O companheiro Arlindo Chinaglia, do PT paulista, acreditava ter 160 votos garantidos quando resolveu que só faltava o apoio militante do Palácio do Planalto para voltar à presidência da Câmara dos Deputados. Animada com a ideia de livrar-se do desafeto Eduardo Cunha, do PMDB fluminense, Dilma Rousseff determinou a imediata entrada em campo de seis atacantes do primeiro escalão.
Desde quarta-feira, movimentaram-se à luz do dia e agiram nas catacumbas os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) Pepe Vargas (Relações Institucionais), Gilberto Kassab (Cidades), Ricardo Berzoini (Comunicações), Antonio Carlos Rodrigues (Transportes) e George Hilton (Esporte). O resultado da ofensiva foi conhecido neste domingo: a disputa equilibrada virou goleada desmoralizante.
Com 130 votos, Chinaglia não chegou sequer à metade dos 267 obtidos pelo vitorioso Eduardo Cunha. Os 100 eleitores de Júlio Delgado, do PSB mineiro, comprovaram que a oposição seguiu a orientação do senador Aécio Neves. A bisonha performance do preferido do Planalto, portanto, deve ser inteiramente debitada na conta da base alugada.
Eduardo Cunha, convém ressalvar, nada tem a ver com o Brasil decente. Mas o horizonte fica menos sombrio a cada fiasco do bando de farsantes acampado 12 anos no coração do poder. Embora o senador Renan Calheiros continue na chefia da Casa do Espanto, o Congresso não está dominado. Ficou mais complicado abortar CPIs. Na Câmara, Dilma deixou de ser inimputável.
Uma presidente reeleita há pouco mais de três meses deveria ter força de sobra para instalar qualquer um no comando da Mansão dos Horrores. O naufrágio de Chinaglia confirma que o início do segundo mandato tem cara de fim de feira. Dilma logo entenderá que o principal objetivo a perseguir é permanecer no emprego.
Não será fácil.