sexta-feira, 20 de julho de 2018

"Envelhecimento e educação, aprendendo na velhice", por Claudia Costin

Estive recentemente na França para participar de dois painéis sobre educação e os desafios para o futuro. Falamos muito sobre a chamada quarta revolução industrial e as transformações que a inteligência artificial deve trazer nos próximos anos e que impactarão de forma importante o mundo do trabalho e, certamente, a educação.
Mas há outro elemento associado com o futuro que abordamos: o acelerado envelhecimento da população. 
Dada a queda na taxa de fecundidade das mulheres, o bônus demográfico vem se reduzindo, o que impactará não só os regimes de previdência como colocará pressão sobre os trabalhadores ativos para assegurar maior produtividade, o que demanda também melhoras na educação oferecida.
Há, no entanto, um outro aspecto que tem sido esquecido nas discussões: como as políticas públicas devem apoiar a população de idosos, assegurando-lhes qualidade de vida, especialmente entre os mais vulneráveis.
Para um idoso ter uma vida digna e significativa, desde que asseguradas moradia, sustento e autonomia, quatro elementos mais são necessários, segundo pesquisas: uma atividade que lhe permita sentir-se útil, autocuidado (o que inclui exercícios físicos e condições para decidir sobre sua saúde), uma rede de relacionamentos sociais e a expansão do seu conhecimento. 
Sim, a política para a terceira idade deve incluir a educação, afinal aprender é algo que não se interrompe com o passar dos anos. 
Há mesmo uma vantagem na aprendizagem que ocorre mais tarde na vida: o caráter mais funcional do acesso ao conhecimento, associado à profissão ou área de atuação que temos durante a vida ativa, pode ser deixado de lado e outros saberes podem ser explorados, desde que haja interesse e apoio para expandir horizontes.
Em muitos países existe, além da educação de adultos que não concluíram os estudos, uma política de acesso gratuito de pessoas com mais de 65 anos a disciplinas em cursos universitários, regulares ou moldados para a terceira idade. No mesmo sentido, bibliotecas públicas têm atividades para a faixa etária.
Mas nada disso funciona bem se não educarmos, desde cedo, as crianças para gostar de aprender. Se o contato com a aprendizagem for desinteressante e fonte de profundo sofrimento e se, além disso, as competências básicas não forem desenvolvidas na educação básica, o adulto mais velho terá dificuldades em considerar a expansão do conhecimento como fonte de deleite.
O que nos faz humanos é esta incansável jornada de aprendizagem que nos caracteriza. Em tempos de robôs e inteligência artificial, só nós temos o desejo de aprender coisas novas.
Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, 
e ex-diretora de educação do Banco Mundial

Folha de São Paulo