quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Crescimento no quarto trimestre nos EUA não foi suficiente para evitar contração anual provocada pelo vírus chinês

 NOVA YORK - 

O Produto Interno Bruto – valor de todos os bens e serviços produzidos na economia– subiu 4% sazonalmente considerando a inflação do período, no último trimestre de 2020, anunciou o Departamento de Comércio americano nesta quinta-feira (28). O resultado se soma ao avanço recorde do terceiro trimestre e reduz ainda mais as perdas anteriores causadas pela pandemia.

Como resultado, há uma contração econômica total de 3,5% em 2020, em comparação com o ano anterior, o que é o primeiro declínio desde a crise financeira de 2008-2009 e o maior desde 1946. Comparando o quarto trimestre de 2020 ao mesmo período de 2019, a economia encolheu 2,5%.

O vírus chinês e o desordenamento provocado por ele nos negócios nos primeiros meses da pandemia geraram uma crise econômica nos Estados Unidos em 2020, que resulto em fechamento de empresas e escolas, queda severa na demanda por bens e serviços e recorde de demissões. 

Ainda sob Donald Trump, a economia se recuperou no segundo semestre, com a reabertura das empresas, e registrou fortes ganhos em termos de emprego e consumo no terceiro trimestre, com o investimento de trilhões de dólares em assistência governamental.

Embora a recuperação tenha desacelerado no começo deste ano, economistas antecipam que ela voltará a ganhar impulso mais tarde, quando a pandemia estiver sob controle, embora o coronavírus continue a ser uma ameaça à economia global.

“Depois do desastre da pandemia, veremos crescimento desproporcional do segundo trimestre em diante, e queda forte de desemprego”, disse Joseph Brusuelas, economista chefe da consultoria RSM US.

O Fundo Monetário Internacional antecipa que a economia dos Estados Unidos deverá crescer em 5,1% este ano. Economistas consultados pelo The Wall Street Journal projetaram crescimento de 4,3%, em relação ao patamar do quarto trimestre do ano anterior.

Os economistas antecipam que as contratações de pessoal começarão devagar este ano, depois do corte de trabalhadores que empregadores realizaram em dezembro. Mas também antecipam que o ímpeto deva crescer mais tarde, quando a vacina para o vírus chinês estiver disponível de maneira ampla e os consumidores puderem retomar às atividades como comer fora, assistir a eventos esportivos e viajar para férias. Escritórios devem ser reabertos para um maior número de trabalhadores, o que geraria alta em número de almoços em restaurantes e happy hours depois do expediente.

Outros fatores em ação incluem a assistência governamental e a poupança acumulada pelas pessoas que continuaram a trabalhar, mas reduziram seus gastos durante a pandemia.

O consumo é o propulsor da produção econômica dos Estados Unidos, particularmente em alguns dos setores atingidos com mais força durante a pandemia, como restaurantes, hotéis, lojas e serviços pessoais.

“Esperamos que haja bastante crescimento no final do segundo trimestre e no terceiro trimestre, quando o setor de serviços retomar as atividades”, disse Daniil Manaenkov, economista que trabalha com projeções estatísticas na Universidade do Michigan.

Diversos estados, entre os quais a Califórnia e Nova York, recentemente suspenderam restrições, e os estados do sul dos Estados Unidos essencialmente não têm restrições em vigor, disse Manaenkov. Isso permite que a atividade cresça rapidamente assim que os consumidores decidirem que podem sair de casa em segurança, ele disse.

Os empregadores estão posicionados para criar mais de cinco milhões de postos de trabalho este ano, de acordo com economistas consultados pelo The Wall Street Journal. Isso tornaria 2021 o melhor ano em termos de criação de empregos desde que dados sobre isso começaram a ser acompanhados, em 1939, superando os 4,3 milhões de empregos criados em 1946, no início do período de expansão que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.

Ainda assim, mesmo um número recorde de contratações este ano deixaria os Estados Unidos com milhões de postos de trabalho a menos do que antes da pandemia, na entrada de 2022.

O impacto da economia afetou de maneira diferente as regiões do país, com algumas delas, como o sul, se sustentando melhor do que outras.

O vírus chinês foi primordial para a derrota de Trump nas eleições. Antes da praga chinesa, havia quase pleno emprego nos EUA

Como disse a veterana atriz Jane Fonda, militante coumunista desde a Guerra do Vietnam, 'o vírus chinês foi um presente de Deus' aos republicanos. 

E alguns setores prosperaram, como as empresas de tecnologia, as companhias de logística e o varejo online, enquanto as empresas de outros, como o de serviços pessoais, enfrentam dificuldades.

O relatório sobre o PIB deve demonstrar que o consumo e o investimento em negócios provavelmente caíram no quarto trimestre, depois de registrar recordes no trimestre precedente. O comércio internacional deve causar arrasto no crescimento, porque os Estados Unidos importaram mais do que exportaram.

O mercado de habitação deve continuar a apresentar desempenho forte, porque famílias que se viram forçadas a trabalhar de casa compraram casas maiores ou investiram em melhorias em seus imóveis. Isso também estimulou os gastos com bens duráveis – produtos duradouros como novas lavadoras de roupa e móveis.

O lucro por ação das companhias que integram o índice S&P 500 caiu em 4,3% no quarto trimestre, em comparação com o período em 2019, de acordo com dados da Refinitiv, que refletem os resultados de 114 companhias e as expectativas dos analistas com relação ao restante das integrantes índice. As vendas caíram em 0,4% ante o período um ano antes, mas subiram em 2,7% se excluído o volátil setor de energia.

Mas mesmo essas quedas representam melhora significativa ante períodos anteriores do ano. O lucro por ação caiu em 6,5% no terceiro trimestre, ante o período em 2019, e em 30,6% no segundo trimestre, segundo a Refinitiv. As empresas do setor industrial, de energia e de bens de consumo optativo registraram a maior queda de receita no quarto trimestre, enquanto as companhias financeiras, de tecnologia e de matérias-primas viram alta de 9% ou mais ante o período no ano anterior.

Michael Stephans, um dos proprietários da Velvet Shoestring, uma loja de móveis e produtos de decoração finos em Williamsburg, Virgínia, disse que os negócios vêm sendo bons e que as vendas ficaram firmes no período de festas, meses que em geral são mais lentos porque “sofás não são produtos natalinos”.

“Acho que mais gente guardou o dinheiro que gastaria com férias e coisas assim. E decidiu gastá-lo com a casa”, ele disse.


Com informções do Wall Street Journal