Atriz, poeta, escritora, roteirista, produtora de cinema, empreendedora e ativista ambiental, Bruna Lombardi, 64 anos, também é hoje um sucesso na internet. Com mais de dois milhões de seguidores no Facebook, escreve diariamente mensagens positivas e espiritualizadas nas redes sociais. Em entrevista à ISTOÉ, ela afirma estar em permanente busca de autoconhecimento. “Desde pequena, sempre prestei muita atenção em energias”, diz. Apesar de não se envolver muito com assuntos políticos, comenta a situação do País e se mostra indignada com a corrupção e a impunidade. Casada há mais de 30 anos com o ator Carlos Alberto Riccelli, Bruna acredita que é possível ser feliz se nos conectarmos mais com as pessoas à nossa volta e com nós mesmos. E acredita que a internet tem contribuído para nos aproximar uns dos outros, mais do que criar isolamento. “Estamos todos conectados”.
Como você avalia o atual momento político do País?
Política não é meu papo número um, mas interfere na vida de todos nós. Algumas coisas me enlouquecem, como a impunidade. Como uma pessoa acusada fica impune? Não aponto ninguém, mas a Justiça precisa melhorar e muito. Há juízes, policiais, uma série de pessoas anônimas que estão fazendo um trabalho digno. Mas só vou sentir dignidade quando diminuir a corrupção. Vou sentir que o Brasil é uma nação quando o investimento em educação e saúde for digno, quando houver médicos suficientes.
Quais são suas preocupações como ativista ambiental?
A preocupação com o meio ambiente faz parte da minha essência mais profunda. Desde criança, eu acreditava que tinha uma missão de salvar os bichos. Julgam mal os governantes que separam a questão ambiental da social, o que é uma visão estreita e deturpada. A questão ambiental é fundamental, os recursos naturais se tornam finitos pelo mau uso. Pessoas que desmatam estão cometendo um crime social. Isso tudo faz parte da enorme negligência que vivemos no Brasil. Tudo é impune. Aí quando a coisa vira gigantesca e não tem mais controle, começam a tomar medidas paliativas.
Você divulgou um vídeo em que aparece tomando banho como forma de chamar a atenção para o desperdício de água. Ele teve o efeito esperado?
Sim, só nas redes sociais passou de 30 milhões de visualizações. Teve um alcance estrondoso, foi muito bom mesmo. O Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) até me agradeceu. A cidade tem que ser pensada pelos habitantes, quanto mais conseguir diminuir o consumo, melhor.
Apesar de estar afastada da TV, você continua lembrada.
É engraçado. Nas redes sociais mesmo, duas coisas que não faço teoricamente há muito tempo chamam a atenção, que é publicar livro de poesias e atuar na televisão. As pessoas compartilham e falam de trabalhos na TV que nem eu lembro mais. Fico feliz. Minha busca foi por personagens complexos. Por mais simples que possamos parecer, somos pessoas com muitas facetas, com dúvidas, incertezas, emoções. Temos abrangência, é assim que eu gosto de ver os outros.
Como você se tornou escritora?
Comecei a escrever profissionalmente na escola. Fazia redações para os colegas e ganhava lanches. Inúmeros recreios eu passava dentro da biblioteca lendo livros. Comecei a trabalhar muito cedo como atriz e modelo, mas era um pouco avessa a aparecer, não tinha muito interesse, não era prioritário ser capa de revista. Quando adolescente, uma revista de Nova York publicou dois poemas meus. Recebi em dólares. As coisas foram acontecendo.
Qual a sua opinião sobre o atual culto à aparência? Há exagero na preocupação com a imagem?
Acho que é uma pena para qualquer ser humano passar pela vida e só descobrir uma característica de si mesmo. Depende do quanto você quer se conhecer.
Ser uma mulher bonita impulsionou sua carreira?
Nunca vou saber. Eu nunca me limitei a me relacionar com alguém apenas pelo ponto de vista físico ou estético. Nunca senti esse tipo de superficialidade porque na minha conduta, nos personagens que fiz, sempre havia profundidade.
Como você lidava com o sucesso?
Dentro de mim eu ficava satisfeita, mas minha busca era com o que eu fazia. O que acontecia exteriormente, o sucesso, o reconhecimento, eu ser a modelo mais bem paga do Brasil, a atriz mais bem paga da Globo… Tudo era significativo e satisfatório, mas não alterava a busca interna do que eu queria. O que eu buscava de verdade era ter mais compreensão, visão maior do mundo, ter experiências, isso é o que mais marca minha jornada. Eu sentia que tinha uma busca maior dentro de mim desde pequena.
Você entrevistou a Camille Paglia, conhecida por fazer várias críticas ao feminismo. O que pensa sobre ela?
