GUSTAVO PATU - Folha de São Paulo
A recessão brasileira está prestes a se tornar oficialmente a mais longa desde o Plano Real, lançado em 1994, mas ainda não há sinais de que o fundo do poço econômico tenha sido atingido.
Na terça-feira (1º), será divulgado o PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção e da renda do país) do terceiro trimestre do ano, que, de acordo com todos os sinais disponíveis, mostrará queda em relação ao trimestre anterior.
Trata-se, salvo uma grande surpresa, da terceira queda trimestral consecutiva, o que não acontecia desde 1990, quando o governo Collor confiscou dinheiro depositado nos bancos na tentativa de conter uma inflação de quatro dígitos.
Uma recessão, porém, não é definida simplesmente pelo encolhimento do PIB:
trata-se de um período em que o pessimismo de empresários e consumidores –em geral desencadeado por algum revés econômico, como uma alta dos juros ou a piora do comércio global– leva a um recuo de compras, investimentos e contratações.
Pela avaliação da FGV (Fundação Getulio Vargas), a atual recessão começou no segundo trimestre de 2014 e, portanto, já completou um ano e meio de duração.
Embora o ano passado tenha fechado com estagnação do PIB, e não queda, já estavam em curso a retração dos investimentos e a freada do consumo das famílias.
Este é o ciclo recessivo mais longo desde os 11 trimestres, quase três anos, entre meados de 1989 e o início de 1992. Depois da adoção do real e do relativo controle da inflação, as recessões se tornaram mais curtas.
A de agora, no entanto, tende a ser uma exceção. Entre julho e setembro, não caiu apenas a produção presente da indústria e dos serviços; também pioraram os indicadores que sinalizam o desempenho futuro da economia.
JUROS
Os juros do Banco Central pararam de subir, mas as apostas do mercado continuam em alta, porque se espera mais inflação em 2016.
Já os preços dos produtos de exportação, que impulsionaram o crescimento econômico na década passada, seguem em baixa.
Permaneceram em declínio, ainda, as expectativas da indústria, dos serviços e dos consumidores para os próximos meses, conforme sondagens da FGV.
A fundação sintetizou em um único índice, chamado Iace (Indicador Antecedente Composto da Economia), oito indicadores das perspectivas da produção e da renda, que incluem também a variação da Bolsa de Valores, a produção de bens de consumo duráveis e o volume de exportações.
O Iace caiu por 11 meses seguidos, de novembro de 2014 a setembro de 2015, em taxas mais agudas que as da atividade econômica medida pelo Banco Central. Sugere-se, portanto, que a atividade ainda se deprimirá mais.
Houve, é verdade, uma melhora em outubro, mas não se acredita que a tendência de queda tenha sido revertida. A alta, diz Paulo Picchetti, economista da FGV, se deu "em cima de uma base de comparação muito fraca", ou seja, o mês de setembro.
Num exemplo, as expectativas da indústria, segundo motivo mais importante para o resultado do mês passado (depois das expectativas dos serviços), já mostram queda na prévia de novembro.
"As primeiras divulgações [de indicadores] para o quarto trimestre não sugerem recuperação no período", afirma o Itaú Unibanco, em relatório distribuído aos clientes na semana passada.