Num atropelar de eventos que estão levando a uma metástase da crise política com repercussão imediata para os mercados, a Procuradoria Geral da República afirma ter encontrado indícios de que o Banco BTG Pactual pagou propina de 45 milhões de reais ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
De acordo com o relato do repórter Vladimir Neto, da TV Globo em Brasilia, a Polícia Federal encontrou um documento, com uma escrita no verso indicando o suposto pagamento, na casa de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ambos presos na Lava Jato.
A descoberta foi relatada pela Procuradoria ao pedir que o STF convertesse as prisões de André Esteves e de Ferreira de temporária em preventiva. O pedido foi acolhido domingo à noite pelo ministro Teori Zavascki.
Segundo a PGR, o documento continha o seguinte texto no verso: “Em troca de uma emenda à Medida Provisória número 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de R$ 45 milhões”.
Uma fonte do BTG diz que “não há nenhum pagamento do banco para Eduardo Cunha” e notou que “o valor de 45 milhões de reais seria mais do que o total de doações de campanha que o banco fez em 2014.”
No Twitter, Cunha disse domingo à noite que a notícia ‘está cheirando armação’ e que está ‘revoltado com essa divulgação absurda de um fato absurdo [sic] é falso.’
Ainda de acordo com a PGR, a anotação diz que teriam participado da propina, pelo BTG, Carlos Fonseca e Milton Lyra. “Esse valor também possuía como destinatário outros parlamentares do PMDB. Depois que tudo deu certo, Milton Lyra fez um jantar pra festejar. No encontro tínhamos as seguintes pessoas: Eduardo Cunha, Milton Lyra, Ricardo Fonseca e André Esteves”, informou a PGR, segundo o relato de Vladimir Neto.
A descoberta é mais um golpe para o BTG no momento em que o banco tenta se isolar das acusações sofridas por Esteves. A anotação também traz para o centro do turbilhão um outro sócio do BTG: Carlos Fonseca era, até recentemente, o chefe da área de private equity do banco.
Na noite de domingo, para preservar a credibilidade do banco, Esteves renunciou a todos os seus cargos no BTG. Os sócios Roberto Sallouti e Marcelo Kalim assumiram como co-CEOs; Persio Arida e John Huw Jenkins agora são, respectivamente, o presidente e vice do conselho de administração.
Para diversos participantes do mercado, a notícia deixa o BTG mais longe de uma ‘solução de mercado’ para seus problemas e mais perto de um cenário em que o Banco Central seja obrigado a intervir na medida em que outros participantes do mercado decidam não fazer negócios com o banco.
“Isso está tomando um rumo inacreditável. Quero ver qual será a reação do Banco Central não só diante de tantas evidências mas também do fato de que, pela primeira vez na história, o dono, presidente executivo e presidente do conselho de um banco em operação e saudável é preso,” disse um advogado com relações com o banco, falando ainda sem saber da renúncia de Esteves.
A pressão sobre Cunha vem quando o Presidente da Câmara está prestes a decidir se aceita ou não pedidos de impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff, complicando ainda mais — como se isto fosse possível — o xadrez político-institucional brasileiro.
E, enquanto tudo isto acontecia, os sócios do BTG ultimavam a venda da participação do banco na Rede D’Or, a maior rede de hospitais do País — uma operação que, segundo estimativas do mercado, pode injetar cerca de 2 bilhões de reais no caixa no banco.
Segundo O Estado de São Paulo, que primeiro noticiou as conversas, o BTG tem 11% da Rede D’Or e está negociando a venda para o fundo soberano de Cingapura, o GIC.
No BTG, uma fonte disse que esta transação “deve fechar nos próximos três dias.”