As siglas começam a se proliferar a partir de 1979, com a volta do pluripartidarismo e o desmembramento da Arena e do MDB
Com 33 partidos políticos e outros 70 aguardando na fila para receber a certidão de nascimento, o Brasil é um dos campeões nacionais em número de legendas. Há pouco mais de quatro décadas, porém, a realidade era bem diferente. Em 1965, com a promulgação do Ato Institucional n° 2, o regime militar instituiu o bipartidarismo, realidade que perdurou até 1979, quando o Congresso aprovou a Lei Orgânica dos Partidos. Um dos objetivos do presidente João Figueiredo era dividir a oposição e garantir a vitória de aliados nas eleições de 1982.
Figueiredo sabia que os antigos membros da Arena reuniriam-se numa única legenda, o Partido Democrático Social (PDS), enquanto os do MDB se dividiriam em várias siglas. A partir dele, surgiram o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), liderado pelo então deputado Ulysses Guimarães. Logo depois, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de Roberto Jefferson, o Partido dos Trabalhadores (PT), de Luiz Inácio Lula da Silva, e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Leonel Brizola.
Nos anos seguintes, dezenas de outras legendas nasceram, morreram, renasceram, desmembraram-se ou fundiram-se, formando o multifacetado cenário atual. Entre outros benefícios, os partidos se mantém graças aos fundos partidário (R$ 1 bilhão) e eleitoral (R$ 2 bilhões), abastecidos com dinheiro dos pagadores de impostos. O PSL (partido que abrigou o presidente Jair Bolsonaro) e o Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo, embolsarão este ano, juntos, mais de R$ 400 milhões para participar do pleito municipal.
“Muitos deles tornaram-se ‘lojinhas’ em vez de representações da vontade popular”, resumiu Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteana Mackenzie, ao defender que haja uma reforma política no sistema capaz de reduzir a quantidade de legendas. “Depois de 1979, muita gente fundou um partido para atender interesses particulares”, afirmou Prando. “O problema é que, para ser aprovada, a reforma política depende justamente daqueles que são beneficiados por esse modelo corrompido”.
Cristyan Costa, Revista Oeste