O neotucano João Doria prevaleceu por WO no último round da briga que definirá os candidatos que disputarão a poltrona de prefeito de São Paulo no segundo turno. Seus principais contendores preferiram não confrontá-lo no debate da TV Globo. Fernando Haddad, que teve uma leve recuperação nas sondagens eleitorais, e Marta Suplicy, que amargou um declínio, engalfinharam-se pela primazia de retirar do segundo turno Celso Russomano, que executou uma coreografia defensiva, contra-atacando.
Como no caso do sapo de Guimarães Rosa, Haddad, Marta e Russomano não pularam uns sobre os outros por boniteza, mas por precisão. Tinham um olho no debate e outro num par de indicadores:
1) de acordo com o Datafolha, 34% do eleitorado paulistano chega à reta final da disputa flertando com a ideia de trocar de candidato. Essa turma pode acionar o gatilho do voto últil —aquele que leva o eleitor a trair o candidato de sua predileção apenas pelo interesse de empurrar para dentro do segundo turno um nome que reúna mais chances de evitar o triunfo de um candidato visto como mau maior.
2) segundo o Ibope, 39% dos eleitores da capital paulista informam, já na beirada das urnas, que desejam votar em branco ou anular o voto. Escondem-se atrás desse índice os eleitores que, de saco cheio com a política, se desplugaram da tomada. O desafio dos candidatos é encontrar uma fagulha capaz e energizá-los.
Num cenário assim, tão volátil, é difícil antever, por ora, quem disputará o segundo turno com Doria. Seja quem for, terá de rebolar para desbancá-lo. Auxiliado pela turma do marketing, o afilhado de Geraldo Alckmin parece ter construído o discurso ideal para o Brasil da Lava Jato.
Doria vende-se aos eleitores como um empresário, um não-político, um gestor moderno. A bordo de uma coligação partidária que trocou tempo de propaganda eletrônica por posições na máquna estatal paulista, Doria se esforça para não parecer o que é, porque em política o outro pode não ser o que parece, ou pior: ser e parecer.