Camille sempre foi controversa, mas ela é uma “persona”. Ela olha as coisas com muita paixão. Eu posso não concordar, mas dou força para as pessoas dizerem o que acreditam. Acho que as mulheres estão muito aquém da posição em que devem estar. Elas precisam ser valorizadas, não podem sofrer violência doméstica, tem que batalhar por equiparação. Camille diz que, com a luta das mulheres, os homens ficam acuados. Eu penso que as mulheres podem subir sem acuar ninguém. É uma oportunidade para que os dois gêneros se comuniquem melhor.
Você se considera feminista?
Eu acho esse termo até antigo, acho que estamos com novos valores, o valor de indivíduos lutando junto para um mundo melhor. Minha atitude sempre foi a favor da mulher como pessoa, indivíduo, e não só no discurso, na posição, na vida, no relacionamento.
Como você lida com as redes sociais?
Tenho uma página no Facebook. Criei porque havia muito perfil meu que era falso. A razão que me leva a escrever lá é levar mensagens para pessoas: que tenham mais paz, criem relações mais gentis. Esse é um sentimento que se perde na grande cidade, no trabalho, nos compromissos.
Você gosta dessa forma virtual de se comunicar?
Acho maravilhoso. Estamos todos conectados, a felicidade do outro me altera, assim como a dor do outro. É ingenuidade achar que alguém pode ser feliz sozinho e isolado.
Há quem diga que a internet afasta as pessoas.
Isso é uma falsa ilusão. É como a vida: a maneira como você vai experienciar depende da sua proposta. E ela vai responder de acordo com a maneira pela qual você entra nisso. Essa aparente falta de atenção na verdade é um grande filtro. Quando interessa, você fica.
A palavra felicidade aparece em vários projetos seus. O que é felicidade para você?
Felicidade não é fixar um ponto onde você precisa chegar, mas compreender que é a jornada que importa. Poderia ser uma palavra que está absolutamente desgastada pelo mundo que usa isso pra vender. Também porque as coisas são tratadas com superficialidade, e as relações humanas acabam sendo superficiais, insatisfatórias. Aí as pessoas recorrem a aditivos, pílulas. Não é uma necessidade, é um recurso. A insatisfação e o vazio se tornam muito amplos. Temos que limpar os significados adquiridos que não são verdadeiros e desvendar o que é aquele sentimento para você, que vai ser diferente para cada um. Então meu encorajamento, minha motivação para as pessoas é inspirá-las a buscar a verdade dentro delas. Criei a Rede Felicidade, um portal que vai ser inaugurado a†é o final do ano, onde poderei responder o público em um ambiente em que as pessoas possam falar, compartilhar, ser mais felizes.
Você é religiosa?
Não tenho uma religião específica, não frequento nenhuma igreja, mas respeito divinamente todas as religiões, porque o princípio é o mesmo, varia conceitualmente, na interpretação. Estudo a cabala, islamismo, budismo. Embora em momentos diferentes no universo, elas têm conceitos idênticos, assim como os grandes pensadores, os líderes do pensamento da humanidade. Desde pequena, sempre prestei muita atenção em energias. Eu acho que estamos recebendo e emanando energia o tempo inteiro. Quem não entende a coisa energética é porque não está aberto para o óbvio.
As pessoas têm buscado novos caminhos para encontrar a espiritualidade?
Estamos vivendo uma retomada espiritual. Ela é imprescindível. O mundo não tem outra saída. Os valores estão muito conturbados, há um movimento acelerado, ódio e mais ódio, armamento e mais armamento. A mudança tem que ser de valores. Eu não tenho dúvida de que essa busca é real, por isso há tanto engajamento nas minhas redes sociais, onde falo muito sobre esses assuntos.
Seu casamento com o ator Carlos Alberto Riccelli já dura mais de 30 anos. Qual é o segredo?
A gente trabalha junto, passa 24 horas por dia junto, toma decisões, acompanha reformas na casa. Teria tudo para não der certo. Somos pessoas muito independentes, com suas opiniões e temperamentos. Mas desde que nos conhecemos, embarquei na viagem. Esse foi o denominador que se preservou, Muito mais do que a ideia de estabilidade do casamento, estamos juntos em uma aventura. Temos paixão um pelo outro, pelo que fazemos, pela vastidão do trabalho que encontramos, por tudo que encaramos e superamos juntos. Não digo que vivemos sem brigas ou confrontos, mas são brigas criativas. Não é o poder que ambicionamos, mas a excelência da criação.
Você discorda da ideia de que a paixão é passageira. Por quê?
Se você não está vivendo apaixonadamente não vai ter paixão por nada e nem por ninguém. Se você é movida pela curiosidade, entusiasmo, estímulo, por essa vibração da energia do universo, aí não tem como a paixão não estar presente.
Foto: Marcos Alves/Agência O Globo; Marlene Bergamo/Folhapress