sábado, 28 de fevereiro de 2015

Camargo Corrêa diz que não participou de acordo de delação premiada de seus executivos

Germano Oliveira - O Globo

Segundo a empreiteira, documentos foram tratados com o MPF individualmente


A construtora Camargo Corrêa divulgou nota neste sábado dizendo que não participou do acordo de delação premiada ao qual recorreram seus executivos Dalton Avancini, presidente da companhia, e Eduardo Leite, vice-presidente. A empreiteira diz que só "tomou conhecimento do acordo de seus executivos pela imprensa". Para a Camargo Corrêa, os dirigentes "firmaram acordos individuais de colaboração com o Ministério Público", insinuando que eles só tomaram essa decisão devido às pressões psicológicas que sofrem pelo fato de estarem presos na carceragem da Polícia Federal.

"A companhia lamenta que tenham sido submetidos a longo período de prisão, antes do julgamento do caso. Embora não tenha participado do citado acordo, a companhia permanecerá à disposição das autoridades para o que for necessário e sanará eventuais irregularidades, aprimorando a governança administrativa para seguir contribuindo com o desenvolvimento do país", diz nota da Camargo Corrêa divulgada neste sábado.

Na sexta-feira, Dalton Avancini e Eduardo Leite, conhecido por "Leitoso", firmaram acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba. Eles passarão à condição de delatores, ou colaboradores com a Justiça nos processos que investigam a corrupção na Petrobras.

Eles passam a ser os primeiros integrantes de grandes empreiteiras a colaborarem com a Justiça para desvendar as irregularidades em obras da Petrobras. Outro dirigente da Camargo Corrêa, João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da empreiteira, também se ofereceu como delator, mas o MPF recusou sua oferta, por considerar que ele não vinha contando o que sabia sobre as irregularidades na relação da empresa com a Petrobras.

Para serem aceitos como delatores, Dalton Avancini e Eduardo Leite pagarão uma multa de R$ 5 milhões cada um. Eles já são réus na Justiça Federal do Paraná, acusados de terem pago cerca de R$ 40 milhões em propina para obter contratos com a Petrobras em obras como a Refinaria Abreu e Lima, no Pernambuco, e na modernização da Refinaria Presidente Vargas, no Paraná.

Com o acordo de Avancini e Leite, o MPF passa a contar com 15 delatores. Os principais acordos fechados até agora foram as confissões do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que permitiram dar início ao processo investigação das fraudes que lesaram a maior estatal brasileira, que sofreu desvios de aproximadamente R$ 30 bilhões.

ADVOGADO ABANDONA DEFESA DE DIRETOR DA CAMARGO

O advogado Celso Vilardi, que defende o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse neste sábado que vai renunciar à defesa de seu cliente, por não ter participado de sua decisão de optar pela delação premiada.

— Não segunda-feira vou formalizar a desistência na defesa de Dalton Avancini, transferindo essa opção para o advogado Pierpaulo Botini, que participou do acordo de colaboração com a Justiça. A partir de agora, vou defender apenas João Ricardo Auler, que não optou pelo acordo de delação premiada — disse ao GLOBO o advogado Vilardi.

Vilardi disse que não iria “emitir juízo de valor” sobre a decisão de seu cliente de ter optado pela delação premiada e que só o fará depois de tomar conhecimento dos termos do acordo.

Já o jurista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Correa, disse que também não concorda com “o instituto da delação premiada”, mas que continuará a defender seu cliente no processo.

— A decisão de colaborar com a Justiça foi exclusiva do meu cliente, que levou em consideração uma redução de pena e até a perspectiva de obter sua liberdade. Mas não vou participar desse processo de delação, que ficará a cargo de outro advogado, o Marlos de Oliveira, de Curitiba. Entendo que meu cliente não optou pelo processo de delação para entregar outras pessoas, mas no sentido de colaborar com a Justiça. Aliás, ele já entregou farta documentação à Justiça para colaborar com as investigações. Ele não pretende apontar outros culpados — disse Mariz de Oliveira ao GLOBO.