segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"Em Paris, nova chance para conter o aquecimento global", editorial de O Globo

Estudos mostram que a emissão de carbono na atmosfera está em seu maior nível desde pelo menos 650 mil anos


Sob rígido esquema de segurança, Paris receberá hoje chefes de Estado e de governo de 196 países, para a Conferência do Clima de Paris — a COP-21. O encontro de 12 dias visa a estabelecer um compromisso formal entre os participantes para conter o aumento da temperatura a 2ºC neste século. Trata-se de um compromisso incontornável, considerando que 95% dos cientistas atribuem o aquecimento global à atividade humana.

O evento ocorrerá a um mês do fim de um ano que deve registrar a temperatura média mais alta da História, devido ao El Niño, fenômeno no Pacífico que atua no clima da América do Sul. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), a temperatura média neste século poderá crescer 6ºC ou mais, se nada for feito para conter a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.

O diretor-geral da WMO, Michel Jarraud, disse que é possível conter o aquecimento a 2ºC, e evitar os efeitos catastróficos da mudança climática, mas, para isso, ressalta ele, é preciso começar, e já com atraso. Estudos mostram que a emissão de carbono na atmosfera está em seu maior nível desde pelo menos 650 mil anos. O aumento alcança níveis sem precedentes a partir de 1950, quando a era industrial apresentou um salto tecnológico considerável. Com o derretimento de geleiras da Antártica e da Groenlândia, o nível dos mares está subindo em seu ritmo mais rápido dos últimos 40 anos.

Brasil, China, EUA, UE, Índia e Rússia são responsáveis pela emissão de 80% dos gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. No ano passado, as emissões brasileiras alcançaram 1,558 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) e, segundo o Sistema de Estimativa de Emissão de Gases do Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, deve ficar este ano no mesmo patamar, como nos anos anteriores, após uma trajetória de queda acentuada entre 2005 e 2009. A proposta brasileira para COP-21 é reduzir em 37% suas emissões.

Estudos revelam mudanças na composição dos agentes contribuidores dos GEE no Brasil. O setor que mais contribuiu, com 31,2%, foi o de mudança de uso da terra (que inclui desmatamento). Esta categoria, no entanto, se manteve estável entre 2013 e 2014. Boa notícia. Por outro lado, o setor de energia foi o que mais cresceu, representando 30,7% das emissões. Este aumento se deveu ao uso mais constante de usinas termelétricas para suprir o abastecimento do país, em face do efeito da seca prolongada nos reservatórios de hidrelétricas; das restrições de produção das usinas a fio d’água; e do atraso na geração de energia nuclear. Os demais segmentos foram: agropecuária (27%); processos industriais (6%) e resíduos (3%).

No que se refere às atividades econômicas, o setor agropecuário, que engloba de emissões diretas à participação em desmatamento, energia e resíduos, é o principal responsável, com 60% das emissões de GEE no Brasil. Convém destacar, porém, que houve queda no peso deste segmento: em 2000, a agropecuária era responsável por 82% dos GEE e, em 2007, 67%. Entre 2010 e 2014, houve aumento nos setores de transporte (11% para 14,5%) e produção de combustíveis e energia elétrica (4,5% para 9%).

Não há mais tempo a perder. A COP-21 será, talvez, a última grande oportunidade de os líderes mundiais se comprometerem com a contenção do aquecimento global. Do contrário, estarão condenando as gerações futuras a catástrofes.

OS PONTOS-CHAVE
1
Líderes de 196 países se reunirão durante 12 dias em Paris para tentar fechar um acordo sobre o clima
2
É consenso entre 95% da comunidade científica que o aquecimento global se deve à ação do homem
3
A partir de 1950, as emissões de C02 alcançaram níveis jamais registrados
4
O Brasil apresentará na COP-21 proposta em que se compromete a reduzir as emissões em 37%
5
Entre os setores que contribuem para as emissões, o de energia foi o que mais cresceu no país