Pelo menos seis ex-ministros da presidente Dilma Rousseff já decidiram votar no Congresso pelo impeachment da ex-chefe. Eles negam que o ato seja uma traição. A maioria se refugia sob o manto de decisões partidárias para justificar suas posições. A inclusão de ex-auxiliares diretos de Dilma na debandada é vista por parlamentares da oposição como mais um sinal de que o governo perderá domingo.
O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que foi ministro da Pesca, integra esse grupo. Ele ressalta que seu partido fechou questão pelo impeachment. Observa ter sido um dos fundadores da legenda e afirma ser preciso acompanhar a posição por fidelidade, apesar de, meses atrás, ter chegado a posar para fotos durante negociações para uma ida ao PSB.
Para justificar a decisão de votar contra Dilma, Crivella busca separar o governo de que participou do atual.
— Fui ministro do governo anterior, um governo que deu certo e foi reeleito. Não fui ministro desse governo que está aí agora — disse.
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), também senador, disse ter vivido um “dilema” até chegar ao voto pelo impeachment. Ele frisou que, como ministro da Previdência, nunca se sentiu desprestigiado, destacando a aprovação da regulamentação da previdência complementar dos servidores públicos como conquista de sua gestão. Disse, porém, que a sua atuação virou uma “gota no oceano do contexto trágico que o país atravessa”. Reconheceu que o gesto de seu primo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de abandonar o Ministério do Turismo em março foi decisivo.
— O Henrique e eu atuamos politicamente juntos. Ele ficou um tempo sem poder se desvencilhar do governo, mas o gesto dele de sair teve um impacto aqui em Brasília e também no estado. Isso me deu força para tomar a decisão. E claro que tem o fato de o PT ter feito campanha contra a gente lá, inclusive usando o Lula — afirmou Garibaldi.
CONSEQUÊNCIA NATURAL
No caso do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), a decisão foi mais fácil. Ele afirmou que em 2013 o seu partido já tinha rompido com Dilma. Disse que a posição agora é uma consequência natural desse afastamento:
— Não é uma posição que nos alegra, é algo dolorido. F omos parceiros do projeto do ex-presidente Lula que muitas coisas boas trouxe, mas a condução desastrosa que a presidente Dilma fez da política econômica botou tudo a perder. O Eduardo já tinha alertado a presidente em 2013 do rumo equivocado que foi tomado.
O líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), não quis se alongar na avaliação. Ele chegou a votar contra o impeachment na comissão especial, mas, diante da debandada de seu partido, afirmou que não tinha como manter a posição:
— Como líder, tenho que acompanhar a bancada.
Outros dois ex-ministros anunciaram voto pelo impeachment: a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) e Edinho Araújo (PMDB-SP).