Bill Friskics-Warren, The New York Times
Novembro de 2016 testemunhou a chegada do livro "Forever Words: The Unknown Poems” ("Palavras eternas: os poemas desconhecidos", em tradução livre), uma coleção póstuma de poemas não publicados de Johnny Cash, a primeira pessoa a ocupar posições nos halls da fama tanto da música country quanto do rock’n’roll. Os poemas de Cash - escritos a partir dos anos 40 - revelaram-se tão multifacetados e emocionalmente abrangentes quanto seu autor.
O álbum “Johnny Cash: Forever Words”, da gravadora Sony Legacy, confere aos versos do artista uma expressão ainda maior, ao recrutar um círculo de almas aparentadas - incluindo John Mellencamp, T Bone Burnett, Kacey Musgrave e a filha de Cash, Rosanne - para apresentar uma seleção desses poemas transformados em canções.
O filho de Cash, John Carter Cash, atuou como um dos produtores do projeto, juntamente com Steve Berkowitz, que trabalha na Sony. Para Cash, ouvir as palavras de seu pai ganhando vida em canções compostas por outras pessoas foi como poder se comunicar com e ter a chance de colaborar juntos novamente.
“Quando o livro de poemas foi lançado, eu ouvia melodias”, afirmou. “Meu pai não estava aqui para cantar essas melodias, mas elas estavam lá. Ouvi a voz dele outra vez - e tive certeza que haveria por aí artistas que o amavam e poderiam fazer jus aos seus versos.”
O álbum começa de maneira sublime, com Kris Kristofferson entoando os versos de “Forever" (Eternidade), um poema de oito versos escrito por Cash em 2003, semanas antes de sua morte.
“Você me diz que terei de morrer / Como as flores que gosto de ver / Nada restará do meu nome / Nenhuma lembrança da minha fama”, recita Kristofferson em um tom grave e arranhado. Então, enquanto Willie Nelson dedilha levemente em seu violão os acordes de “I Still Miss Someone”, sucesso de Cash de 1959, Kristofferson continua e assegura: “Mas as árvores que plantei / Ainda são jovens / E as canções que cantei / Ainda serão cantadas.”
A naturalidade com a qual Kristofferson e Nelson adentram o poema de Cash é esperada, dadas as antigas amizades que eles mantinham, além do fato de terem integrado a banda Highwaymen, de estrelas do country “fora da lei”.
Alisson Krauss afirmou que compôs sua canção - “The Captain’s Daughter” (A filha do capitão), um poema apresentado no álbum como uma balada em estilo anglo-celta antigo - como se estivesse criando algo novo, não como se estivesse completando um trabalho inacabado.
Um olhar igualmente inventivo guiou Elvis Costello em sua recriação jazzística do poema “I'll Still Love You” (Seguirei te amando). “Olhei a letra e, antes que eu pudesse domar o pensamento, a melodia apareceu na minha cabeça”, afirmou Costello por e-mail.
“As palavras do meu pai atraíram os artistas”, disse Carter Cash a respeito da inspiração para a música composta para o projeto. Grande parte do material foi gravada no Cash Cabin Studio, que seu pai construiu em Hendersonville, Tennessee, quatro décadas atrás.
Carter Cash ressaltou a interpretação de Brad Paisley de “Gold All Over the Ground” (Ouro espalhado pelo chão), adaptada a partir de versos românticos que seu pai escreveu à mulher, June Carter Cash. A canção é “nota por nota o que saiu do violão no momento que ele leu o poema”, disse o filho. “Eu estava lá. Estava sentado bem ao lado dele.”
Todos os artistas do álbum têm uma forte identificação com o poema que escolheram para musicar, mas talvez nenhum deles como o vocalista do Soundgarden, Chris Cornell. É difícil desvencilhar a contribuição dele, “You Never Knew My Mind” (Você nunca conheceu minha mente) de seu suicídio, em 2017.
“Também tive meus momentos sombrios, assim como meu pai teve e como Chris teve”, disse Carter Cash.
O cantor country Jamey Johnson encerra o álbum com um arranjo para “Spirit Rider” (Cavaleiro espiritual), um poema que evoca o tipo de imortalidade que Cash aspira em “Forever”.
“Se você gritar, talvez eu consiga te ouvir no vento”, começa Johnson. “E se as montanhas ecoarem seu amor por mim / Acene com seu coração / Que voltarei cavalgando.”
“A música de Johnny Cash tem - e continua a ter - uma teimosa capacidade de permanência”, afirmou Johnson. “E isso ocorre porque ela é uma pregação, algo que fala às nossas almas. É por isso que sempre retornamos a ela. A música dele nos alimenta.”