MARIANA CARNEIRO
BRUNO VILLAS BÔAS
Folha de São Paulo
BRUNO VILLAS BÔAS
Folha de São Paulo
A economia voltou a se contrair no segundo trimestre deste ano, mas sinais ligeiramente positivos na indústria e nos investimentos alimentam expectativas de que a atividade econômica poderá se estabilizar em breve, após meses de recessão.
Segundo informou o IBGE nesta quarta-feira (31), o PIB (Produto Interno Bruto) do país encolheu 0,6% entre abril e junho, em relação aos primeiros três meses do ano.
Foi o sexto mês seguido em que a economia sofreu contração, a mais longa sequência na atual série histórica das contas do IBGE, iniciada no primeiro trimestre de 1996.
Os sinais positivos emergiram ainda fracos. A indústria saiu do vermelho pela primeira vez depois de cinco trimestres de queda, e os investimentos subiram depois de dois anos e meio em declínio.
Porém, o consumo e os serviços, que são ancorados no emprego e na renda e ainda dependem da digestão do elevado endividamento das famílias, seguem em contração.
Este cenário ambíguo sugere que a retomada da economia, esperada para ocorrer entre o fim deste ano e o início de 2017, chegará num ritmo lento. Sem que os serviços e o consumo se recuperem, é difícil imaginar um crescimento mais vigoroso.
"Os investimentos e a indústria mudaram de comportamento, mas não afetaram tanto o PIB por causa do peso dos serviços, que representam 72% da economia", afirma Rebeca Palis, gerente de contas nacionais do IBGE.
O economista do Itaú Unibanco Rodrigo Myamoto viu nos números positivos da indústria e dos investimentos "um primeiro impulso" da atividade, resultado da diminuição dos estoques e da substituição de equipamentos que estavam depreciados.
"Os fundamentos indicam que a indústria chegou ao fundo do poço", disse ele.
O monitoramento feito pelo banco em vários indicadores da economia, segundo Myamoto, mostra desempenho acima do esperado também na confiança de empresários do varejo e no crédito.
Mas, se a economia pode caminhar para uma estabilização, essa eventual melhora ocorrerá sobre um nível de produção muito baixo.
A atual recessão teve início há dois anos, no segundo trimestre de 2014, pelos critérios do comitê da FGV (Fundação Getulio Vargas) que determina os ciclos da economia brasileira em parceria com o Conference Board, um grupo de estudos americano.
A FGV considera um conjunto mais amplo de indicadores da economia, como o rendimento do trabalhador e as vendas do varejo, e não apenas o PIB. Por esse critério, esta já é a mais longa recessão vivida pelo país desde a verificada entre o fim de 1989 e o início de 1992, que se prolongou por 11 trimestres.
Com a retração verificada até junho, a ex-presidente Dilma Rousseff chegou ao fim de seu segundo mandato com a economia em nível inferior ao que herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após sucessivas quedas, o PIB recuou para o patamar do fim de 2010, quando Dilma se preparava para assumir o governo.
A confiança dos empresários na economia cresceu no segundo trimestre, com a expectativa do fim do impasse político que paralisou o país.
O ritmo de saída da recessão, porém, dependerá da capacidade do presidente Michel Temer, empossado nesta quarta (31), fazer ajustes na economia, afirmam analistas.
"A recuperação da confiança não se sustenta sem avanço na área fiscal", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina.
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