Marina Novaes, El País
Candidato do PT à reeleição faz ofensiva para reconquistar a periferia, desiludida com sua gestão
Fernando Haddad, atual prefeito de São Paulo, tem à frente uma missão difícil: reeleger-se no ano em que o Partido dos Trabalhadores (PT), no qual é filiado há três décadas, vive o auge de sua crise de popularidade. Se o aquariano nascido em 25 de janeiro de 1963 fosse adepto da astrologia (não é, tem um perfil lógico e nada místico) e dos trocadilhos (também não é o caso), poderia atribuir às estrelas a conjuntura de crises múltiplas que contribuiu para que ele seja o mais rejeitado entre os postulantes à Prefeitura de São Paulo em 2016. Visto como esperança de renovação no partido, ele empreende luta desesperada na reta final para não ser o único petista a não avançar para o segundo turno em uma disputa na capital desde a redemocratização. Às vésperas da votação decisiva de domingo, Haddad tem de se confrontar com um paradoxo: é o prefeito pouco petista que sofre com o auge do antipetismo.
O PT é apontado em um levantamento do Datafolha como o partido de preferência de 9% dos eleitores da capital paulista, o menor índice desde 1985 obtido pela legenda, que chegou a ser a preferida de 35% do eleitorado em épocas passadas —mais especificamente em 2012, ano em que Haddad se elegeu. Boa parte da rejeição vem justamente de redutos petistas, a periferia de São Paulo, onde, na ausência de uma marca forte de gestão nas áreas pobres, muitos não associam o prefeito à gestões municipais da sigla do ex-presidente Lula, que anos atrás o alçou candidato a contragosto de muitos caciques do PT. Mas não é só isso. Somam-se a esse fator: uma grave crise econômica (que minguou o repasse federal à Prefeitura); a inédita onda de manifestações em 2013, que despertou um forte sentimento de rejeição partidária; a altíssima demanda que prevalece entre a população carente por serviços básicos de qualidade (alguns deles, atribuições de outras esferas do Executivo, como dos Governos estadual e federal); e, por fim, o terremoto político nacional que teve o PT como protagonista (da Lava Jato ao impeachment de Dilma Rousseff)... No mínimo, Fernando Haddad é um azarado.
Não que a tarefa fosse fácil, de qualquer modo, mesmo com as estrelas a favor. O eleitorado paulistano não costuma reconduzir seus prefeitos, mas o diretor-geral do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, junta alguns pontos do panorama para explicar a situação: "O índice de rejeição a ele é comparável ao obtidos por Luiza Erundina no final do mandato e por Celso Pitta, isso lembrando a avaliação de Governo. Não fazemos perguntas específica sobre as razões da rejeição, mas dá para ligar alguns pontos: a gente vive hoje nesse momento um recorde de eleitores que não têm partido de preferência: dois terços dos eleitores não têm um partido preferido. Então isso é um sintoma, é um sinal de que existe uma rejeição muito forte à prática política e aos políticos em geral. E quem mais perdeu com isso foi quem mais tinha a perder, que era o PT. Então certamente o Haddad sofre com essa rejeição ao partido".
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Fernando Haddad, prefeito de São Paulo e candidato a reeleição, e Lula (Foto: Instituto Lula)