Germano Oliveira - O Globo
Dirigentes do PSDB se reuniram nesta sexta-feira para discutir política econômica do governo
Diante dos comentários de que haverá nomes de líderes tucanos na lista do escândalo de corrupção na Petrobras que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, encaminhará na semana que vem ao Supremo Tribunal Federal (STF), dirigentes do PSDB reunidos na tarde desta sexta-feira, em São Paulo, desconversaram. Sobre a possibilidade de que seu nome possa estar na lista, o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG), disse que quem poderia responder a essa pergunta seria o próprio Procurador-Geral.
— Pergunte ao Janot — limitou-se a dizer Aécio aos jornalistas que o entrevistavam na porta do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), onde a cúpula tucana fez uma reunião para discutir aspectos da conjuntura da política e da economia. Além de Aécio e Fernando Henrique, participaram do encontro os senadores José Serra (SP), Aloizio Nunes Ferreira (SP), Tasso Jereissatti (CE) e Cassio Cunha Lima (PB), líder do PSDB no Senado.
Diante da insistência dos repórteres sobre a presença de algum tucano na lista de Janot, Aécio disse que a preocupação maior do partido é que o Ministério Público e o STF façam sua parte.
— Nós estamos mais preocupados como homens públicos é com a fragilidade crescente do governo.
Perguntado se temia que na lista de Janot consta-se algum tucano, o senador José Serra também foi reticente:
— Vamos aguardar a semana que vem.
Falando sobre as ameaças a Janot, Aécio disse considerar importante que o governo reforce a segurança do Procurador-Geral:
— Quando há preocupação como essa, cabe às autoridades, ao Ministério da Justiça e à PF protegerem o Procurador-Geral.
Aécio disse não ter informações de que parlamentares que constarão na lista de Janot poderiam estar sendo avisados antes da divulgação da lista.
— Não sei qual será o procedimento, mas confio que o Ministério Público Federal saberá agir de forma adequada e isenta, com todas as prerrogativas constitucionais. Apesar as dificuldades do Brasil, felizmente as instituições continuam funcionando e nós do PSDB seremos guardiões disso e sempre estaremos vigilantes para que não haja constrangimento às instituições, que tem permitido o Brasil avançar, entre elas o MPF e o poder judiciário.
Ao final da reunião, apenas Aécio e Serra deram entrevistas. Aécio disse que a cúpula tucana foi convocada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, que estaria preocupado com o “momento delicado que vive o Brasil”, tanto do ponto de vista econômico, como político.
— Nossa intenção é de garantir a solidez das instituições, fazer o embate político dentro do Congresso Nacional, respeitando os limites da democracia. A preocupação crescente é a mesma da sociedade brasileira em relação ao quadro econômico. A cada dia o governo toma novas medidas que podem agravar o quadro recessivo e o quadro inflacionário. Com as últimas medidas adotadas, o governo está mudando o slogan de seu marqueteiro, um país para todos, que está virando o país da mentira. Com as medidas adotadas hoje, a presidente desdiz tudo o que afirmou durante a campanha eleitoral, de que não haveria aumento de impostos e supressão de direitos —disse Aécio Neves.
Para Aécio, a MP que aumenta as alíquotas da folha de pagamento para as empresas, anunciadas nesta sexta-feira, agravará o quadro recessivo da economia.
— É um governo de zigue-zagues. Ora o governo oferece condições para o desenvolvimento da economia e ao mesmo suprime. Essa medida terá efeitos nocivos para a economia — disse Aécio.
Serra classificou de "recessiva" a MP que aumentou as alíquotas da folha salarial para as empresas.
— A MP vai aumentar o imposto do faturamento das atividades produtivas, que já atravessam um quadro muito difícil. Ela propõe que a alíquota de 1% sobre o faturamento e que substitui a contribuição previdenciária da folha seja elevada para 2% e o que era 2% vai para 4%. Isso, num quadro como o que vivemos hoje, vai incentivar ainda mais o desemprego e vai estimular a inflação também, porque vai direto no preço das mercadorias. Além disso, viola as promessas do governo na época das desonerações. Estamos cada vez mais sem governo - disse Serra.
Sobre as manifestações de rua marcadas para o próximo dia 15 pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, tanto Aécio, quanto Serra, deixaram claro que elas serão da sociedade organizada, sem a participação dos partidos, mas considera democrático que elas aconteçam.
— Não é uma manifestação partidária, mas faz parte da democracia. Temos que ter o cuidado de estabelecer esse limite. As pessoas estão indignadas com a mentira e com a desordem que tomou conta do governo e com o quadro recessivo na economia, com o crescimento da inflação e com a corrupção deslavada que é a marca principal desse governo —disse Aécio.
Aécio considerou "lamentável" declaração do ex-presidente Lula de que "o Stédile pode por seu exército nas ruas".
— Ele não contribui em nada para que o país supere esse quadro extremamente grave. Não podemos colocar o país em confronto.
O tucano também considerou "democrático" que o Clube dos Militares se pronuncie sobre a crise, como acontece agora.
— Vivemos num estado de Direito e de liberdade para que todos se manifestem. Esperamos que as manifestações ocorram em paz e com absoluta tranquilidade, mas não podemos vê-las como ameaça. Elas são mais fruto dessa indignação crescente da sociedade brasileira em relação ao engôdo que foi a campanha da presidente da República, que muda seu slogan para "Brasil, país da mentira" — repetiu o presidente do PSDB.