem saber como lidar com o vírus, o lockdown foi implementado com o argumento de que era preciso “achatar a curva” de contágio e evitar que várias pessoas ficassem doentes ao mesmo tempo, colapsando os hospitais.
A justificativa dos governantes era que precisavam de tempo para equipar o sistema de saúde a fim de atender à nova demanda.
“O problema é que o lockdown deveria ter acontecido por um período de tempo curto, para que o sistema de saúde aumentasse sua oferta de leitos de UTI e capacidade de atendimento”, lembrou Porto de Melo. “É inconcebível que em um ano um gestor público não tenha conseguido ajustar o sistema de saúde para isso.”
Na ânsia por soluções rápidas, hospitais de campanha foram construídos às pressas para desafogar o já deficiente sistema hospitalar brasileiro.
Apenas em São Paulo, mais de R$ 130 milhões foram gastos na construção de estabelecimentos para o combate à covid-19.
As tendas com infraestrutura improvisada (o Hospital de Campanha do Anhembi, por exemplo, não resistiu à primeira chuva forte na capital) ficaram às moscas boa parte do tempo e foram desmontadas poucos meses depois.
Agora, os gestores públicos que decidiram acabar com os hospitais de campanha e se esqueceram de combinar com o coronavírus reclamam da falta de leitos para internação.
Quase um ano depois da chegada do vírus chinês, a turma do #fiqueemcasa encontra agora uma razão após a outra para insistir em fechamentos, proibições, toques de recolher e outras imposições. A mais recente defende a ideia de que a liberação total só deve acontecer depois da vacinação em massa da população.
A imunização contra a covid-19, contudo, ainda se encontra no início no Brasil e está provado que as pessoas, seguindo todos os protocolos de segurança, não precisam esperar trancadas dentro de casa até que ela aconteça.
“Na ausência de informação, pode-se manter o padrão de preservar a dignidade humana, a liberdade e o estado de direito, e então ir atrás de informação”, escreveu o economista Jeffrey Tucker, colunista da Revista Oeste.
“Em vez disso, fez-se a opção de paralisar a sociedade por causa de incertezas.” Infelizmente, a tese do isolamento vertical, que preserva a população de risco em casa, mas permite que pessoas saudáveis retornem ao trabalho, ainda é rechaçada por grande parte da imprensa e por gestores públicos. Será que os políticos algum dia vão admitir o erro do lockdown?
Leia também o artigo “Os tecnocratas da pandemia”
Revista Oeste