O cuspe faz sucesso, na poesia. Te escrevo/ Cuspe, cuspe, não/ Mais, tão cuspe, dizia João Cabral (em “Psicologia da composição”). Ou Drummond (em “José”), Já não pode beber/ Já não pode fumar/ Cuspir já não pode. Ou Augusto dos Anjos (em “Versos íntimos”), O beijo, amigo, é a véspera do escarro. Na Bíblia, também. Ora é começo, Deus uniu sopro e saliva com o barro do terroso (Gn 2,7); ora é fim, Réu de morte, cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam (Mateus 26,27). Problema é que, no Brasil de hoje, o bendito cuspe anda longe dos versos. E dos evangelhos.
No espaço de uma semana o deputado Jean Wyllys, na votação do impeachment, cuspiu no deputado Jair Bolsonaro. Com todo respeito, Vossa Excelência, toma lá um cuspezinho. E o ator da Globo José de Abreu, num restaurante, em casal que o criticava pelo apoio que sempre deu a Lula e Dilma. Queridos fãs, aqui vai o melhor de mim.
Não pretendo entrar no mérito dessas cusparadas. Cada qual para o que nasce/ Cada qual com sua classe/ Seus estilos de agradar – ensinava o embolador Rouxinol (Genival Pereira), de Gravatá. Mas é justo dizer que, no caso de Bolsonaro, ele quase pediu algo assim. Que a citação a um torturador contumaz (entre outros atributos pouco recomendáveis) é o suprassumo do mau gosto. Basta lembrar que, apenas ao tempo em que esteve à frente do DOI-CODI do II Exército, ocorreram pelo menos 45 mortes ou desaparecimentos forçados em sua unidade militar (favor conferir pág. 859 do relatório que fizemos, na Comissão Nacional da Verdade). Péssima ideia.
Já o caso do ator José de Abreu é (quase) exemplar. Ao mostrar que os envolvidos na Lava Jato podem até ficar impunes, em seus processos. Mas não escaparão da reação social de seus concidadãos. Do indeterminado cidadão comum. Nem eles nem seus apoiadores mais ostensivos. Em cada fila de avião, de hotel, em cada restaurante que forem, vão correr o risco de encontrar quem os censure. E reclame, em alta voz. Ou coisa pior. Como uma catarse. Haverá mesmo aqueles que pedirão se retirem do local. Sujar as mãos na corrupção tem seus inconvenientes, como agora estão vendo. E não dá para reclamar.
Engraçado, nisso tudo, é que pessoas como Roberto Jefferson não têm hoje nenhum problema em frequentar esses lugares. Deram depoimento sobre o sub-mundo da política brasileira, permitindo que possamos saber o que fazem, nos bastidores, seus atores principais. E pagaram suas penas. Diferente dos que (ainda) estão impunes. Ganhar dinheiro fácil tem seu preço. E isso agora muitos estão, inclusive José de Abreu, sabendo qual é. E reagem cada qual a seu modo. Mas cuspir, não. É ruim. É muita falta de educação.
Bobagem da semana
“Sou mulher do ministro do Turismo. O resto é conversa para boi dormir”. Miss Bumbum, mulher de... (perdão, amigo leitor, mais um ministro de Dilma que não sei o nome).