Depois do Rio, os estados onde as empresas do setor pagaram mais caro pela energia foram Espírito Santo (R$ 617,4) e Mato Grosso (R$ 616,3). Na outra ponta, o megawatt/hora mais em conta foi pago pelas indústrias de Bahia (R$ 371,9), Amapá (R$ 348,3) e Amazonas (R$ 290,5).
No Rio, a alta da tarifa foi resultado direto de dois reajustes, o anual e o extraordinário. Juntos, eles somaram 51,09% de alta para os clientes da Ampla e entre 42% e 53,14% para os da Light.
PESO MAIOR NA SIDERURGIA
Maria Carolina Marques, economista da CNI, explica que o impacto do aumento na tarifa depende do quanto cada setor industrial utiliza de energia para produzir. São mais intensivos no uso de energia em seu processo produtivo os segmentos de metalurgia, celulose, madeira, têxtil e de produção de cimento, concreto, vidro e cerâmica, por exemplo; já os ramos de equipamentos de transportes e farmacêutico consomem menos.
— O aumento de custos gera um repasse aos preços ao consumidor. Mas, por conta da crise, a demanda está baixa e qualquer aumento de preços não será bem recebido. Então, o que temos visto são indústrias absorverem uma redução da margem de lucro — observa Maria Carolina.
Seguindo a lógica da dependência, o segmento que mais sentiu o encarecimento da eletricidade no Rio foi a siderurgia, aponta o economista Silvio Sales, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
— Entre os segmentos mais expressivos no Estado, o setor de siderurgia, que tem no Rio representantes da produção de alumínio, sente mais por ser mais dependente. Ao mesmo tempo, porém, as grandes siderúrgicas passaram a produzir a própria energia há algum tempo — afirma o especialista, fazendo a ressalva de que a diversificação da indústria fluminense proporciona certo alívio. — No setor industrial do Pará, por exemplo, onde esse segmento (siderurgia) domina a indústria, a tarifa de energia influencia mais os custos. No Rio, há mais diversificação, e a indústria automobilística e de refino de petróleo usam muito menos energia em sua produção.
Em 2015, o consumo de energia pela indústria do Rio caiu 0,9% entre os clientes da Light e 3,5% entre os da Ampla, na comparação com o ano anterior. A queda é fruto da menor demanda dos consumidores, o que levou a uma redução de 8,3% na produção em todo o país no ano passado, pior desempenho desde 2003. Mas a queda no consumo de energia por causa da produção menor não foi foi capaz de compensar a alta da tarifa, pondera Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI:
— Mesmo com uma produção menor, a indústria estará consumindo energia, pois há funcionários nas fábricas, ocupando espaços. Tanto que a queda na produção não é proporcional à queda no consumo de energia.
— Todo o setor pagou um preço alto pelo tarifaço de energia em 2015 — completa Sales.
ATRÁS APENAS DE SÃO PAULO
Uma estratégia para driblar o encarecimento, apontam os especialistas da CNI, são as empresas passarem a produzir a própria energia, vendendo o excedente não consumido no chamado mercado livre. Sales pondera, no entanto, que a maior parte da indústria já enxugou o que podia no uso de energia por ter adotado medidas de eficiência durante a crise energética do início dos anos 2000.
O economista ressaltou ainda que, como a indústria consome 48% da energia do país, ela acaba ditando o ritmo de consumo nacional.
O estudo da CNI, realizado com base em números do IBGE, mostra que, em 2013, o Estado do Rio possuía um PIB industrial de R$ 162,5 bilhões, o equivalente a 14,4% da indústria nacional. Só perdia para São Paulo, cuja participação foi de 28,6%.
Naquele ano, a indústria fluminense era composta majoritariamente por empresas dos segmentos de extração de petróleo e gás natural, construção, derivados de petróleo e biocombustíveis, serviços industriais de utilidade pública, químicos, metalurgia, atividades de apoio à extração de minerais e de veículos automotores.