sexta-feira, 3 de abril de 2020

Ministério busca cinco milhões de profissionais de saúde de outras áreas para combate ao vírus chinês

Ministério da Saúde vai à busca de cinco milhões de profissionais que poderão atuar em todo país no combate ao vírus chinês. Conforme Portaria nº 639, publicada quinta-feira, 2, no Diário Oficial da União, a determinação faz parte da Ação Estratégica “O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde”.
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Ministro Luiz Henrique Mandetta em entrevista no Palácio do Planalto 
Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

Com base nessa portaria, a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde enviou ofício a 14 conselhos de classes, com o objetivo de solicitar os dados de suas bases, em caráter emergencial, para um futuro recrutamento e a imediata capacitação desses profissionais para atuarem no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o País.
Dentre as áreas, serão cadastrados os profissionais de serviço social, biologia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia e terapia ocupacional, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, psicologia e técnicos em radiologia.
Neste primeiro momento, ainda não é uma convocação para entrar em ação, mas a preparação dessa força de trabalho para que possa ser usada, caso necessário. Além dos dados já fornecidos pelas entidades, o profissional deverá preencher o formulário eletrônico no Registra RH e realizar os cursos a distância. 
“Estamos começando a construir agora esse cadastro e focando primeiro nos profissionais de saúde que têm disponibilidade e que querem contribuir e enfrentar de peito aberto, indo para os Estados onde houver maior necessidade para reforçar equipes médicas em todo o Brasil. Por enquanto, estamos apenas cadastrando para saber, repito, quem pode, quem quer e quem tem disponibilidade para ajudar os Estados”, esclareceu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Em sua solicitação, o Ministério da Saúde ressaltou em ofício aos conselhos, porém, o “caráter obrigatório do cadastramento e da participação na capacitação”. Serão identificados e reportados aos conselhos os dados daqueles que não cumprirem essas exigências. O objetivo primário é confirmar que os profissionais realmente estão habilitados.
“Essa organização é necessária porque na Itália, por exemplo, logo no começo da epidemia perderam 45% da força de trabalho. Normalmente, nos casos mais leves, as pessoas levam até 14 dias para voltar ao trabalho e esse tempo é muito grande nesse momento de pandemia”, reforçou o ministro.

Conselho de Medicina Veterinária fornece cadastro de 140 mil profissionais

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) foi uma das entidades convocadas e que já forneceu o seu cadastro de 140 mil médicos-veterinários brasileiros que estão na ativa e que poderão ser solicitados a trabalhar.  Só o Estado de São Paulo tem cerca de 39 mil veterinários ativos. A região lidera em número de pessoas infectadas e mortes.
Para o médico-veterinário Fernando Zacchi, assessor técnico do CFMV, ainda não existe orientação de como será a participação dos profissionais da sua classe, mas a verdade é que médicos-veterinários já trabalham na atenção básica da saúde. Eles dão apoio e suporte aos agentes, trabalhando com questões de controle de zoonoses, na parte estratégica e epidemiológica. 
“Num primeiro momento, o médico-veterinário estaria apto a ingressar na saúde básica da família. Isso aliviaria, por exemplo, o contingente de médicos, que podem dar atenção a outros pacientes”, afirma. 
Segundo Fernando Zacchi, apesar de estar sendo convocado a preencher o formulário e participar do curso, é perguntado aos que se cadastram quem deseja participar da ação ao combate do Covid-19, que pode ocorrer de forma física ou por atendimento telefônico.
“Ainda é muito incipiente cogitar de que maneira o médico-veterinário poderá contribuir nessa situação. Tem uma diferença do que somos capazes, o que estamos habilitados a fazer e aquilo que o Ministério vai chamar para executar”, completa. 

Profissionais querem ajudar, mas aguardam esclarecimentos

A dentista Giani Dantas, de São José do Rio Preto (SP), espera informações e, até a noite desta quinta, não tinha feito o cadastro. “Estou preferindo aguardar um posicionamento mais claro dos órgãos de classe, especialmente do Conselho Federal de Odontologia, como as regras de como essa convocação vai funcionar”, afirmou.
Ligia Ortolani, de Sorocaba (SP), que também é dentista, disse que está disposta a ajudar, mas afirmou não acreditar que todos serão convocados. “Acho que seremos chamados mais no intuito de passar informações sobre saúde bucal”, disse.
A nutricionista Debora Sanches Martins, também de Sorocaba, já fez o cadastro e aguarda uma possível convocação. “Concordo com essa convocação, pois acho que as pessoas que fazem opção por carreiras na área de saúde têm de estar disponíveis para quando acontece uma emergência como essa da pandemia”, afirmou.

Ministro critica ação do Cremerj

Nesta quinta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), por causa de uma ação judicial movida pela autarquia, para impedir a convocação de seus médicos para atuar em outros locais do País.
“Primeiro, quero dizer que isso não existe. Médico enfrenta a situação. Segundo, que a lei prevê a requisição de bens e serviços. Se tiver necessidade, a gente vai requisitar. Terceiro, eu lembro bem quando teve uma epidemia de dengue no Rio de Janeiro. Eu era secretário de outro Estado, mas coordenei a ida de médicos de outros Estados para ajudarem no Rio de Janeiro a enfrentar a epidemia de dengue”, disse Mandetta.
O Rio registrou até esta quinta 992 casos de covid-19 no Estado, além de 41 mortes. É o segundo maior foco de contaminação e morte em todo o País, só atrás de São Paulo.
“Neste ano, um dos Estados que mais podem ter dificuldade de enfrentar a epidemia é o Rio de Janeiro. Quero deixar muito claro que essa não é a posição dos médicos brasileiros”, disse Mandetta, visivelmente irritado com a decisão da Cremerj.

“Se o Rio precisar, se o Cremerj precisar dos médicos brasileiros, pode solicitar. Eu tenho certeza de que os médicos de outros Estados saberão atender o Rio de Janeiro. Não há necessidade de fazer ação judicial. Fica aqui a minha observação”, comentou o ministro. /COLABORARAM ANDRÉ BORGES, ANNE WARTH, JOSÉ MARIA TOMAZELA E JULIA LINDNER

Fábio Brito, O Estado de S.Paulo