Há uma semana, não se fala de outra coisa na internet que não seja... “limões”. Beyoncé, ou Queen Bey, como é chamada por seus fãs (num trocadilho com abelha rainha, em inglês), fez jus a seu reinado com o lançamento de Lemonade (Limonada). Batizado de álbum visual, é uma narrativa costurada por música, imagem e poesia, entregue na forma de um filme de quase uma hora. Foram quase três meses de filmagens, um orçamento de US$ 1,35 milhão e uma lista de créditos de mais de 200 pessoas. As participações especiais incluem músicos, como The Weekend e Kendrick Lamar, a tenista Serena Williams – rebolando ao lado da cantora em “Sorry” – e a atriz Quvenzhané Wallis, indicada ao Oscar em 2013.
Em Lemonade, Beyoncé passeia por diferentes ritmos e traz pelo menos dois hinos, “Freedom” e “Formation”, daqueles que levam estádios ao transe coletivo. As músicas-clipe contam a história de uma mulher traída em todas as suas fases: descoberta, sofrimento, raiva, perdão e redenção. Segundo versões da imprensa, Beyoncé foi traída pelo marido, o rapper Jay-Z, que aparece em uma das cenas, contrito, abraçado aos pés da cantora. Na sequência final, por meio de uma fala da avó de Jay-Z, um dos sentidos do nome do álbum é esclarecido. “Serviram-me limões na vida, mas eu fiz limonada”, diz Hattie White, sorrindo.
Os “limões” não se referem exclusivamente à traição de Jay-Z. O relacionamento amoroso é um cavalo de Troia usado por Beyoncépara expor suas posições políticas a respeito das violências a que foram submetidas diferentes gerações de mulheres negras, os maiores alvos de discriminação social e econômica, como mostram múltiplas estatísticas.
“A pessoa mais desrespeitada na América é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida na América é a mulher negra. A pessoa mais negligenciada na América é a mulher negra”, brada o líder negroMalcolm X em meio a “Don’t hurt yourself”, poderosa parceria de Beyoncé com o guitarrista Jack White. Turbantes, cabelos trançados e em black power, pinturas corporais em alusão à tradição iorubá e Nova Orleans compõem a estética política de Lemonade, uma celebração do orgulho negro por mulheres negras.
Tal empreitada artística é resultado da maturidade e da autonomia alcançadas por Beyoncé depois de duas décadas de carreira. Ela é dona do selo musical que administra sua obra, o Parkwood Entertainment, e tem controle absoluto de tudo o que produz. Isso permite a Beyoncé abordar temas considerados polêmicos e assumir atitudes ousadas. Em fevereiro, em sua apresentação no Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, um dos eventos de maior audiência do mundo, Beyoncé se apresentou ao lado de dançarinas vestidas de Panteras Negras – o grupo ativista negro dos anos 1960.
Como resposta a quem pediu o boicote a seus shows depois da apresentação no Super Bowl, o merchandising do primeiro show da turnê Formation, realizado na quarta-feira, dia 27, em Miami, incluiu a venda de camisetas em que se lia “Boycott Beyoncé” (Boicote Beyoncé). Nas três horas de apresentação, a cantora homenageou Prince, o ídolo morto no dia 21 de abril. A turnê pelos Estados Unidos e pela Europa terá shows até agosto, com ingressos esgotados para a maioria. Aos detratores resta, por ora, se curvar ao poder da abelha rainha.