O vice-presidente Michel Temer já começa a traçar com aliados mais próximos a organização de seu eventual governo, caso o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff seja de fato aberto. Uma ideia já consolidada é sobre a necessidade de enxugar a máquina, reduzindo o número de ministérios para cerca de 20, em vez dos atuais 31, extinguindo praticamente todas as secretarias especiais. Temer também quer reduzir sensivelmente os 22 mil cargos comissionados espalhados pela Esplanada.
Dois nomes são considerados ministros dos sonhos do vice: o senador José Serra (PSDB-SP), para a Saúde, e Armínio Fraga, para a Fazenda — embora este último já tenha sinalizado que tem dificuldades de aceitar um eventual convite. Dois outros economistas são vistos como possíveis indicações para a equipe econômica, especialmente no caso de recusa de Armínio: os presidentes do Insper, Marcos Lisboa, e da Federação Brasileira dos Bancos, Murilo Portugal — ambos ex-secretários do Ministério da Fazenda.
DEM VOLTARÁ A TER FORÇA
Para não afastar aliados, os peemedebistas buscarão evitar o loteamento de cargos no primeiro escalão com nomes do próprio partido, ficando com o comando de quatro ou, no máximo cinco ministérios. Isto porque a intenção é de que o “núcleo ideológico” do novo governo seja comandado por PMDB, DEM, PSB e PSDB — ainda que os tucanos não desejem até este momento ocupar cargos institucionalmente. Juntos, estes partidos somam 176 deputados. Para formar maioria, o vice sabe que precisará do apoio das outras legendas de sustentação do governo Dilma, como PP, PR e PSD. A expectativa, portanto, é que eles também tenham ministérios relevantes. Mas aliados de Temer dizem que haverá critérios mínimos de qualificação.
— Não será um ministério de “notáveis”, como andam dizendo. Será fundamental uma combinação de qualificação técnica e peso político. Não há tempo para fazer programas de governo. Teremos que buscar pessoas experientes, que agreguem politicamente e saibam o que estão fazendo em cada área — disse um peemedebista da cúpula partidária.
Nesta lógica, a expectativa no núcleo do PMDB é que tanto Armínio quanto Serra entrem na Esplanada avalizados pelo PSDB. Os tucanos, no entanto, ainda mantém a posição de apenas liberar seus filiados a ingressar em um eventual governo, sem compromisso de dar sustentação parlamentar a todos eles. Os peemedebistas desejam que a aliança se formalize no Parlamento.
O DEM deve, após 13 anos longe do poder, voltar a ter força. O tabuleiro peemedebista prevê um ministério de porte para o partido. Ao menos dois nomes da legenda são citados como possíveis ministros: o senador Ronaldo Caiado (GO), para a Agricultura, e o deputado José Carlos Aleluia (BA), para Minas e Energia.
Um dos mais próximos aliados de Temer, o ex-ministro Eliseu Padilha deve ocupar um dos ministérios políticos abrigados no Palácio do Planalto: Casa Civil ou a Secretaria de Governo, única que deverá ser mantida. Outro braço-direito de Temer, o ex-governador Moreira Franco também deverá ter alguma pasta de peso. Numa tentativa de recompor as relações internas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deverá indicar um ministro — o nome mais cotado é de Vinícius Lages, que foi ministro do Turismo de Dilma.
Além da discussão de nomes, os peemedebistas estão focados em medidas capazes de atacar a recessão econômica. Na avaliação de pessoas próximas a Temer, se o impeachment for aprovado, a crise política será parcialmente esvaziada.
Confira os cotados para as pastas:
Armínio Fraga
FAZENDA: Foi presidente do Banco Central no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Sócio-fundador da Gávea Investimentos, é um dos economistas mais influentes do Brasil com bom trânsito entre os tucanos
Ronaldo Caiado
AGRICULTURA: O senador do Democratas pelo estado de Goiás é um dos mais ferrenhos opositores do governo Dilma Rousseff. Médico e ruralista, Caiado foi candidato à Presidência da República em 1989, quando enfrentou Lula e Collor
José Serra
SAÚDE: Senador, já esteve à frente da pasta durante o governo de Fernando Henrique. Disputou a Presidência da República duas vezes e está entre tucanos que podem brigar pelo Planalto em 2018. Tem sido duro em suas críticas ao governo Dilma