Governador fluminense e primeira-dama se beneficiavam de contratos com empresas que pagavam propinas desde a gestão Cabral
De agosto de 2019 a março deste ano, o escritório Helena Witzel Sociedade Individual de Advocacia prestou serviços a DPAD Diagnósticos no valor de R$ 120 mil, mas o contrato total da advogada com a empresa ia até agosto de 2022 e era de R$ 540 mil, sem sequer ter um objeto específico.
Já seria estranho, se o escritório em questão não fosse da primeira-dama do Estado do Rio de Janeiro, que, logo após fechar o negócio, mudou outro contrato: o de seu casamento com o governador Wilson Witzel, passando a ter com ele comunhão universal de bens, o que permitiu que todos os bens do casal passassem a integrar um patrimônio só.
Em sua edição desta semana, a revista Veja traz os documentos apreendidos pela operação Favorito, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal e que prendeu uma organização criminosa que pagava propinas para ganhar contratos do governo fluminense nos últimos anos, da administração de Sergio Cabral, passando pela de Luiz Fernando Pezão e chegando a Wilson Witzel.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) informou ter encontrado vínculos suspeitos e estreitos entre Mário Peixoto, um dos suspeitos presos, e a primeira-dama do Rio. A investigação também apurou que o governador agia para beneficiar a organização e comandava as ações com o auxílio de Helena.
“As provas coletadas até esse momento indicam que, no seio do poder executivo do Estado do Rio de Janeiro, foi criada uma estrutura hierárquica, devidamente escalonada a partir do governador, que propiciou as contratações sobre as quais pesam fortes indícios de fraudes”, relata a PGR no pedido de busca e apreensão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que foi autorizado e realizado no Palácio das Laranjeiras na última quarta-feira.
Na organização está o empresário da saúde e ex-subsecretário-executivo Gabriell Neves, preso após operação do Ministério Público do Rio de Janeiro envolvendo fraudes em contratos de compra de respiradores para hospitais do Estado. Ele confirmou que todas as negociações suspeitas eram de conhecimento do então secretário de Saúde, Edmar Santos.
Para a Procuradoria, o que torna a conduta da organização ainda mais reprovável é o fato dela ter agido de forma fraudulenta em plena pandemia, fazendo parecer que estavam no combate ao coronavírus.
Um dos contratos suspeitos assinados pelo governo durante o período foi a contratação emergencial por R$ 835 milhões do Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) para construir e administrar 1,4 mil leitos de hospitais de campanha no Estado. Segundo a investigação, os orçamentos para serviços de montagens de tendas, instalação de caixas d’água, geradores de energia e pisos foram fraudados. “Há prova bastante robusta de fraudes nos processos que levaram à contratação do Iabas para gerir os hospitais de campanha no Rio de Janeiro, tudo com anuência e comando da cúpula do Executivo”, afirma a PGR.
Trabalho extra
A primeira-dama também parece acumular funções.
Além de prestar serviços à empresa de diagnósticos citada pela PGR, Helena Witzel também aparece em diversos processos judiciais como advogada do Partido Social Cristão (PSC), do qual o marido faz parte. Contratada pelo regime CLT, ela recebe R$ 22.390 por mês para exercer o cargo e defender a legenda em 12 processos.
Roberta Ramos, Revista Oeste