O Bradesco prevê encerrar o ano com redução de 1.100 agências em comparação com 2019, afirmou o presidente do banco, Octavio de Lazari, nesta quinta (29). O corte faz parte de um plano de reestruturação de despesas do banco, que para isso realizou uma provisão adicional de R$ 879 milhões.
Das 1.100 agências previstas para encerrar as atividades, 400 correspondem a espaços físicos que serão fechados, enquanto outras 700 serão incorporadas e transformadas em unidades de negócios.
Até o momento, 683 agências já foram fechadas ou incorporadas e, segundo Lazari, o movimento deve continuar no ano que vem.
"Muitas agências ainda serão transformadas em unidades de negócio, que têm um custo de 30% a 40% menor [do que as agências], por não contarem com gastos como de vigilante e carro forte, por exemplo, e que são de 20% a 30% mais eficientes, já que todos os funcionários estão dedicados a fazer negócio”, afirmou Lazari.
“Apesar de termos reduzido nossas despesas nos nove meses deste ano em relação a igual período de 2019, elas ainda estão muito elevadas. Precisamos ajustar a nossa corporação para uma estrutura de gastos adequada. Vamos cortar o mato alto até o final deste ano para, em 2021, começarmos a ganhar eficiências mais específicas de custos em cada área e setor”, afirmou o presidente do Bradesco.
As despesas operacionais totais do banco ficaram em R$ 11,7 bilhões no terceiro trimestre, uma redução de 5,7% em comparação a igual período de 2019. De janeiro a setembro, essas despesas totalizaram R$ 34,9 bilhões –queda de 3,9% em relação aos primeiros nove meses do ano passado.
O movimento acompanha o processo de maior digitalização e competitividade do sistema financeiro e, segundo Lazari, também deve impactar o número de funcionários.
“Até agora, quase 4.000 pessoas saíram do banco, mas essa redução é praticamente natural. Normalmente temos um turnover [rotatividade de pessoal] médio anual de 7%, o que equivale a quase 7.000 pessoas. O que estamos fazendo é buscar eficiência com custos mais adequados”, disse, afirmando que isso também implica na possibilidade de terceirizar algumas áreas do banco ou de reduzir os gastos prediais (como aluguel, água, luz ou telefone) para segmentos que tenham maior capacidade de continuar em trabalho remoto.
Questionado sobre a previsão de redução de pessoal para 2020, o banco afirmou em nota que não trabalha com uma meta em relação ao seu quadro de funcionários.
Até o momento, 95% dos funcionários de departamento do banco estão em home office, enquanto as agências dividiram a equipe pela metade e trabalham, agora, em modelo de revezamento.
O banco terminou o terceiro trimestre com 95.934 funcionários, uma redução de 3,4% em relação a quantidade de empregados que tinha em igual período de 2019. No total, foram 3.338 desligamentos.
O Bradesco divulgou os resultados do terceiro trimestre nesta quarta-feira (28), depois do fechamento do mercado. O lucro do banco registrou queda pela terceira vez consecutiva. Quando considerada a comparação anual, a redução foi de 23,1%, para R$ 5 bilhões.
O tombo no resultado foi novamente causado por um aumento nas reservas contra calotes. Essas provisões subiram 67,5% no terceiro trimestre em relação aos mesmos três meses de 2019, para R$ 5,6 bilhões. No acumulado do ano, o banco já provisionou R$ 21,2 bilhões, mais do que o dobro do registrado de janeiro a setembro do ano passado.
Em termos de crédito, no entanto, o presidente do Bradesco afirmou que a expectativa é que o banco tenha um crescimento acima do previsto para o mercado em 2020, de 8%.
A carteira de crédito expandida totalizou R$ 664,4 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 11,7% em relação a igual período de 2019. O impulso veio da maior concessão de crédito para pessoas jurídicas, que somaram R$ 421 bilhões –alta de 12,9%.
Além das operações de crédito, a carteira expandida também inclui avais, fianças, cartas de crédito, antecipação de recebíveis de cartão, debêntures e notas promissórias, entre outros.
“Com relação às provisões, já começamos a ver os clientes voltando a pagar os créditos prorrogados ou optando por uma renegociação. Entendemos que o nível de provisão já está feito, bem dimensionado e adequado para o que observamos até agora”, disse Lazari.
Ele afirma que o cenário pode mudar a depender de uma nova onda de casos de coronavírus no Brasil – situação que já começa a ser vista na Europa, por exemplo – e do desenrolar do cenário fiscal do país.
“Não somos uma ilha à margem disso tudo. A inadimplência vai vir, principalmente no primeiro, segundo e terceiro trimestre de 2021. São vários fatores que podem influenciar e estaremos atentos. Mas por enquanto, não prevemos uma reserva adicional”, afirmou.
O banco apertou suas modelagens de nota de crédito no início da pandemia, diante da crise do coronavírus. Em cenários como esse, a instituição financeira disponibiliza uma menor quantidade de recursos para empréstimos para uma menor quantidade de clientes.
O presidente do banco afirma que esse é um processo natural, baseado nos modelos estatísticos do banco e que agora já começa a se normalizar.
“As principais linhas nas quais observamos crescimento são a de crédito imobiliário, financiamento de veículos e consignado. Mas cheque especial, cartão de crédito e crédito pessoal, que são linhas mais arriscadas, ainda estão baixas, já que as pessoas ainda estão usando o auxílio emergencial ou a poupança que têm”, disse.
Segundo Lazari, o banco atualmente opera com R$ 2 bilhões de crédito imobiliário por mês só no segmento pessoa física.
A inadimplência acima de 90 dias total do banco ficou em 2,3%, recuo de 1,3 p.p. (ponto percentual) em relação ao terceiro trimestre de 2019.
Isabela Bolzani, Folha de São Paulo