As falhas nos dados apresentados pela prefeitura recaem justamente no grau de contaminação da população e na taxa de ocupação dos leitos de UTIs
No começo da tarde desta quarta-feira, 27, o governador de São Paulo João Doria e o prefeito da capital paulista Bruno Covas se reuniram numa coletiva de imprensa para anunciar o que chamaram de “quarentena consciente”. Pelas novas regras, cada município terá uma estratégia de isolamento, que dependerá, entre outros quesitos, do grau de contaminação da população e da taxa de ocupação dos leitos de UTIs.
A julgar pelas declarações de Covas nas duas últimas entrevistas desta semana, as maiores confusões e contradições nos dados apresentados pela prefeitura recaem justamente nesses dois aspectos:
1) Na coletiva desta quarta-feira, Bruno Covas informou que, no município de São Paulo, havia 51.852 casos confirmados de coronavírus e 53.541 pacientes curados. Ou seja: misteriosamente, o número de curados é bem superior ao de casos confirmados.
Questionada pela reportagem de Oeste, a prefeitura apresentou dados diferentes na coletiva de desta quinta-feira. Segundo o prefeito, são 54.948 infectados e 53.959 curados. Caso os números estejam corretos, existem hoje em São Paulo menos de 1.000 pessoas contaminadas pelo vírus chinês. A mais recente edição do boletim da prefeitura, entretanto, indicava 2.122 pacientes internados.
2) Cifras confusas também afetaram a taxa de ocupação de leitos de UTI na capital. Segundo o prefeito, 85% dos leitos estavam ocupados nesta quarta-feira. A porcentagem era a mesma da edição 61 do boletim municipal, o mais atual até aquele momento. De acordo com o documento, havia 692 “Leitos UTI COVID municipais”, dos quais 587 estavam ocupados.
No mesmo evento, entretanto, Covas informou que a cidade tinha 1.007 novos leitos de UTI. O prefeito parece esquecer que, com esse novo número, a taxa de ocupação cairia para 58,29%.
As contradições continuaram com o boletim 62, divulgado na mesma quarta-feira, horas depois da coletiva. Nele, está registrada a existência de 856 “Leitos UTI COVID em operação” e 778 pacientes internados. Uma taxa de 92% de ocupação. Contudo, se usarmos como base os 1.007 leitos anunciados por Covas, a taxa seria de 77,25%.
3) A “taxa de isolamento” é outro foco de desinformação. Segundo estudos da prefeitura, entre 30 abril e 25 de maio, o índice ficou acima dos 70% na maioria dos dias. No monitoramento do governo estadual, a taxa média de isolamento na capital no mesmo período foi de 52% – o melhor resultado ocorreu em 3 de maio (58%) e, o pior, no dia 8 do mesmo mês.
O prefeito da capital vive reiterando que as estatísticas sobre o combate ao coronavírus na capital paulista são marcadas pela transparência. Essa virtude vem sendo anulada pela falta de precisão e por erros epidêmicos.
Branca Nunes e Artur Piva, Revista Oeste