Uma abordagem policial mostra que, além do vírus chinês, a epidemia de coronavírus espalhou também o vírus do autoritarismo
“Saiam daqui”, ordena o policial a clientes sentados nas mesas da calçada de um restaurante em Paris, na França. Visivelmente desconcertados, homens e mulheres olham atônitos sem saber como agir. Um deles tenta argumentar que está bebendo e por isso não usa a máscara de proteção, guardada em seu bolso.
Para o grupo seguinte, manda que se afastem e mantenham o distanciamento social. Os gestos de truculência ostensiva passam a ser alternados com palavras como “monsieur” (senhor), o “s’il vous plaît” (por favor) e “merci” (obrigado), ditas sempre de forma ríspida. Uma voz feminina solitária esboça um protesto: “totalitarismo”.
Os clientes se levantam. Alguns entram no estabelecimento, outros vão embora. As imagens finais mostram copos ainda cheios sobre mesas vazias. E os policiais, vestidos como se fossem para a guerra, marchando rumo à próxima abordagem.
Está cada vez mais mais evidente que, tão terrível quanto o vírus chinês, a epidemia de coronavírus espalhou também o vírus do autoritarismo.
Branca Nunes, Revista Oeste