domingo, 22 de julho de 2018

‘Políticos estão fazendo lobby disfarçado’ diz Roberto Romano, professor de ética, sobre indicações para agências


Políticos em sessão do Senado Federal - Ailton de Freitas / Agência O Globo


O professor de Ética e Política da Universidade da Campinas (Unicamp) Roberto Romano avalia que o loteamento político das agências reguladores federais prejudica os serviços prestados pelos órgãos. Segundo ele, as indicações interferem na independência dos diretores, que precisam “prestar contas a um coronel político”.

Qual é o impacto do loteamento político das agências para o cidadão?
É um desastre que se repete na cultura brasileira, o do que é dando que se recebe. É o uso do bem público em proveito privado. O impacto para o consumidor é a piora cada vez maior dos serviços públicos.

Muitas vezes, os políticos argumentam que as indicações são de nomes técnicos...
Não adianta ter currículo. O que é preciso ter é autonomia administrativa na execução de planos que são de Estado, e não de políticos e partidos. Quando você tem formação técnica, mas não tem autonomia, vai prestar contas a um coronel político.

As indicações feitas por políticos interferem nos serviços prestados?
Esses são órgãos de Estado, e não políticos. A performance dessas agências é a pior possível. Isso vai afastar cada vez mais o já afastado cidadão do controle dos serviços públicos.

Como o senhor vê as movimentações da Câmara para alterar a Lei das Estatais e voltar a permitir políticos nessas empresas?
A cultura do apadrinhamento é causa de corrupção em Estados altamente democráticos, como EUA e Alemanha. Isso que eles, políticos, estão fazendo no Brasil é lobby disfarçado. Estão nomeando lobistas que trabalharão para eles e para agentes privados. O apadrinhamento é o pai de boa parte do Estado brasileiro e da vida pública nacional. Há um ditado, da Grécia democrática, que diz que tirano é aquele que usa os bens dos governados como se fossem seus. Esses deputados e senadores, na calada da noite, estão estabelecendo uma tirania insustentável e injustificada num Brasil democrático.


Manoel Ventura, O Globo