sexta-feira, 29 de abril de 2016

Engajamento vital

Pedro Marcondes de Moura e Mel Bleil Gallo - IstoE


Cúpula do PSDB decide ingressar na gestão Temer. A parceria é essencial para garantir a formação de um governo de união nacional e destravar a economia


Desde que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi aprovado na Câmara, o vice Michel Temer tem confidenciado a aliados que o ponto-chave para o sucesso de sua gestão é atrair o PSDB. Temer, porém, não quer repetir o modus operandi do PT, centrado no velho toma lá dá cá de cargos que sufocou a máquina pública nos últimos anos. Sua ideia é adotar uma estratégia mais institucional e menos fisiológica. Na quarta-feira 27, a aliança entre PMDB e PSDB foi selada em uma reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, e da qual participaram Temer e o senador Aécio Neves. 
Depois do encontro, Renan disse que está satisfeito com a parceira do PSDB com o futuro governo. Os tucanos se comprometeram a ajudar Temer, mas não admitirão negociações individuais. Para evitar o varejo de cargos, as tratativas serão feitas apenas com a direção nacional do partido. Nas conversas com Temer, o PSDB fez outra exigência. 
O futuro governo terá de incorporar cerca de vinte propostas para o Brasil, que serão apresentadas em um documento a ser aprovado pela executiva da sigla na terça-feira 3. São reformas necessárias para o País superar a crise econômica, como mudanças fiscais, simplificação tributária e redução da máquina pública. “Tínhamos duas opções: lavar as mãos ou ajudar o Brasil a sair da crise. Vamos dar a nossa contribuição”, afirmou o senador Aécio Neves.

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UNIDOS 
Geraldo Alckmin, Aécio Neves e Fernando Henrique (da esq. para a dir.) aliança em prol do Brasil
Em um primeiro momento, a direção tucana se dividiu sobre ingressar ou não no governo Temer. O grupo do senador José Serra se mostrava favorável. Argumentava não fazer sentido apoiar o impeachment e não contribuir com uma nova gestão. Outras alas temiam o desgastasse da legenda. Nos cálculos dos tucanos, poderia ser arriscado apostar o capital político na indicação de ministros para a gestão Temer. Afinal, não são poucos os desafios econômicos que ele terá pela frente. 
De maneira sensata, integrantes do PSDB avaliaram que é justamente o cenário adverso que exige a participação tucana. Negar-se a fazer parte de um governo de união nacional, como o PT fez com Itamar Franco, isolaria a legenda das vozes que pediam o impeachment na rua. “O PSDB tem responsabilidade política. Então não pode simplesmente dizer não entro (na gestão Temer)”, declarou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

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ALIADOS 
Temer, Renan e Aécio (da esq. para a dir.) se reúnem em Brasília: Renan 
disse que está satisfeito com a parceira do PSDB com o futuro governo

O raciocínio de FHC foi compartilhado por parlamentares em trocas de mensagens por celular. Os apelos são tantos que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mudou de postura. Relutante da adesão do partido, agora se inclina a apoiar a ocupação de cargos. Três tucanos são considerados ministeriáveis. A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) é cortejada para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos. 
O nome de Aloysio Nunes Ferreira ganha força para a pasta de Relações Exteriores. José Serra é cogitado para a Educação, entre outros postos estratégicos. Especulações apontam que Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Antonio Anastasia (PSDB-MG) poderão ocupar outras vagas.

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No Congresso Nacional, o staff do vice-presidente demonstra disposição em abrir mão da hegemonia peemedebista no Congresso. Atualmente, o PMDB ocupa a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado. Temer estuda patrocinar um nome tucano à sucessão de Eduardo Cunha, o que funcionaria como um reequilíbrio de forças. 
O mais cotado é o deputado Jutahy Magalhães. Apesar de fugir das alianças eleitoreiras firmadas pelo PT, a costura entre PMDB e PSDB passa pelas eleições de 2016 e de 2018. Temer selou um acordo com os tucanos de que não será candidato à reeleição. 
Tampouco, diz, usará a máquina federal para eleger um correligionário. O primeiro teste da neutralidade deverá ocorrer neste ano. Um compromisso firmado entre as duas partes estabelece que Temer não interfira diretamente na disputa em capitais onde tucanos tentem à reeleição ou liderem as pesquisas.
Foto: Adriana Spaca/Brazil Photo Press; Antonio Cruz/Agência Brasil