sábado, 30 de abril de 2016

Empreiteiro diz que Lula montou o cartel da corrupção e Dilma sabia de tudo. Erenice arrecadava para a presidente

Zuleido Veras: o dinheiro era para garantir “a sobrevivência” de Lula. Em troca, o PT ajudava a empresa



"Com a delação do Marcelo Odebrecht, ninguém fica de pé"

O engenheiro Zuleido Veras conhece ´por dentro` o esquema montado por Luiz Inácio e o PT para sustentar a ´organização criminosa´, como denominou o Supremo Tribunal Federal durante o julgamento do mensalão, que mandou para a prisão alguns dos principais integrantes da quadrilha Lula-Dilma.

Nome de maior destaque, entre os presos, José Dirceu, capitão da quadrilha de Lula.

Leia a íntegra da entrevista concedida por Zuleido Veras a Hugo Marques, de Veja:


O empresário Léo Pinheiro, da OAS, fez algum favor para o ex-presidente Lula no passado?
Ele ajudava financeiramente nas campanhas. Sem aparecer, lógico. Tudo era caixa dois


Como é que o senhor sabe dessas coisas? 
Havia reuniões na empresa (refere-se à OAS), Você sabia de todas as conversas. Eram conversas reservadas. O Lula foi presidente do PT. Não era só o Lula. Eram os expoentes do PT.


Por que a OAS dava dinheiro a políticos da oposição, quando os interesses da empreiteira estavam em obras do governo?
Há aqueles comissões da Câmara dos Deputados. Você sempre precisa de algum amigo para neutralizar. Tinha de ter relações. Botava um elementos lá dentro, e o elemento fazia a festa, fazia um carnaval. O Gushiken (refere-se a Luiz Gushiken, ex-ministro de Lula, falecido em 2013) foi um dos deputados mais atuantes dessas comissões. Certa vez, acho que 2002 ou 2003, falaram de uma comissão que ia fazer uma investigação contra as empresas. Tinha uma obra nossa no Rio Grande do Norte. A gente precisava neutralizar.

E neutralizaram dando dinheiro a Gushiken ou a outros petistas? 
Isso abriu um canal de diálogo permanente com eles. Facilitava o acesso. O Gushikem, por exemplo, era um dos parlamentares mais atuantes em investigações que envolviam negócios de interesses de empreiteiras.


O que o senhor achou quando soube do tríplex do Guarujá e do sítio em Atibaia?
Normal. A relação deles (entre Lula e Léo Pinheiro) é antiga. Hoje eles (os petistas) estão ricos, nem precisam disso.


Além das contribuições de campanha, a OAS dava ajuda financeira a Lula?
Sim.


Como era feita essa ajuda? 
Não podia aparecer. E não era essa dinheirama de hoje, não. O Lula recebia coisa de R$ 30 mil, R$ 20 mil, R$ 10 mil, em valores de hoje. Era coisa de sobrevivência.


Era só uma relação entre amigos?
Você tinha uma pessoa na esquerda com a qual podia dialogar. Você tinha uma porta aberta para conversar e convencer. Você tinha acesso ao pessoal para explicar as coisas. O problema é que transformaram.


Transformaram o quê?
Misturaram o público com o privado, nessa coisa de petrolão. Tentaram fazer um negócio igual ao da China, onde todas as empresas são do Estado.


O senhor ainda mantém contato com os grandes empreiteiros? 
Alguns ainda são meus amigos.


O que eles já lhe disseram sobre o esquema de corrupção na Petrobras? 
Lula montou esse cartel, com certeza. Era um projeto de poder. Ainda bem que estão saindo, pois iam quebrar o Brasil. Já quebraram a Petrobras. Com a delação do Marcelo Odebrecht, ninguém fica de pé.


Por quê?
Porque ele conhece todos os detalhes. Todos.


A presidente Dilma é vítima?
Ela sempre soube de tudo. Ela sabe de tudo. Sabia também do cartel. Quem é que não sabe que a Erenice Guerra (refere-se à ex-ministra da Casa Civil de Dilma) era a arrecadadora de Dilma? Todo mundo sabia disso no mercado, que ela arrecadava dinheiro junto às empreiteiras.


De maneira clandestina?
Claro. A presidente se beneficiava. Não tenha dúvida disso. Ela está se dizendo inocente, mas não é verdade.


Quando o cartel começou a operar nas grandes obras da Petrobras?
Nasceu em 2005, mas começou a operar com os grandes negócios no segundo mandato de Lula, em 2007. O Ricardo Pessoa (refere-se ao dono da UTC, empreiteira envolvida na Lava Jato) disse que começou a funcionar em 2005, mas deve ter sido de forma embrionária. Antes, havia uma disputa, mas era uma disputa entre os empresários. A partir do segundo governo do Lula, oficializa-se o grande cartel. O Palácio do Planalto fatiava politicamente as grandes estatais e os ministérios. Lula precisava criar o cartel para a eleição de Dilma. Era um projeto de poder para eleger Dilma. E de enriquecimento pessoal de alguns.


Por que a Gautama não entrou no quartel que operava na Petrobras?
A Gautama era pequena. Nos aeroportos, fiquei com o menor, o de Macapá. Na Petrobras, eu queria entrar e peguei o pior negócio, que era fazer o campo de Urucu, na Amazônica, um fim de mundo. Era fazer estradas, pistas de aeroporto, no meio da floresta. De quinze em quinze dias tinha que levar dois botes para tirar a gente.


Havia outros políticos que recebiam dinheiro?
O Jaques Wagner (refere-se ao atual chefe de gabinete da presidente Dilma) foi por amizade. A gente se encontrava nos aniversários, nas festas. Éramos amigos. Ele ia a minha casa pedir dinheiro. Terminava uma eleição, ele aprecia: "Zuleido, estou precisando de dinheiro para pagar as contas". Dei dinheiro para ele três vezes. Coisa de R$ 30 mil em cada eleição. Mas foi do meu próprio bolso. Dei por fora.