Após passar quase 30 anos como deputado federal de baixo clero no Congresso, Jair Messias Bolsonaro, 63, toma posse nesta terça-feira (1º) disposto a imprimir uma nova ordem política, econômica e social no país.
Eleito o 42º presidente da República do Brasil, com quase 58 milhões de votos, Bolsonaro se ancora no discurso de que extirpou o PT do poder com a missão de implementar um governo de direita: liberal na economia e conservador nos costumes.
Seu principal desafio para cumprir as promessas de campanha —muitas delas revisadas ou abandonadas ainda durante o processo eleitoral— será estabelecer uma nova relação com os parlamentares.
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O novo presidente diz que vai acabar com a distribuição de cargos em troca de apoio político e constrói sua base no Congresso com as chamadas bancadas temáticas —evangélica, ruralista e da segurança pública— , porém, pouco efetivas em votações de medidas econômicas, por exemplo.
Crítico à imprensa, também promete inovar no diálogo entre o Planalto e a população, mantendo o uso intensivo de redes sociais, como fez durante a campanha.
Embora Bolsonaro e seus aliados tenham passado parte do governo de transição prometendo inovações no dia da posse —shows e até um inédito ato ecumênico foram cogitados—, a única mudança será um rigoroso esquema de segurança montado pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), a pedido do eleito.
O futuro comandante da pasta, general Augusto Heleno, alega que há riscos de atentado a Bolsonaro, que foi alvo de uma facada durante a campanha, em setembro. Os fatores de segurança e as condições climáticas deixam como fator surpresa o carro que será escolhido por Bolsonaro para o desfile: o tradicional Rolls Royce presidencial, de capota aberta, ou um veículo fechado.
Capitão reformado do Exército, Bolsonaro será o 16º militar a ocupar a Presidência da República do Brasil, o 3º eleito pelo voto direto. Escolheu para o primeiro escalão seis militares, representantes das três Forças Armadas.
Nesta terça, receberá a faixa de um presidente impopular. Michel Temer nunca recebeu o adereço das mãos de outro mandatário. Reeleito vice-presidente em 2014, o emedebista assumiu o Planalto em maio de 2016, após impeachment de Dilma Rousseff.
O presidente eleito quer se projetar internacionalmente como nova força da direita. Para isso, busca aproximar-se de gestões como a de Donald Trump, nos EUA, e de Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel que veio ao Brasil para a posse.
Na América Latina, quer diminuir a importância do Mercosul e romper com o modelo adotado pelo PT, que fez negócios e acordos com governos de esquerda, como os de Cuba e Venezuela. Na região, ele ensaia alianças com chefes de direita, entre eles os do Chile, Sebastián Piñera, da Argentina, Maurício Macri, da Colômbia, Iván Duque, e do Paraguai, Mario Abdo. Nessa sinalização, excluiu da lista de convidados da posse os presidentes da Venezuela, o ditador Nicolás Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega.
Na política interna, Bolsonaro chega ao poder sem o apoio formal de nenhum outro partido.
Embora a legenda à qual é filiado, o PSL, tenha conquistado a segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados, o número ainda é insuficiente para aprovação de projetos considerados cruciais para seu mandato, como a reforma da Previdência, que precisa de pelo menos 60% dos votos na Casa para ser aprovada.
Sua maior dificuldade, no entanto, vai se dar no Senado, onde conta com apenas quatro representantes de sua sigla, entre eles, FlavioBolsonaro, um dos seus três filhos políticos, e, portanto, deve enfrentar mais dificuldade para costurar apoios.
Dois de seus filhos —Eduardo e Flávio— foram eleitos para o Congresso e têm atuado como se fizessem parte da equipe ministerial causando mal-estar entre ministros e criando resistência entre investidores estrangeiros. Declarações de Eduardo nos EUA sobre a dificuldade de se aprovar a reforma da Previdência fizeram a Bolsa despencar e o dólar subir.
Para comandar uma agenda liberal na economia, escolheu Paulo Guedes, a quem deu superpoderes e entregou a ele o Ministério da Economia, que unificará Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior e Serviços.
Guedes assume a área com a promessa de zerar o déficit fiscal no primeiro ano de governo, embora a previsão seja de que o país fechará as contas devendo R$ 139 bilhões em 2019.
A estimativa é de um crescimento 2,5% do PIB e que o país tenha um contingente de mais de 12 milhões de desempregados. O guru de Bolsonaro pretende realizar reformas como a da Previdência e a tributária e reduzir o tamanho do Estado por meio de privatizações, mas ainda não apresentou um plano objetivo de nenhuma dessas medidas.
Bolsonaro se elegeu graças a um forte discurso antipetista, de moralização da política e combate à corrupção.
Como fiador para essa agenda, escolheu o ex-juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça. O ex-magistrado foi responsável por comandar a Lava Jato em Curitiba e pela sentença que levou o ex-presidente Lula à prisão.
Moro também assume uma superpasta, que unificará Segurança Pública e Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), importante órgão de combate à corrupção hoje ligado à Fazenda.
Apesar do discurso, a posse de Bolsonaro ocorre em meio a investigações do Coaf que respingam em sua família. Um relatório do órgão apontou que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro, efetuou movimentação atípica em sua conta no total de R$ 1,2 milhão.
Entre as transações consta uma transferência do ex-motorista no valor de R$ 24 mil para Michelle, futura primeira-dama. Bolsonaro nega irregularidades e diz que o repasse à sua mulher é referente ao pagamento de um empréstimo.
Para a cerimônia desta terça, 200 mil pessoas são esperadas na Esplanada dos Ministérios, num evento que deve ser comparado somente à primeira posse de Lula, em 2003, quando cerca de 71 mil apoiadores compareceram à capital para ver o ex-metalúrgico assumir o poder.
O capitão reformado do Exército chega ao Planalto com grande popularidade, conquistada ao longo de uma campanha informal que iniciou muito antes de 2018, ao percorrer o país lotando saguões dos aeroportos e fazendo carreatas anunciadas previamente por meio das redes sociais.
O amplo número de seguidores que ostenta hoje, na casa de milhões, foi conquistado com base em uma coleção de declarações alinhadas à direita.